domingo, junho 18

Dia dos “Milagres”


Eles acontecem todos os dias.
Hoje, 17:00- telemóvel toca. Era o meu tio Jacinto Pisco, um dos irmãos mais novos do meu pai. 1 de 12. Ainda estão 9 vivos.
Tio - Paulinho é o tio estou em Setúbal, no Lidl, está tudo bem?
Eu - Tio, qual Lidl?
Tio - Não sei, vou perguntar… S Julião.
Eu- Isso é ao lado da minha casa… vou já aí ter…
Não via o meu tio há uns anos. Teve um AVC há algum tempo e ainda não o tinha visto, desde então. Sobreviveu com algumas sequelas. De vez em quando falamos ao telefone. Ele é o ligante da família. Vai telefonando a uns e a outros. Mantendo a família informada.
Já é a segunda vez que me faz esta surpresa. Há uns anos, da mesma forma inesperada telefonou a dizer que estava em Setúbal. “Queres vir ter com o tio?”. Eu larguei tudo e fui. Tinha vindo, tal como hoje, fazer a entrega de comida a um pessoa necessitada, trazia um amigo com ele e os dois, ligados à Rádio Amália, fazem com esta Rádio solidariedade.
Este meu tio é ele próprio um milagre. Ora vejamos, assinalando só três episódios da sua vida.
#1 - É gémeo com uma irmã (Tia Teresa), os penúltimos da linhagem. Quando nasceu já a minha avó, com cerca de 1,45m de altura, tinha tido 11 filhos ( chegaram 12 à idade adulta). Mas nunca gémeos.
#2 - É herói de guerra medalhado. Foi voluntário para a tropa (por admiração ao meu pai o seu irmão homem mais velho, que era, à época militar de carreira) e acabou na guerra do ultramar, em Moçambique. No “mato” foi alvo de uma emboscada com um rebentamento de mina que matou um dos colegas tendo o outro ficado gravemente ferido. Ele com estilhaços pelo corpo todo, perdeu metade de uma orelha. Sem comunicação, não foi capaz de deixar o colega ferido para trás, tendo-o transportado às costas até à sua unidade. A uns largos kms de distância. Debaixo de sol. Depois de largar o colega em segurança ainda foi de helicóptero identificar o lugar onde tinha acontecido o incidente. Só depois foi hospitalizado.
#3 - É dador de Sangue. Voltou da guerra casou e foi para Angola, onde estava o meu pai, e teve dois filhos. Apanhou aí o 25 de Abril e com isso a descolonização. Teve de fugir às ameaças sobre os “colonos” brancos, com a mulher e os filhos. Pelo mato até à África do Sul. Este, em si, já podia ser um milagre. Mas não é deste que vos quero falar.
Retornado a Portugal trouxe, para além de uma medalha, ferimentos de guerra, a família e o hábito de beber. Muito. De tal forma que quando eu era pequeno o meu tio Jacinto era o “bêbado” da família. E é bom de se saber que na família Pisco os homens tinham o hábito de beber bastante. Trabalhou sempre, criou os filhos, manteve a mulher e foi dador de sangue. Sabia desde o dia da mina que o sangue nos hospitais fazia a diferença.
Um dia ao ir dar sangue, disseram-lhe que não valia a pena voltar a dar mais. Álcool detetado no sangue tornava-o não utilizável.
Desde esse dia o meu Tio Jacinto Pisco tornou-se um homem sóbrio. O milagre que é a sua generosidade resgatou-o da condição de álcoolico.
Talvez, este meu Tio também me tenha ajudado a acreditar em milagres.
O facto de o meu Tio me ter telefonado hoje, neste dia, foi apenas mais um dos milagres que me estão a acontecer. E em que eu teimo em acreditar.
Obrigado Tio Jacinto Pisco.


Publicado originalmente no Facebook:  no dia 08/06/2023

https://www.facebook.com/paulo.pereira.pisco/posts/pfbid0rSbED895njc7YVvwRETSRJKaPir6mnu97oXxVjcWL5pvvuuhkbQpsr6bWG3pns3Rl

sexta-feira, outubro 14

O que marca o desenvolvimento das cidades (1)

<<(...) a dimensão das cidades dependeu dos meios de transporte e de “armazenamento” das pessoas, em particular de construção em altura, de gestão urbana dos fluxos e dos serviços (redes viárias, esgotos, água, etc.), bem como as exigências de proteção e de controlo.

