Pena que Alvin Toffler (1928/2016) não tenha assistido.
Ele conjuntamente com Heidi Toffler, estudaram o Futuro, permanentemente. E ambos tiveram muita influência social e cultural há umas décadas atrás.
Por exemplo, nas mudanças estruturais levadas a cabo por Deng Xiaoping, que governou a China dos idos de 80 e 90. Fazendo a China chegar à 2º e 3º Revolução Industrial ao mesmo tempo, com a sua abertura do país ao mundo e á modernidade. "Um país, dois sistemas", foi o nome que deu à nova realidade chinesa que ainda hoje conhecemos, onde o Comunismo (a ditadura no poder) e o Capitalismo (na economia) podiam finalmente viver juntos. A partir de zonas geográficas pré determinadas que foram progressivamente abertas ao mundo global a china foi fazendo sua abertura ao mundo.
Esta transição tecnológica, porque é sempre a tecnologia que nos faz mudar, já teve muitos nomes: Terceira Vaga, 3ª Revolução Industrial, Revolução Digital, etc.
Mas se o nosso modo de vida já estava a mudar (habitação, trabalho, família, mobilidade, logística, informação, economia e política), quase tudo continuava muito preso ao passado.
Há muito anos que tínhamos tudo para realizar a mudança...mas verdadeiramente, esta não acontecia. Já tínhamos condições para o tele-trabalho, mas ele tardava a generalizar-se, na escala que poderia.
Por exemplo, já há muitos anos que todos nos perguntávamos porque é que a escola ainda continuava a centrada na sala de aula, na divisão por idades, nas turmas, no professor que expõe, em vez do que propõe, na matéria expositiva, etc., etc.?
Porque como Toffler identificou, a escola de massas do século XIX, floresceu em todo o mundo, em primeira instância, porque os pais (em idade de trabalhar) não podiam ficar em casa a cuidar deles. Tinham de ir trabalhar para as fábricas. Primeiro os homens, depois as mulheres. A função "deposito", realizada pela escola, foi fundamental para libertar os adultos para o trabalho. A vontade de alfabetizar também. Mas sem a tecnologia que permitiu fazer a revolução industrial, nada disto teria tido força para andar. O "educar" as crianças foi também indispensável para formatar as massas para o mundo novo que estava, então a surgir. Cumprir horários, obedecer em massa, vestir igual, pensar igual, agir igual, era a melhor forma de alinhar o "povo" para a linha de montagem que lhes iria dar o sustento. Curiosamente a campainha, ou sirene, que caracterizou a marcação dos tempos de entrada e saídas, na Fábrica, já praticamente só subsiste na primeira delas: a escola.
Portugal, que teve uma Revolução Industrial muito tardia e insípida a pretenção da escolarização universal das crianças foi, durante um século, uma ficção alimentada por uns quantos estrangeirados ou letrados progressistas. E, só a partir dos anos 60, do século passado, quando verdadeiramente o país começou a deixar de ser uma sociedade agrária, é que a generalização do ensino se consumou.
Assim a Revolução Industrial foi o "motor" de maioria do hábitos que ainda hoje subsistem. Mas já tínhamos tudo para a mudança mas ainda não estava testada. Os "tempos Corona" vão permitir, a todos, vermos na prática o que nos vai a acontecer. Por sermos obrigado a mudar.
O DN, convocou uns quantos futuristas para pensarem neste assunto e tentar antecipar o "Novo Normal" como lhe chamou.
A estas que se seguem acrescentava:
1 - a mudança no ensino;
2 - a mudança nas cidades e no território;
3 - a mudança na mobilidade.
"Estes são alguns dos prognósticos que os futuristas fazem para o mundo pós-coronavírus:
1. Estados Unidos da Europa
A crise obrigará os países da União Europeia a colaborarem melhor e mais depressa, numa estratégia vital de adaptação e sobrevivência. A criação de um modelo "Estados Unidos da Europa" vai tornar-se mais consensual e a questão do Brexit desaparecerá da discussão.
Segundo Leonhard, "está claro para toda a gente que temos de colaborar ou arriscar a morte - a escolha é nossa." O futurista chama a esta nova realidade "hiper-colaboração" e acredita que ela poderá levar a Europa a emergir como nova líder global nos próximos três anos por causa da crise. O mesmo fenómeno de colaboração mudará a forma como a comunidade científica global trabalha.
