domingo, outubro 28

«Vale a pena mandar os filhos à escola?»



Foi a pergunta realizada esta semana num artigo do Público (23.10.07), por Maria Filomena Mónica (MFM). O argumento central era o de que «os pais só mandam os filhos à escola quando nisso vêem um benefício». O que parece ser relativamente obvio, acreditando numa certa dose de racionalidade nas opções que os pais, que na sua grande maioria desejam o melhor para os seus filhos, fazem e fizeram ao longo dos tempos.

Esta pergunta provocatória faz repensar sobre a natureza do “problema” em análise e na sua formulação. A educação é um bem em si? Ou é um instrumento para se conseguir uma vida melhor, para os próprios e para a sociedade? Tradicionalmente os portugueses foram pouco crédulos nas virtudes do ensino, pelo menos do ponto de vista prático, governantes e governados pouco fizeram para mudar a situação. A vontade de alargar o ensino a todos viu em dois momentos históricos um impulso: Na primeira republica, tendo ficado mais pela palavra do que pela efectivação no terreno - para aprender é necessário escolas e professores e eles eram praticamente inexistentes fora dos grandes centros urbanos do inicio do século XX – e com a reforma de Veiga Simão já no entrar da década de 70 que veio a continuar o seu impulso depois de 1974 com o regime democrático. A primeira foi travada pelo Estado Novo a segunda ainda está em curso, mas com problemas estruturais para se efectivar. O 9ºAno – obrigatório desde 1986 – está praticamente adquirido, apesar do Abandono escolar ainda existente. Mas a realidade do País já não é rural, os filhos já não são necessários para ajudar nos trabalhos do campo…e assim é preferível ficarem na escola até… poderem trabalhar. A escola como “depósito” mais do que como investimento num futuro melhor continua a ser uma realidade. Porquê? Segundo MFM a “racionalidade dos pais” continua a fazer sentido. «Um momento houve, em 1974, em que tudo pareceu possível. Mas a esperança de que Portugal se pudesse tornar numa sociedade meritocrática está em vias de desaparecer. A maioria dos pais considera, mais uma vez, que não é através da escola que se sobe na vida, mas através de "cunhas"» Esta é uma realidade de que pouco se fala, mas continua a ser um dos travões à nossa modernização e um dos aspectos a que a democracia ainda não deu cabal resposta. A sociedade portuguesa, apesar de diferente continua muito pouco dinâmica.

MFM acrescenta que «Os filhos dos mais desfavorecidos, mesmo com curso superior têm muita dificuldade em vingar. A revolução contribuiu para que muitos acreditassem ser a educação o caminho para uma vida melhor. Ao longo das últimas três décadas, os pais fizeram enormes sacrifícios para levar os filhos até à universidade. Não é raro encontrarmos empregadas de limpeza ou taxistas - os indivíduos das chamadas classes baixas com quem os intelectuais têm contacto - que alimentaram sonhos quanto à mobilidade social dos descendentes. Vendo-os desempregados, sentem-se, como é óbvio, ludibriados.» Sem perspectivas de mudança de vida para que vale um tão grande investimento? O abandono escolar poderá ser resolvido pela escola? Dificilmente. Está mais na mão da família e da sociedade. Depende da percepção que for dada pela realidade, para se perceber que a opção “racional” passa pela escola, a sociedade portuguesa tem de mostrar mais mobilidade e permitir que os que mais se esforçam e trabalham sejam recompensados e ser perceptivel que esse esforço e capacidade também passam e se desenvolve na escola. Se continuarmos a ver só os filhos dos privilegiados em posições de destaque, pouco podem acreditar nas vantagens da escola, para si e para os seus filhos, aqueles que não o são.

domingo, outubro 21

Noite


Luís Torgal

Alentejo Revisitado

A Caminho



Chegar ao Reabilitado Monte-do-Vale, entre a Terrugem e São Romão. Na parte raina do Alto Alentejo, bem junto a Elvas. Herdade a que a familia esteve ligada nos idos anos 40 e 50 do século XX. O isolamento ainda hoje se sente. Vale a pena imaginar como seria então. Uma familia, vivendo aqui, com 12 filhos a cargo.
Curiosidade: nem um desses filhos, dessa geração ficou no Alentejo.



Almoçar na Terrugem. Na "Sociedade"...



junto à Igreja, debaixo de um toldo, com um dia espectacular e uma refeição a condizer. Um típico almoço Mediterrânico. Sol, alegria, boa comida e bebida. E a família, sempre a família.



O verde "terra" da paisagem, sempre presente. O Outono, apesar de camuflado por um Verão tardio, afirma-se. O cheiro, esse não se pode aqui reproduzir, por enquanto. Só estando lá. Mas é um dos grandes protagonistas da paisagem.


A exuberância da cor, nos pequenos detalhes...



Depois terminar o dia em Vila Viçosa. Visita ao Castelo, Praça central, Palácio da Casa de Bragança, Seminário e a muita nostálgia.




Por último, a luz. Essa "grande escultora" que carateriza os lugares. Não só a do dia mas também a da noite, esteve no centro da emoção e da viagem.


Um sábado a sério.

Quanto ao Alentejo.
Voltar sempre...

quinta-feira, outubro 18

Nirvana


Uma atitude, por vezes, muito necessária...

Será impressão nossa ou


















estes dois senhores vão dar entrevistas hoje à noite. Um na RTP1 e outro na SIC.? Será uma estratégia para melhorar a "imagem" do novo PSD? Ou é já uma espécie de concurso de notoriedade vendo quem conseguirá o melhor share televisivo? A acompanhar com toda atenção...

terça-feira, outubro 16

Não se disse que não ia ser assim?