 

A história das cidades foi assim ritmada pela história das técnicas de transporte e armazenamento de bens (b), de informações(i) e de pessoas (p)>>


François Ascher in "novos princípios do urbanismo, seguido de novos compromissos urbanos, um léxico", 








sábado, outubro 3

Muito bom!!! Ainda está (quase) tudo por fazer, mas é um passo muito importante.

A Península de Setúbal, parece ter (finalmente) massa critica, que a defenda. Alterar as dificuldades no acesso aos Fundos de Coesão a que os diversos Quadros Comunitários têm afastado da economia desta região, por fazer parte da Nomenclatura das Unidades Territoriais II (NUTII) em conjunto com a restante Área Metropolitana de Lisboa (AML), o que tem vindo a tornar a sua região Sul do Tejo cada vez mais pobre e dependente da margem Norte, em termos de emprego. 


Hoje, 3 de Outubro, no Caderno de Economia do Expresso temos dois textos jornalísticos que dá conta do trabalho que Associação da Indústria da Península de Setúbal (AISET) tem vindo a fazer. É certo que que muitos há muitos anos têm vindo a falar nisso com muito afinco, onde destaco o Movimento Pensar Setúbal, e mais recentemente, nas Eleições Legislativas de 2019, os candidatos a deputados pelo PSD de Setúbal, pela voz de Nuno Carvalho, trouxeram o tema para a agenda. Mas se os movimentos cívicos e os líderes políticos regionais, não forem acompanhados pelo tecido económico e empresarial de pouco vale.




A AISET, pelo seu porta voz Nuno Maia, vem defender muito atempadamente duas coisas:

 1- Que o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR – 2021/26) compense já a Península de Setúbal, alocando 10% dos fundos de recuperação, com trabalhos de casa já feito onde são identificadas necessidades de investimento concretas para o tecido empresarial da região;

 2- Que o governo, contrariamente à mensagem que se tem feito passar, pode alterar as NUTS II e autonomizar a Península de Setúbal, até 1 de Fevereiro de 2022.  

Como existe um amplo consenso político partidário e empresarial na região sobre a desadequação desta realidade, resta começar-se a tomar já as mediadas legislativas nesse sentido. Ao Ministro do Planeamento, Nelson Souza, assim coma a todo o Governo e Municípios Locais, exige-se que ajudem e força a este imperativo Regional e Nacional. Porque uma Península de Setúbal mais desenvolvida cria uma AML mais equilibrada, económica e social e ambientalmente, fazendo um País melhor. Esta é uma causa que vale apena exigir a quem nos representantes apoiar, porque é justa para as gentes da Região e útil para Portugal





 #nutsIIsetubalmelhor

domingo, junho 7

A propósito da descrença e da esperança.

Filipa Roseta escreveu este artigo, Elon Musk e Gorge Floyd, a inovação e a cor da pele, assertivo e que comento assim:

Vivemos, nas últimos décadas, uma ideologia de fim da história, e descrença na humanidade. A consciência dos recursos finitos, tornada clara com o choque petrolífero de 1973, que colocou um fim no optimismos “desenvolvimentista”, que vinha desde o fim da segunda guerra mundial e a iminência de um colapso do mundo com uma guerra atômica que ameaçava destruir toda a humanidade, nos anos 80, iniciaram um ciclo de descrença na humanidade. Esse sentimento alimenta uma certa esquerda, que desiludida com a queda do “farol” da humanidade, no colapso definitivo da URSS e com ela o falhanço do “Comunismo Real” agora só se agarra às causas da promoção de uma cultura, onde a luta pelo direito à “morte” se tornou mais importante que o direito à vida. E onde o que interessa é conservar os “direitos” muitos deles anacrônicos e desadequados à realidade atual, onde a Esperança média de vida está a caminhar para os 90 anos.

Não sendo esse mundo passível de “conservação” pela realidade da vida que continua, com muitos velhos e poucos novos em alguma zonas do planeta, este pessimismo tomou conta de muitos. Nas sociedades “ocidentais” ter filhos passou a ser um “luxo” em vez de uma Alegria. Sem Esperança, mesmo os mais moderados que não vendo soluções reais para os seu problemas reais, votam nos Bolsonaros , deste mundo, não por convicção mas fartos de quem não lhes dá nada, nem Esperança. 

O que aconteceu a Floyd nos EUA, é inadmissível, mas a cultura de ódio racial, não se consegue resolver sem esperança de que o que o homem tem de melhor pode vir ao de cima para além da cor da pele. 


Musk anda ao arrepio de toda esta descrença e, tal como outro meu herói, Leonardo da Vinci, não olha para os “cadáveres” deste mundo com medo, mas como oportunidade de salvar e melhorar a humanidade no seu mundo. Este visionário do século XXI, enquanto toda esta descrença acontece, oferece-nos novamente o caminho. Se a nossa terra já não chega vamos para Marte. Mas a epopeia continua a humanidade vai prevalecer.

