sexta-feira, maio 22

João Bénard da Costa





Não nos vamos alongar muito sobre a perda que é para todos nós a morte de JBC, outros o farão melhor e com muito mais autoridade. No entanto, gostávamos de evocar a nossa curta memória deste personagem tão inquietante e invulgar da nossa cultura.

A primeira vez que o vimos foi no início da década de noventa, enquanto jovem estudante de arquitectura, num dos ciclos da Cinemateca. Pareceu-nos um daqueles homens fora do tempo, até um pouco empoeirados e de francófona ascendência, como se cria de um intelectual daquela geração. Mas ao ouvi-lo dissertar ao vivo algo de contraditório, ou mesmo anacrónico, existia entre esta primeira imagem e o profundo sentido do que dizia.

Começamos, então, a acompanhar o que escrevia e percebemos que era um homem de excepção. Apesar de ser de esquerda era profundamente crente e católico, algo raro e mesmo difícil de compatibilizar na sua geração. Isso e a sua enorme “panorâmica” sobre a arte e a cultura permitiram que vivesse acima das pequenas coisas que mataram tanto promissor intelectual da sua geração. Permitiu-lhe a liberdade de acção e pensamento. Sempre com uma perspectiva própria, utilizando sempre uma pedagogia encantatória, como nos filmes e na pintura que mais apreciava. Lê-lo era sempre um prazer, apesar de não ser, tal como o próprio, uma escrita do nosso tempo.



No dez de Junho de 2007 tivemos a felicidade de o ouvir ler o magnífico texto que escreveu sobre a cidade de Setúbal e sobre a natureza dos seus mistérios. Foi das coisas mais belas que se fizeram sobre esta cidade nos últimos anos e curiosamente, ou não, não foi feito por alguém de Setúbal, mas por alguém que amava esta região (quem não leu os seus magnificos textos sobre a Arrábida) há muitos anos e que se deixava encantar por aquilo que não é visível que está, quase sempre, para além da imagem.

Muito obrigada pela inspiração que foi e será,




FIM

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