2. Início do fim dos combustíveis fósseis
"Pela primeira vez na modernidade, vemos o que acontece quando queimamos menos combustíveis fósseis", e isso far-nos-á pensar. Leonhard prevê que a procura por viagens de avião, turismo e outras indústrias que consomem muitos combustíveis fósseis irá cair de forma permanente e que os investidores fugirão delas. O investimento será redirecionado para energias sustentáveis.
3. Indústria das companhias aéreas será diferente
Em especial na cultura das viagens haverá uma mudança dramática, antecipa Gerd Leonhard. O mundo acordará para as conferências, formações e reuniões remotas, mesmo após o fim das quarentenas. A plataforma Zoom será o novo YouTube, com "zoomlebrities". As companhias aéreas vão investir em aeronaves neutras em carbono. As conversas com hologramas vão tornar-se frequentes.
Thomas Frey acredita que muitas empresas não voltarão a alocar orçamentos elevados para viagens aéreas, porque perceberão que podem operar com menos deslocações e reuniões cara a cara.
4. Maior transição laboral da História
Frey diz que haverá uma transição laboral maciça, com muitas pessoas despedidas a mudarem de carreira e a abrirem as suas próprias empresas. Segundo ele, "esta ronda de perda de empregos seguida de recuperação de trabalho será muito diferente de tudo o que vimos no passado".
5. Tecnologia mais poderosa
As mudanças radicais no teletrabalho que estamos a experimentar vão ter efeitos permanentes. Ao mesmo tempo, tornar-se-á ainda mais valiosa a interação entre humanos, devido à experiência de isolamento social por que todos estão a ser obrigados a passar.
A importância da tecnologia nesta crise é tanta que todo o sector aumentar o seu poder. "Toda a gente em todo o lado está a fazer tudo online, desde encomendar comida a ter aulas de yoga." O lado negativo, segundo Gerd Leonhard, ºe que a tecnologia "tornou-se a nova religião" e haverá um debate ruidoso sobre a ética digital. O futurista acredita que isto levará a uma regulamentação mais apertada com o objetivo de garantir que os humanos e o planeta beneficiam do progresso tecnológico. "Estamos a entrar num novo Renascimento".
O futurista também prevê que a vigilância estatal por meios tecnológicos irá tornar-se o novo normal após as medidas extraordinárias que foram tomadas para controlar esta pandemia.
6. Capitalismo extremo equivale ao caos
Os Estados Unidos e o Brasil vão mergulhar em "guerras civis digitais" em resultado da crise, que encontra nos dois países "governos lamentavelmente mal preparados, total falta de planeamento e má gestão dramática do financiamento para saúde." Este mix terá resultados explosivos, impulsionados pelas redes sociais e "ativismo digital."
Notoriamente, Gerd Leonhard explica que a falta de investimento nas infraestruturas públicas de saúde e as ajudas tardias a quem irá precisar de ajuda levarão a uma "profunda agitação social." O futurista vaticina mesmo que a situação pode escalar para "atos de desespero" que levem a uma suspensão da democracia nos Estados Unidos.
7. Fim dos políticos populistas
A pandemia porá um travão no crescimento do populismo, criando oportunidades para os Millennials e para as mulheres na política, prevê Gerd Leonhard. A espiral de crise nos Estados Unidos deverá enterrar as possibilidades de reeleição de Donald Trump em 2020, e seguir-se-ão o Brasil e Reino Unido em 2021, talvez também o Irão e Turquia.
A ideia é que o populismo não sobreviverá à pandemia porque "é agora abundantemente claro que voltar ao passado é uma receita para o desastre quando todos os novos desafios são desconhecidos, isto é, vêm do futuro."
8. Mudanças na agricultura
O isolamento levará muitos consumidores a repensarem a necessidade de certas categorias de alimentos, como a carne. A crise levará a discussões sobre a auto-suficiência energética do sector da agricultura e ao aumento da procura por produtos locais. "Em 2021 veremos um aumento exorbitante do vegetarianismo e será introduzido um imposto de carbono sobre a carne."