 Obrigado Filipa Roseta

quinta-feira, maio 21

Agarrado a Costa, Marcelo arrisca-se a não dispensar na oral e isso pode mudar tudo

Marcelo tem muitas qualidades que aprecio. Foi, e é o meu Presidente. 

Mas o seu objetivo é sempre ser o melhor. Desde pequenino. E quer ter melhor votação que Mário Soares na 2ª Volta. Mas a sua mania de querer ter 20 (vinte) a tudo,  colocando a sua "nota" à frente do interesse nacional, vai-lhe trazer trazer alguns dissabores. O País devia ser a sua única prioridade. Não a maior votação. A votação é o resultado de uma acção relevante, não de uma acção interesseira.

Costa quer ter o Presidente na mão e este permite que assim seja, em troca do apoio dos Socialistas, à sua reeleição. Mas tudo pode vir a ser diferente.

André Ventura tentará capitalizar a extrema direita. Marisa Matias, fará mais uma vez a simpática da extrema esquerda, faltando ainda saber o candidato de serviço, o Sr. 2%, do PCP. Desculpem CDU. 

Ana Gomes não poderá deixar de ir em frente, depois do noivado declarado entre Costa e Marcelo, na Ford Volkswagen, a sua esquerda obriga. 

Mas se nos extremos estamos assim, falta o centro. O que parecia ser o quintal de Marcelo está a deixar de o ser. No centro-direita a atitude do presidente, que a dava como garantida, começa a mudar.

Mesquita Nunes, parece querer, mas hesitar. Surge agora a hipótese de Miguel Albuquerque. No caso do líder da Madeira avançar, ou outro como ele do lado do PSD a coisa pode piar mais fina.

A brincar com coisas sérias e com o País a azedar nos próximos meses, o presidente, ao ligar o seu destino a Costa, pode ir arrastado no seu previsível plano descendente. 

Talvez assim arrisque perder a melhor nota e não conseguir dispensar na oral, tendo que ir à segunda volta. E isso pode mudar tudo.







quinta-feira, abril 23

Memórias de Adriano

 continua a ser o meu livro de referência . 

Comecei este Blog a 2 de Novembro de 2003. 

E dei-lhe este nome. Não faria hoje diferente





"Como toda a gente, só disponho de três meios para avaliar a existência humana:

 o estudo de nós próprios, o mais difícil e o mais perigoso, mas também o mais fecundo dos métodos; 

a observação dos homens, que na maior parte dos casos fazem tudo para nos esconder os seus segredos ou para nos convencer de que os têm;


os livros, com os erros particulares de perspectiva que nascem entre as suas linhas."

in Memórias de Adriano de Marguerite Yourcenar

domingo, abril 19

Governo versus Oposição – o papel dos políticos e dos partidos em tempos de COVID-19






O COVID-19, colocou todos, fora de pé. Quase ninguém estava preparado para isto, é um facto. O Sistema Nacional de Saúde não estava de certeza, mas isso já todos sabíamos, muito antes da Pandemia. O Primeiro-Ministro tinha-o reconhecido ao ter dito que seria a prioridade para estes quatro anos de legislatura. Mas atrever-me-ia a dizer que nenhum dos grandes Sistemas Públicos o estava: Da Educação à Segurança Social. Do Estado às Autarquias Locais. Mesmo as empresas: Das grandes às micro, pequenas e médias. Estas últimas, obrigadas a fechar, nem preparar ou adaptar-se puderam. No entanto, parece-me que a seguir aos médicos, enfermeiros e restante pessoal da saúde, os portugueses, precisam de Políticos, para os conduzirem e de medidas para lhes tornarem a vida menos difícil e possível. Boas medidas de preferência. 


 Como está o Sistema Político a reagir? Como estão os executivos e as oposições? É isso que nos interessa agora refletir. Em situações de Crise, ou como chamámos agora, em Estado de Emergência (EE), devem-se dar condições aos Governos, Central e Regionais, às Câmaras Municipais ou Juntas de Freguesia, para fazerem o que é suposto. A urgência da situação torna-o indispensável. Mas significa isto deixar tudo nas mãos dos executivos, ficando as oposições a assistir, ou a resguardar-se? 