Hoje o Público escreve que Santana Lopes "Recebeu luz verde de Menezes, mas não terá unanimidade na liderança da bancada. "

O novo lider do PSD Luís Filipe Menezes, se bem nos recordamos, referiu que não iria interferir na eleição da bancada parlamentar?

Abel Salazar


Sem titulo

quinta-feira, outubro 11

Oliveira




A mais bela árvore.

A Tristeza do Rei

A propósito de um quadro de Matisse a Mariana, nossa filha, produziu esta sua visão sobre o mesmo tema. A Arte pela Arte.




Mariana Pereira Pisco (10 anos)

A Tristeza do Rei

2007





Matisse

A Tristeza do Rei

1952

segunda-feira, outubro 8

Montemor-o-Novo 3


Vista de Montemor-o-Novo a partir do Castelo


A urbe "intra muros" de Montemor foi sendo desocupada a partir do século XVI, estando desde o século XIX praticamente vazia. A escassez de água foi a razão do abandono para os arrabaldes, a actual povoação. Até o castelo esteve em ruína, consequência do terramoto de 1755, só voltando a erguer-se nos anos 40 na campanha de recuperação dos monumentos nacionais levadas a cabo pelo Estado Novo.
Um Presidente de Câmara de então, querendo aproveitar o terreno para outros fins tapou de terra o que tinha sobrada dos pavimentos e fundações da velha vila para poder o vender a retalho para fins agrícolas. Este facto, aparentemente um atentado ao património, resultou no guardar, para as gerações futuras, de uma estrutura urbana integral e muito bem conservada, de uma vila de origem medieval, como estão agora a confirmar as actuais escavações arqueológicas.

É caso para se dizer que não há bela sem senão…Resta saber aproveitar e por a descoberto esta pérola e criar um pequeno “parque temático” sobre a vida e história urbana desse tempo.





segunda-feira, outubro 1

Vias Rápidas?



A rapidez é um dos mitos da nossa modernidade. Produzir mais em menos tempo, consumir mais produtos com “ciclo de vida” mais curto ou vencer as distâncias com mais facilidade tornou este mito numa aparente realidade. Mas apesar de discutível é cada vez mais difícil fugir à aceleração do nosso quotidiano. O desenvolvimento tecnológico e seu generalizado acesso por cada vez mais pessoas é responsável por boa parte desta aceleração.

O território reflecte também esta vontade ou necessidade que todos temos de conseguir vencer o espaço em cada vez menos tempo. Os meios que hoje temos à disposição para nos deslocarmos criam a sensação de que essa seria uma tendência sem retorno. Mas a generalização do automóvel veio colocar em causa essa ideia. O congestionamento, a falta de estacionamento e os riscos associados à velocidade, obrigaram a uma desaceleração neste processo que parecia imparável. Hoje é perceptível que os problemas ligados às acessibilidades passam por outro tipo de opções que não podem continuar a colocar o automóvel como tema central.

No entanto, vemos ainda nas nossas cidades serem realizadas intervenções que estão em contra ciclo com as necessidades do nosso tempo. A ideia de atravessamento rápido da cidade tem sido alimentada por se julgar que com mais vias de comunicação se consegue ultrapassar o problema do congestionamento. E se forem vias rápidas ainda melhor. Os especialistas dizem que a construção de uma nova via tende sempre para o seu limite de serviço. Ou seja, para o seu inevitável congestionamento e consequente abrandamento da velocidade. Para além de, no caso de ser uma via urbana, estar limitada pelo código da estrada aos 50 km/h. O que, convenhamos, não é lá muito rápido.

A separação por funções e sistemas das várias componentes urbanas, típica do século XX, levou a que os especialistas nas diversas áreas resolvessem, isoladamente e olhando pouco para o conjunto, cada um dos seus problemas específicos. As acessibilidades são determinadas por especialistas em tráfego que, normalmente, olham apenas para a necessidade de resolver a circulação rodoviária. Esquecendo-se que a cidade vai muito para além deste problema apesar de este ser muito importante. É por isso necessário olhar para as diversas componentes da cidade de forma integrada e o mais harmonizada possível. Uma rua não pode ser apenas um atravessamento automóvel.

Por isso as “vias rápidas” dentro da cidade ou atravessando zonas residenciais são, na nossa opinião uma opção sem sentido por duas razões essenciais: Em primeiro lugar porque, como já vimos, não podem ser rápidas e em segundo porque destroem a continuidade urbana, tornando-se barreiras dentro das cidades, com todos os efeitos negativos a estas associados.

Em Setúbal existem dois casos, ambos na Estrada Nacional 10, que nos parecem da maior importância resolver, a bem da qualidade de vida urbana, da coesão social e da identidade da cidade. Um é a famosa “variante da Várzea” que liga a “Estrada dos Ciprestes” à Estrada de Azeitão, a outra a Avenida Antero de Quental, que passa junto ao “Jumbo” e que divide o Monte Belo em dois.

As duas vias deviam passar a ser avenidas urbanas, com vários atravessamentos, o que permitia uma maior interligação entre as zonas que dividem, tornando essas zonas mais seguras para quem as atravessa (actualmente já são muitos) e para todos os que as vivem. As barreiras tornam sempre os seus espaços envolventes mais inseguros e decadentes, por serem menos vividos.

Ao optar por transformar estas barreiras em espaços de relação e convívio a cidade ficava mais agradável, mais segura, mais coesa e, garantidamente, não se tornaria menos rápida. Pelo contrário, sendo mais permeável aceleravam-se alguns percursos. Esta seria uma via alternativa, não sabemos se rápida, mas com certeza mais acertada do ponto de vista urbano.

Publicado hoje no "Jornal de Setúbal"