quinta-feira, abril 23

Memórias de Adriano

 continua a ser o meu livro de referência . 

Comecei este Blog a 2 de Novembro de 2003. 

E dei-lhe este nome. Não faria hoje diferente





"Como toda a gente, só disponho de três meios para avaliar a existência humana:

 o estudo de nós próprios, o mais difícil e o mais perigoso, mas também o mais fecundo dos métodos; 

a observação dos homens, que na maior parte dos casos fazem tudo para nos esconder os seus segredos ou para nos convencer de que os têm;


os livros, com os erros particulares de perspectiva que nascem entre as suas linhas."

in Memórias de Adriano de Marguerite Yourcenar

domingo, abril 19

Governo versus Oposição – o papel dos políticos e dos partidos em tempos de COVID-19






O COVID-19, colocou todos, fora de pé. Quase ninguém estava preparado para isto, é um facto. O Sistema Nacional de Saúde não estava de certeza, mas isso já todos sabíamos, muito antes da Pandemia. O Primeiro-Ministro tinha-o reconhecido ao ter dito que seria a prioridade para estes quatro anos de legislatura. Mas atrever-me-ia a dizer que nenhum dos grandes Sistemas Públicos o estava: Da Educação à Segurança Social. Do Estado às Autarquias Locais. Mesmo as empresas: Das grandes às micro, pequenas e médias. Estas últimas, obrigadas a fechar, nem preparar ou adaptar-se puderam. No entanto, parece-me que a seguir aos médicos, enfermeiros e restante pessoal da saúde, os portugueses, precisam de Políticos, para os conduzirem e de medidas para lhes tornarem a vida menos difícil e possível. Boas medidas de preferência. 


 Como está o Sistema Político a reagir? Como estão os executivos e as oposições? É isso que nos interessa agora refletir. Em situações de Crise, ou como chamámos agora, em Estado de Emergência (EE), devem-se dar condições aos Governos, Central e Regionais, às Câmaras Municipais ou Juntas de Freguesia, para fazerem o que é suposto. A urgência da situação torna-o indispensável. Mas significa isto deixar tudo nas mãos dos executivos, ficando as oposições a assistir, ou a resguardar-se? 



Penso que não. Agora, mais do que nunca, não. Porque numa situação nova, como esta, e com as Liberdades Condicionadas, pelo EE é necessário ter todos alerta, porque a critica útil é ainda mais necessária nesta situação em que os Poderes Executivos estão reforçados. E o que está por fazer é ainda tanto. Apoiar os executivos, não significa deixar de apontar o que está mal feito, denunciar a manipulação e incompetência e proteger os que mais precisam. E são muitos e vão ser cada vez mais. Vamos assistir, nos próximos tempos, ao que nunca imaginámos. E a muitas mortes. Este é só um dos aspetos, em que, sublinhe-se não deixaram participar mais de ONZE pessoas por funeral, não esquecer. O mais difícil vão ser os vivos, sem suporte, sem emprego, sem dinheiro e com fome. A doença foi considerada prioritária mas agora será a fome a protagonista. A miséria em Portugal e em Setúbal já era muita, antes de 2008. Depois veio a quase “bancarrota” e esta aumentou. Durante o que se convencionou chamar, período da "Troika". Aliviou nos últimos anos, mas estava lá, está lá. Foi encoberta por muita propaganda do Governo e por uma extrema esquerda, oportunisticamente silenciada, durante quatro anos, e que agora se prepara, oportunamente, para tirar dividendos da miséria, sem nada de construtivo acrescentar. 



Enumero de seguida alguns dos grupos que me parecem mais frágeis e que serão ainda mais depois do EE, mantido até início de maio:

Os velhos dos trezentos euros de reforma (que sobreviverem); 

As crianças de famílias em dificuldades, especialmente as monoparentais, sem apoio familiar e, com as mães no desemprego. Não esquecer que as mulheres, especialmente as menos qualificadas, costumam ser o elo mais frágil, em particular em tempos de crise. Não esquecer que sem escola (até ao 9ºAno) temos aos escalões A e B sem duas refeições gratuitas, e em Setúbal são muitos; 

 Os jovens sem suporte familiar e que fiquem sem atividade ou rendimentos. Não esquecer que estes são atualmente quase todos precários; Os trabalhadores a recibos verdes e os pequenos empresários, que só geram e gerem os seus empregos, e que estão parados a ver o COVID -19, passar;

 Os sem emprego e sem recibos, os "biscateiros", os sem-abrigo, os toxicodependentes, os ex-presidiários, os que viviam do turismo informal, etc., etc. 


