Estar de volta após tanto tempo pode não parecer bom agoiro para o futuro destas memórias. Não prometo nada. Apenas garanto que vou fazer um esforço para ser mais fiel a esta escrita. Porque outras houve, que nos causaram desgaste
O país continua extremado. Os que podem banham-se, os que não, assam. Sobre este assunto, pouco ou nada mais a dizer. Talvez, sofrer...
A mim salvam-me os livros e os filmes, que não se devem molhar nem queimar, apesar de por vezes nos proporcionarem banhadas ou escaldões.
Na primeira categoria incluiria “ A Misteriosa Chama da Rainha Loana” de Umberto Eco – Círculo de Leitores, 2005 – que me parece a mais pobre das obras de Eco. O tema central em torno da perda da memória e a tentativa desesperada de a recuperar, por parte de um septuagenário promete. No entanto, a “chama” vai-se perdendo ao longo do livro e com ela o sentido da narrativa.
Na segunda categoria colocaria “Viver para contá-la” de Garcia Marquez – Dom Quixote, 2002 – que sem nos prometer muito nos vai resgatando do saboroso marasmo de Agosto, para a dura mas mágica realidade – fantástica, claro – do seu início de vida na Colômbia, em meados do século XX.
Nos filmes destacamos “Rainhas”. Uma agradável surpresa onde as expectativas não abundavam. De fotografia e “tiques” à Almodôvar surge uma história circular em torno do primeiro casamento de “maricons” realizado em Madrid. Uma série de casais e seus progenitores embrenham-se num sem fim de peripécias, em que as mães – sempre elas - acabam por remediar o que parecia não ter remédio. Trama leve mas bem construída sem pretensiosismos ou moralismos de qualquer espécie. A ver, numa qualquer tarde em que o sol se esconda ou a sua presença já canse.