Penso que não. Agora, mais do que nunca, não. Porque numa situação nova, como esta, e com as Liberdades Condicionadas, pelo EE é necessário ter todos alerta, porque a critica útil é ainda mais necessária nesta situação em que os Poderes Executivos estão reforçados. E o que está por fazer é ainda tanto. Apoiar os executivos, não significa deixar de apontar o que está mal feito, denunciar a manipulação e incompetência e proteger os que mais precisam. E são muitos e vão ser cada vez mais. Vamos assistir, nos próximos tempos, ao que nunca imaginámos. E a muitas mortes. Este é só um dos aspetos, em que, sublinhe-se não deixaram participar mais de ONZE pessoas por funeral, não esquecer. O mais difícil vão ser os vivos, sem suporte, sem emprego, sem dinheiro e com fome. A doença foi considerada prioritária mas agora será a fome a protagonista. A miséria em Portugal e em Setúbal já era muita, antes de 2008. Depois veio a quase “bancarrota” e esta aumentou. Durante o que se convencionou chamar, período da "Troika". Aliviou nos últimos anos, mas estava lá, está lá. Foi encoberta por muita propaganda do Governo e por uma extrema esquerda, oportunisticamente silenciada, durante quatro anos, e que agora se prepara, oportunamente, para tirar dividendos da miséria, sem nada de construtivo acrescentar. 



Enumero de seguida alguns dos grupos que me parecem mais frágeis e que serão ainda mais depois do EE, mantido até início de maio:

Os velhos dos trezentos euros de reforma (que sobreviverem); 

As crianças de famílias em dificuldades, especialmente as monoparentais, sem apoio familiar e, com as mães no desemprego. Não esquecer que as mulheres, especialmente as menos qualificadas, costumam ser o elo mais frágil, em particular em tempos de crise. Não esquecer que sem escola (até ao 9ºAno) temos aos escalões A e B sem duas refeições gratuitas, e em Setúbal são muitos; 

 Os jovens sem suporte familiar e que fiquem sem atividade ou rendimentos. Não esquecer que estes são atualmente quase todos precários; Os trabalhadores a recibos verdes e os pequenos empresários, que só geram e gerem os seus empregos, e que estão parados a ver o COVID -19, passar;

 Os sem emprego e sem recibos, os "biscateiros", os sem-abrigo, os toxicodependentes, os ex-presidiários, os que viviam do turismo informal, etc., etc. 


O que fez o governo para melhorar isto tudo? Tem vindo a criar um conjunto de medidas, ainda que insuficientes e que tardam em chegar. E tem manipulado muito a informação. 


Primeiro com o medo da doença e o seu efeito sobre o SNS, mandou todos para casa de forma exagerada, para não se chegar a ver a sua insuficiência. Agora e com o medo da fome mandam-se sair de casa para que não se perceba a insuficiência da economia e do Estado Social para responder a todos. A oposição tem-se mantido cautelosa. O líder da oposição assume-se como um patriota, um ajudante do Governo. O que propôs vai no caminho certo, mas optou por não falar alto, sussurrou. Os camaradas da esquerda para tudo o que seja construir já sabemos: Zero. Exigências e mais exigências, como se o mundo continuasse na mesma. Para eles parece que sim. O CDS procura encontrar-se entre o choque do Corona e o do Xicão. Mais á direita o Chega parece ter mais problemas intestinos que de vírus.



Em Setúbal temos um executivo Comunista que apresentou, em Emergência, mais do mesmo: Folclore e restrições, não lhes custa dinheiro e tem dado milhões. Até agora. Explico melhor e com quatro exemplos simples: 1- A medida mais emblemática deste período COVID parece ser a das costureiras fazerem roupa para o hospital, feito com pessoal voluntário. É louvável, mas não é sério. Mas é típico desta Câmara, trabalho voluntário sem custos para a autarquia, enquanto os políticos assessores e funcionários fazem o quê? São pagos ir às inaugurações tirar as fotografias? 2- As sessões de Câmara não podem ter a assistência do público nem são visionadas, como a oposição tem reclamado. Ou seja, são feitas à porta fechada sem escrutínio público o que é mau para a Democracia, podendo ser diferente; 3- A Câmara retirou as taxas sobre a ocupação do espaço público, de elementar justiça, mas continua sem devolver a taxas de proteção civil cobradas e não devolvidas ilegalmente, assim como não criaram nenhum compromisso para pagarem a divida aos fornecedores no imediato, para ajudarem as micro, pequenas e médias empresas que tão necessitada estão; 4- Condicionaram, sem motivos, o acesso à beira mar e às praias da Arrábida. Proibir é fácil não custa nada. A oposição também apresentou medidas. Muitas e sem serem concertadas. Logo sem história. Ganharam relevância por terem sido empoladas no site da Presidência. 




