sábado, julho 28

Finalmente


praia, mar, muito mar. Descanso. Leitura, muita leitura. Briancar e jogar em família. Boa vida, como se usa dizer.
Até já.

quinta-feira, julho 26

Portugal Profundo


Georges Dussoud

Alturas do Barroso
Agosto de 1983


Este fotógrafo, que tem percorrido Portugal nas ultimas três décadas, retrata, pelo menos no que nos foi dado a ver pela imprensa, um “Portugal Profundo”. É muito interessante ver neste trabalho - Crónicas Portuguesas, a exposição retrospectiva do fotógrafo francês Georges Dussaud (n. Brou, Bretanha, 1934), patente na Cadeia da Relação/Centro Português de Fotografia (CPF), no Porto - um Portugal que ainda existe, ou existiu até à poucos anos, mas que está, pelo menos à superfície, muito mudado.

Mas é importante perceber que na década de 80 Portugal tinha zonas (muitas) que do País com um tipo de vida muito diferente daquilo que hoje imaginamos ou recordamos (ou queremos recordar) desses tempos. Se não tivéssemos a informação podíamos pensar que estas fotografias se referiam a um qualquer país longínquo situado no “terceiro mundo”. O mundo mudou muito e nós ainda mais. Mas é bom perceber que muito do que mudou foi por “fora”. Por dentro ainda conservamos muita da “pobreza” que observamos nestas imagens, tendo perdido alguma da sua riqueza.

É sempre bom perceber o que somos enquanto nação, para não nos deprimirmos muito nem embandeirarmos demais.

A não perder.

terça-feira, julho 24

Luís Filipe Menezes


resolveu avançar, quando tudo fazia prever o contrário. Pensamos ser um acto positivo. Na entrevista da SIC noticias esteve bem. A coragem de avançar é, nos tempos que correm, em si um factor positivo. Querer mudar e dar a cara por isso é algo cada vez mais raro. Só por isso vale a pena aplaudir.

segunda-feira, julho 23

Erva


Uma nova série norte americana que começou hoje na RTP2. Na linha de “Donas de casa desesperadas”, parece ser mais no “osso” na crítica ao estilo de vida sub urbano tipicamente americano e só aparentemente sem mácula. Onde todos fingem disfarçar o que todos sabem, em torno daquele pequeno mundo que é a zona residencial onde moram. Uma vida pouco interessante exposta a uma critica ácida e mordaz, sem contemplações.A acompanhar com atenção.

domingo, julho 22

Cantos Livres II

Fomos assistir ao espectáculo “Cantos Livres”. Em família. José Mário Branco, Francisco Fanhais e Tino Flores ainda estão em grande forma. A voz ainda lá está. O sentido das letras e das conversas tidas são, conforme o orador ou o poeta, mais universais ou mais "datadas".
Dependendo da qualidade de cada um. O calor humano e fraterno de um momento quase intimista naquela sala do “Luísa Todi” soube bem. Até as crianças gostaram bastante. Quem não aprecia o calor humano de uma noite vivida e partilhada, com público e cantores.

Sentimos no entanto que para muitos outros significou a memória do tempo que nunca foi mas sobre o qual se sonhou bastante sem se chegar a viver. Para esses estas canções são já só memória. Por vezes amarga. Para outros um momento importante e inesquecível da nossa história. Mas o que continua a valer é esse encontro. Mesmo com temas passados, até “fora de moda” mas que se sentem sempre positivamente.

Cantar esse grande compositor/autor/cantor, Zeca é, e será no futuro, uma homenagem ao melhor da nossa cultura musical.

domingo, julho 15

Mas

estes resultados podem, se bem analisados, ser esclarecedores do panorama politico nacional num futuro próximo.

Resultados em Lisboa


Estes resultados em Lisboa são muito curiosos. Parece-nos relativamente claro o seguinte:

Os Lisboetas não querem eleições antecipadas, querem que lhes resolvam os problemas;

António Costa e o governo continuam em alta;

Carmona não é penalizado, como anterior Presidente de Câmara;

O PSD fica com o ónus de tudo o que de mau aconteceu neste processo.

Helena Roseta apesar de ter uma mensagem e uma atitude “interessante” não consegue ultrapassar a barreira do “candidato simpático”, sem perfil de governação.

Os pequenos partidos do arco parlamentar estão cada vez mais pequenos;

Os outros não existem;

A “direita” actual corre alguns riscos de sobrevivência.

Os filhos da "geração instalada" não têm filhos

Durante a última semana várias noticias e artigos de opinião sublinharam a suspeita que temos, de alguns anos a esta parte, que um novo conflito politico e social se pré anuncia.

O INE informou que atingimos em Portugal o número mais baixo de nascimentos desde que existem registos. Tendo esta tendência sido muito acentuada nos últimos anos. Este número é, quanto a nós, reflexo de uma mudança acelerada e profunda que a sociedade portuguesa atravessa. Esta tendência, generalizada na Europa, é, agora mais acentuada entre nós. Porquê?

Existirão, com certeza, várias razões para justificar esse fenómeno mas é na dificuldade em vislumbrar expectativas “positivas de vida” que poderemos encontrar boa parte da explicação. Quem não acredita no futuro, dificilmente encontra motivos para o prolongar. E ter filhos é também um sinal de esperança. De vontade de prolongar a nossa existência. O que parece estar a deixar de existir. Até porque as novas gerações vão ter um encargo crescente não com os filhos mas com os pais, ainda que não directamente mas de forma indirecta.