Assim é compreensível que a população que recebeu com agrado e aplauso o unanimismo inicial contra o COVID -19, se veja agora, entre a incompetência de uns e a insuficiência da função pública sem serviço público e em casa. Não se augura nada de bom. A democracia não pode ficar confinada. Tem de sair à rua. Das instituições democráticas dos partidos e dos seus agentes, espera-se liderança e a procura de boas soluções. Com contraditório. O Parlamento e as cúpulas partidárias, querem agora, depois do que acabei de descrever, comemorar a Liberdade. Eu também. Mas a Liberdade implica Responsabilidade e Solidariedade. 



E, não foram os cidadãos, que tão responsavelmente se autoconfinaram antes do Estado de Emergência, que decretaram medidas incompreensíveis face ao que agora propõem para a festa do 25 de Abril. Para além do tudo o resto, para acompanharem os seus entes queridos à última morada muitos foram impedidos, por que só onze, podiam ir ao cemitério. Por muito amor à liberdade esta, por vezes tem de ter limites. Foi o que nos disseram e nós cumprimos. 




quarta-feira, abril 1

Recomendações de Leitura para quem está em casa (COVID -19)




O diário de Anne Frank, é um clássico esquecido. Mas pode ser agora, de enorme utilidade. Lemos este livro com 13 anos, no início do Verão de 1984. Em dias, para nós, também muito difíceis. 

É um livro que conta a vida em auto-reclusão forçada, num anexo, por duas famílias de Judeus. em Amesterdão, durante a Segunda Guerra Mundial. Confinados ao Anexo (que é hoje visita obrigatória quando vamos à cidade) de um escritório, as dias famílias lutam pela sobrevivência ao nazismo, escondendo-se. Foram denunciados e despertos, tendo ido todos para campos de concentração, onde quase todos, os protagonistas do  Diário vêm a morrer.

A particularidade é ser escrito por uma adolescente, de uma enorme sensibilidade e talento para a escrita, em forma de diário. O mesmo só foi lido na totalidade por alguém mais tarde. O seu pai, só após a 2ªGuerra Mundial ter acabado voltada ao Anexo e encontra o Diário de Anne, que entretanto tinha morrido conjuntamente com a sua outra filha e esposa num dos campos de concentração.

Vale a pena ler para se perceber muito daquilo que estamos a passar, auto-confinados às nossas casas.







Mais divertido, recomendamos também a leitura de as Farpas. São também um clássico. Um livro que compila um conjunto de textos de Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão, foram originalmente publicadas entre 1871 e 1872. 

Aqui, poderemos ver que a escrita livre pode ser uma verdadeira bênção para o espirito. Esta versão  trazida por Filomena Mónica é a que recomendo. Tem sua "certificação" cientifica, o texto tem ortografia atualizada mas mantendo a integralidade dos textos originais.

Recomendo a quem anda armado nas redes sociais, novo suporte para as farpas contemporâneas, em policia e moralista dos costumes e da critica livre e com humor. Recomendo  a todos mas   particularmente nos que escrevo mais: o AHUA (cerca de 9 000 membros) e o Coisas de Setúbal (cerca de 73 000 membros). Ambos com incidência territorial em Setúbal mas que estão já muito para além destas fronteiras. 

As Farpas, escreve Filomena Mónica, marcaram uma época, o que não nos deve surpreender dada a originalidade, fruto "raiva sentida por uma nova geração diante da burguesia que se instalara no poder após a Regeneração de 1851".





"A Queda de Roma e o Fim da Civilização" recomendo a todos, mesmo todos. Especialmente aqueles que pensam que a única coisa importante para nos mantermos vivos é a saúde. Não, não é. 

A civilização que nos mantém precisa de muito mais para nos manter. Vasco Púlido Valente, recentemente falecido, em idade avançada - apesar de com muito tabaco e álcool consumido com devoção e persistência - escreveu acerca desse livro o seguinte:

" O fim da autoridade universal de Roma e a insegurança e o caos que a seguir vieram acabar com este mundo. Nove décimos da "Europa" regrediram mil anos para o principio da Idade do Ferro e levaram mil anos a recuperar. O inimaginável acontece."

Um dos mais consistentes livros que li sobre o tema feito por por um arqueólogo e fundamentado em factos arqueológicos o que não é um detalhe.






domingo, março 29

O PODER DA ESPERANÇA



"Que a quarentena não seja só um violento recurso forçado, do qual vemos apenas os aspetos negativos. Este pode ser o momento para irmos ao encontro daquilo que perdemos; daquilo que deixamos sistematicamente por dizer; daquele amor para o qual nunca encontramos nem voz nem vez; daquela gratuidade reprimida que podemos agora saborear e exercer"

O TEXTO é de JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA, um dos homens notáveis do nosso tempo, e um daqueles que, conjuntamente com o PAPA FRANCISCO, mais me fazem caminhar com companhia neste nosso regresso a CASA, que Jesus nos anunciou.

Escreveu este texto, para a última edição do Expresso, "REDESCOBRIR O PODER DA ESPERANÇA, nos interpela na nossa necessidade deste (pre)sentimento, que nos dá uma nova perspectiva, percebendo o quanto somos "pó" nesta terra de transição para os crentes. 




"Bruscamente, sem pré-avisos, a nossa vida foi sorvida para o interior de uma daquelas imagens inquietantes de Giovanni Battista Piranesi, cujo terceiro centenário de nascimento, por coincidência, este 2020 assinala. Poucas vezes se descreveu a angústia, o efeito do caos, as intransigentes paredes de vidro do isolamento com a precisão que o artista alcançou nas suas alegorias sombrias, onde os seres humanos parecem pontos ainda mais minúsculos e torturados, ilhas ainda mais desprotegidas, num mundo contaminado e distorcido até ao absurdo. A fantasmagórica visão de uma ponte levadiça que se recolhe, numa das gravuras mais famosas de Piranesi — determinando com isso uma incomunicabilidade forçada — dá-nos como que o símbolo para representar, quase à pele, uma realidade que se transmuta, do dia para a noite, em forma distópica. Pois o desconcertado sentimento geral que hoje predomina é esse: o de que entramos, à maneira de Jonas no ventre da baleia, nas entranhas imprevisíveis e confusas de uma distopia."






"A DISTÂNCIA E A PROXIMIDADE

Conhecemos a semântica da proximidade e da distância, e, para dizer a verdade, precisamos de ambas. São elementos de comprovada importância na arquitetura do que somos: sem uma ou sem outra nós não seríamos. Sem a proximidade primordial nem seríamos gerados. Mas também sem a separação e a distinção progressivas a nossa existência não teria lugar. Na linguagem parabólica do livro do Génesis, Deus cria o homem amassando-o da argila da terra e oferecendo-lhe o seu próprio sopro, mas depois deixa o casal humano a sós no jardim para que a aventura da liberdade possa ter início. Do mesmo modo, cada um de nós, foi chamado a construir o seu mundo interno no balanço destas duas palavras: fusão e distinção.


E através delas descobrimos, a tatear, o significado do amor, da confiança, do cuidado, da criação e do desejo. É verdade que no campo pessoal e social há tantas distâncias que são distorcidas formas de afirmar barreiras, de inocular com o vírus ideológico da desigualdade o corpo comunitário, de desnivelar a existência comum com assimetrias de toda a ordem (económicas, políticas, culturais, etc.). E, temos de reconhecer igualmente que tantas formas de proximidade não passam de prepotência sobre os outros, exercício perturbado de poder, como se os outros fossem propriedade nossa. A distância e a proximidade precisam, por isso, de ser purificadas. Este tempo em que repentinamente ficamos todos mais perto (penso nas famílias em quarentena numa casa, 24 horas sobre 24 horas) e todos mais separados (é recomendado para o contacto interpessoal que se mantenha, pelo menos, 1 metro de distância) pode representar uma oportunidade para redescobrir aquelas proximidade e distância que garantem a qualificação ética da existência. "




Vamos procurar por isso a ESPERANÇA que julgávamos definitivamente arredada de nós. E construir um mundo melhor.


A nossa segurança virá dessa nova consciência, desse novo alimento.







sábado, março 28

Análise comparada da evolução COVID - 19 em Setúbal Concelho.



Com a informação da DGS reportada às 11 horas de 27-03-2020, em Setúbal tenhamos 9 casos.


Esta realidade, comparando à  escala do concelho, no país temos:


Fonte: DGS



E por Região:


Fonte: DGS

Ainda de acordo com os dados disponibilizados pela DGS às 11 horas do dia de ontem (27/03/2020), o concelho de Setúbal comparado com cidades semelhantes, em dimensão, relevância e centralidade regional, por exemplo as outras capitais de distrito, está com um número de caso reduzidos. Estando ao nível de Évora, com muito menos população e fora das áreas metropolitanas, onde existe mais concentração de população.

No entanto, tudo isto ainda está muito pouco realista. Os dados que temos são assimétricos, como assimétricos são os recursos da saúde por regiões e concelhos. Onde se fazem mais testes e despistes, naturalmente teremos mais casos.