As novas gerações vivem um problema complicado e de tipo novo. Mais exigentes e individualistas vêm-se “entaladas” num mundo desigual. Com maior instrução que a geração que os precedeu vem a sua expectativa de vida muito diminuída. Vivem num território mais desarticulado, perdem mais tempo em transportes, não têm perspectivas a longo prazo, o que torna a sua vida menos previsível, sendo obrigados a trabalhar mais e por menos dinheiro. Os laços familiares e conjugais também já deixaram de ser valores seguros. Ambicionam a mesma segurança que os seus pais tiveram mas percebem que não é possível voltar para trás. O mundo hoje está diferente, mais pequeno e outras regiões do globo também querem viver “tão bem” como nós. E isso gera uma forte competição, que aparentemente não irá diminuir, antes pelo contrário.

E tudo isto acontece ao mesmo tempo que a “geração instalada” - como lhe chamou o Editorial do Expresso do último Sábado - dos seus pais e avós, vive numa situação relativamente confortável. Com empregos inamovíveis ou reformada precocemente está com muitos anos de vida pela frente e sem estar disposta a “perder” nada do que lhes foi prometido. Os famosos “direitos adquiridos”. Tudo isto é recente em Portugal o que torna, entre nós, a sua percepção mais aguda.

Esta desigualdade geracional pode vir a tornar-se num dos grandes conflitos futuros. As novas gerações vão ter cada vez mais a percepção que têm a suas carreira profissionais condicionadas ou mesmo fechadas. Sem qualquer perspectiva de reforma e em perda crescente de “direitos sociais” vão sentir que estão a pagar excessivamente o bem-estar de outros. Com a previsível perda dos vínculos geracionais de entre ajuda – de pais para filhos – vai-se acentuar a noção de desigualdade. O mito da eterna juventude que graça numa sociedade cada vez mais envelhecida está a gerar hábitos diferentes nesta população. Com maior poder aquisitivo e mais saúde por mais anos, os novos velhos tendem a estar mais centrados nos seus próprios objectivos e menos nos dos filhos e netos dos quais cada vez menos dependem. A inversão da pirâmide etária vai agudizar o problema. Em democracia a maioria ganha. E a maioria cada vez mais velha vai tornar mais difícil qualquer mudança. Ninguém quer perder o que já tem.

Toda esta conjuntura pode ser o gérmen do conflito de tipo novo que referimos inicialmente, agora já não entre classes sociais mas entre gerações. Mas onde a diferença de idades não reflecte qualquer mudança cultural ou ideológica – como no Maio de 68 – mas apenas a necessidade de sobreviver em condições de relativa igualdade.

Com esta percepção do mundo, da espécie e da família “arriscar” ter filhos não é decisão fácil e por isso cada vez são menos os que a tomam. Será natural? Talvez, mas aumenta o problema. Menos filhos é sempre igual a mais velhos.

sexta-feira, julho 6

A virtudeZita

Zita Seabra

Vimos ontem a entrevista com Judite de Sousa na RTP1, a propósito do lançamento do seu livro “Foi assim”. Ainda não tive a oportunidade de o adquirir e ainda menos de o ler, com a excepção algumas partes que foram alvo da pré-publicação do jornal “Público” no dia 1 de Julho de 2007. Mas deixou-nos a vontade de o fazer.
No entanto não era sobre o livro mas sobre a entrevista que, para já queríamos reflectir. Porque nos parece pouco comum, entre os “ex-camaradas”.

Desde há muito que acompanhamos o percurso político de Zita. Dos tempos heróicos do PCP à sua dissidência. Da travessia no “deserto” à “imperdoável” aproximação ao PSD. Houve nesta ex-comunista algo de diferente. Algo que a diferenciou de muitos outros. A franqueza e até a honestidade intelectual que colocou em todo o processo. Alguém que rompe com toda uma vida de activista convicta e não se desculpa nem “reconstrói” a sua história é digno de admiração. Quem tem ou teve a coragem, vindo do comunismo, de dizer que é uma ideologia que não conduz senão ao totalitarismo? Muito poucos. Só por isso Zita merecia a nossa atenção. Mas esta não deixa o seu “passado negro” com os que lá ficaram. Não. Assume toda a sua (ir) responsabilidade por ter lutado daquele lado. Mais, diz que o fez com toda a convicção. Sem dúvidas. Como se quer de uma verdadeira comunista. Mas diz também quando as começa a ter. O que tentou fazer, enquanto acreditou que o comunismo era “reformável” e de como percebeu que não o podia ser de facto. Tudo isto é relatado sem subterfúgios. Sem tangas. Apenas com objectividade. Assumindo a sua verdade dos factos. É muito raro entre nós. E é essa crueza de Zita que a torna proscrita para boa parte da esquerda que nunca teve a coragem para o fazer. Nunca a teve a liberdade pessoal e intelectual para o dizer.

Mas Zita cometeu mais um pecado. Tornou-se do PSD. E isso tornou-a para a maioria da esquerda um mulher “sem moralidade” politica. Pois afastar-se do Comunismo é tolerável mas “sair” do espaço da esquerda isso já é imoralidade. Sim porque para muita gente a superioridade da esquerda é “moral”.

Zita com esta entrevista e supomos com este livro, não pretendeu fazer um ajuste de contas com a sua história. Apenas relatá-la. E isso, em si, já é muito saudável. Uma virtude. Redime o seu passado? Não, mas acrescenta.