Fonte: DGS


Em termos de óbitos, a nível nacional por género e faixa etária continuamos ter a sua maioria a partir dos 70 anos, sendo que registamos o primeiro óbito abaixo do 50 anos.


Fonte: DGS

No entanto, de acordo com o jornal Setubalense na madrugada de 28-03-2020 referia que "pela primeira vez desde há seis dias, o concelho de Setúbal não registou qualquer caso positivo de Covid-19 mantendo assim um total de 13 infectados que apresentava na véspera."

Ainda de acordo com a mesma fonte, e reportando-se à realidade de 27 de Março, Setúbal (concelho) apresenta assim um caso recuperado, seis em internamento hospitalar e outros seis em convalescença em casa".



sexta-feira, março 27

Finalmente a Terceira Vaga vai-se impor


Pena que Alvin Toffler (1928/2016) não tenha assistido.


Ele conjuntamente com Heidi Toffler, estudaram o Futuro, permanentemente. E ambos tiveram muita influência social e cultural há umas décadas atrás. 

Por exemplo, nas mudanças estruturais levadas a cabo por Deng Xiaoping, que governou a China dos idos de 80 e 90. Fazendo a China chegar à 2º e 3º Revolução Industrial ao mesmo tempo, com a sua abertura do país ao mundo e á modernidade. "Um país, dois sistemas", foi o nome que deu à nova realidade chinesa que ainda hoje conhecemos, onde o Comunismo (a ditadura  no poder) e o Capitalismo (na economia) podiam finalmente viver juntos. A partir de zonas geográficas pré determinadas que foram progressivamente abertas ao mundo global a china foi fazendo sua abertura ao mundo.









Esta transição tecnológica, porque é sempre a tecnologia que nos faz mudar, já teve muitos nomes: Terceira Vaga, 3ª Revolução Industrial, Revolução Digital, etc. 

Mas se o nosso modo de vida já estava a mudar (habitação, trabalho, família, mobilidade, logística, informação, economia e política), quase tudo continuava muito preso ao passado. 

Há muito anos que tínhamos tudo para realizar a mudança...mas verdadeiramente, esta não acontecia. Já tínhamos condições para o tele-trabalho, mas ele tardava a generalizar-se, na escala que poderia. 

Por exemplo, já há muitos anos que todos nos perguntávamos porque é que a escola ainda continuava a centrada na sala de aula, na divisão por idades, nas turmas, no professor que expõe, em vez do que propõe, na matéria  expositiva, etc., etc.?


Porque como Toffler identificou, a escola de massas do século XIX, floresceu em todo o mundo, em primeira instância, porque os pais (em idade de trabalhar) não podiam ficar em casa a cuidar deles. Tinham de ir trabalhar para as fábricas. Primeiro os homens, depois as mulheres. A função "deposito", realizada pela escola, foi fundamental para libertar os adultos para o trabalho. A vontade de alfabetizar também. Mas sem a tecnologia que permitiu fazer a revolução industrial, nada disto teria tido força para andar. O "educar" as crianças foi também indispensável para formatar as massas para o mundo novo que estava, então a surgir. Cumprir horários, obedecer em massa, vestir igual, pensar igual, agir igual, era a melhor forma de alinhar o "povo" para a linha de montagem que lhes iria dar o sustento. Curiosamente a campainha, ou sirene, que caracterizou a marcação dos tempos de entrada e saídas,  na Fábrica, já praticamente só subsiste na primeira delas: a escola. 


Portugal, que teve uma Revolução Industrial muito tardia e insípida a pretenção da escolarização universal das crianças foi, durante um século, uma ficção alimentada por uns quantos estrangeirados ou letrados progressistas. E, só a partir dos anos 60, do século passado, quando verdadeiramente o país começou a deixar de  ser uma sociedade agrária, é que a generalização do ensino se consumou.



Assim a Revolução Industrial foi o "motor" de maioria do hábitos que ainda hoje subsistem. Mas já tínhamos tudo para a mudança mas ainda não estava testada. Os "tempos Corona" vão permitir, a todos, vermos na prática o que nos vai a acontecer. Por sermos obrigado a mudar. 






DN, convocou uns quantos futuristas para pensarem neste assunto e tentar antecipar o "Novo Normal" como lhe chamou.

A estas que se seguem acrescentava: 

1 - a mudança no ensino; 
2 - a mudança nas cidades e no território;
3 - a mudança na mobilidade.


"Estes são alguns dos prognósticos que os futuristas fazem para o mundo pós-coronavírus:

1. Estados Unidos da Europa

A crise obrigará os países da União Europeia a colaborarem melhor e mais depressa, numa estratégia vital de adaptação e sobrevivência. A criação de um modelo "Estados Unidos da Europa" vai tornar-se mais consensual e a questão do Brexit desaparecerá da discussão.

Segundo Leonhard, "está claro para toda a gente que temos de colaborar ou arriscar a morte - a escolha é nossa." O futurista chama a esta nova realidade "hiper-colaboração" e acredita que ela poderá levar a Europa a emergir como nova líder global nos próximos três anos por causa da crise. O mesmo fenómeno de colaboração mudará a forma como a comunidade científica global trabalha.

2. Início do fim dos combustíveis fósseis

"Pela primeira vez na modernidade, vemos o que acontece quando queimamos menos combustíveis fósseis", e isso far-nos-á pensar. Leonhard prevê que a procura por viagens de avião, turismo e outras indústrias que consomem muitos combustíveis fósseis irá cair de forma permanente e que os investidores fugirão delas. O investimento será redirecionado para energias sustentáveis.

3. Indústria das companhias aéreas será diferente

Em especial na cultura das viagens haverá uma mudança dramática, antecipa Gerd Leonhard. O mundo acordará para as conferências, formações e reuniões remotas, mesmo após o fim das quarentenas. A plataforma Zoom será o novo YouTube, com "zoomlebrities". As companhias aéreas vão investir em aeronaves neutras em carbono. As conversas com hologramas vão tornar-se frequentes.

Thomas Frey acredita que muitas empresas não voltarão a alocar orçamentos elevados para viagens aéreas, porque perceberão que podem operar com menos deslocações e reuniões cara a cara.

4. Maior transição laboral da História

Frey diz que haverá uma transição laboral maciça, com muitas pessoas despedidas a mudarem de carreira e a abrirem as suas próprias empresas. Segundo ele, "esta ronda de perda de empregos seguida de recuperação de trabalho será muito diferente de tudo o que vimos no passado".

5. Tecnologia mais poderosa

As mudanças radicais no teletrabalho que estamos a experimentar vão ter efeitos permanentes. Ao mesmo tempo, tornar-se-á ainda mais valiosa a interação entre humanos, devido à experiência de isolamento social por que todos estão a ser obrigados a passar.


A importância da tecnologia nesta crise é tanta que todo o sector aumentar o seu poder. "Toda a gente em todo o lado está a fazer tudo online, desde encomendar comida a ter aulas de yoga." O lado negativo, segundo Gerd Leonhard, ºe que a tecnologia "tornou-se a nova religião" e haverá um debate ruidoso sobre a ética digital. O futurista acredita que isto levará a uma regulamentação mais apertada com o objetivo de garantir que os humanos e o planeta beneficiam do progresso tecnológico. "Estamos a entrar num novo Renascimento".

O futurista também prevê que a vigilância estatal por meios tecnológicos irá tornar-se o novo normal após as medidas extraordinárias que foram tomadas para controlar esta pandemia.

6. Capitalismo extremo equivale ao caos

Os Estados Unidos e o Brasil vão mergulhar em "guerras civis digitais" em resultado da crise, que encontra nos dois países "governos lamentavelmente mal preparados, total falta de planeamento e má gestão dramática do financiamento para saúde." Este mix terá resultados explosivos, impulsionados pelas redes sociais e "ativismo digital."

Notoriamente, Gerd Leonhard explica que a falta de investimento nas infraestruturas públicas de saúde e as ajudas tardias a quem irá precisar de ajuda levarão a uma "profunda agitação social." O futurista vaticina mesmo que a situação pode escalar para "atos de desespero" que levem a uma suspensão da democracia nos Estados Unidos.

7. Fim dos políticos populistas

A pandemia porá um travão no crescimento do populismo, criando oportunidades para os Millennials e para as mulheres na política, prevê Gerd Leonhard. A espiral de crise nos Estados Unidos deverá enterrar as possibilidades de reeleição de Donald Trump em 2020, e seguir-se-ão o Brasil e Reino Unido em 2021, talvez também o Irão e Turquia.


A ideia é que o populismo não sobreviverá à pandemia porque "é agora abundantemente claro que voltar ao passado é uma receita para o desastre quando todos os novos desafios são desconhecidos, isto é, vêm do futuro."

8. Mudanças na agricultura



O isolamento levará muitos consumidores a repensarem a necessidade de certas categorias de alimentos, como a carne. A crise levará a discussões sobre a auto-suficiência energética do sector da agricultura e ao aumento da procura por produtos locais. "Em 2021 veremos um aumento exorbitante do vegetarianismo e será introduzido um imposto de carbono sobre a carne."