O que fez o governo para melhorar isto tudo? Tem vindo a criar um conjunto de medidas, ainda que insuficientes e que tardam em chegar. E tem manipulado muito a informação. 


Primeiro com o medo da doença e o seu efeito sobre o SNS, mandou todos para casa de forma exagerada, para não se chegar a ver a sua insuficiência. Agora e com o medo da fome mandam-se sair de casa para que não se perceba a insuficiência da economia e do Estado Social para responder a todos. A oposição tem-se mantido cautelosa. O líder da oposição assume-se como um patriota, um ajudante do Governo. O que propôs vai no caminho certo, mas optou por não falar alto, sussurrou. Os camaradas da esquerda para tudo o que seja construir já sabemos: Zero. Exigências e mais exigências, como se o mundo continuasse na mesma. Para eles parece que sim. O CDS procura encontrar-se entre o choque do Corona e o do Xicão. Mais á direita o Chega parece ter mais problemas intestinos que de vírus.



Em Setúbal temos um executivo Comunista que apresentou, em Emergência, mais do mesmo: Folclore e restrições, não lhes custa dinheiro e tem dado milhões. Até agora. Explico melhor e com quatro exemplos simples: 1- A medida mais emblemática deste período COVID parece ser a das costureiras fazerem roupa para o hospital, feito com pessoal voluntário. É louvável, mas não é sério. Mas é típico desta Câmara, trabalho voluntário sem custos para a autarquia, enquanto os políticos assessores e funcionários fazem o quê? São pagos ir às inaugurações tirar as fotografias? 2- As sessões de Câmara não podem ter a assistência do público nem são visionadas, como a oposição tem reclamado. Ou seja, são feitas à porta fechada sem escrutínio público o que é mau para a Democracia, podendo ser diferente; 3- A Câmara retirou as taxas sobre a ocupação do espaço público, de elementar justiça, mas continua sem devolver a taxas de proteção civil cobradas e não devolvidas ilegalmente, assim como não criaram nenhum compromisso para pagarem a divida aos fornecedores no imediato, para ajudarem as micro, pequenas e médias empresas que tão necessitada estão; 4- Condicionaram, sem motivos, o acesso à beira mar e às praias da Arrábida. Proibir é fácil não custa nada. A oposição também apresentou medidas. Muitas e sem serem concertadas. Logo sem história. Ganharam relevância por terem sido empoladas no site da Presidência. 




Assim é compreensível que a população que recebeu com agrado e aplauso o unanimismo inicial contra o COVID -19, se veja agora, entre a incompetência de uns e a insuficiência da função pública sem serviço público e em casa. Não se augura nada de bom. A democracia não pode ficar confinada. Tem de sair à rua. Das instituições democráticas dos partidos e dos seus agentes, espera-se liderança e a procura de boas soluções. Com contraditório. O Parlamento e as cúpulas partidárias, querem agora, depois do que acabei de descrever, comemorar a Liberdade. Eu também. Mas a Liberdade implica Responsabilidade e Solidariedade. 



E, não foram os cidadãos, que tão responsavelmente se autoconfinaram antes do Estado de Emergência, que decretaram medidas incompreensíveis face ao que agora propõem para a festa do 25 de Abril. Para além do tudo o resto, para acompanharem os seus entes queridos à última morada muitos foram impedidos, por que só onze, podiam ir ao cemitério. Por muito amor à liberdade esta, por vezes tem de ter limites. Foi o que nos disseram e nós cumprimos. 




quarta-feira, abril 1

Recomendações de Leitura para quem está em casa (COVID -19)




O diário de Anne Frank, é um clássico esquecido. Mas pode ser agora, de enorme utilidade. Lemos este livro com 13 anos, no início do Verão de 1984. Em dias, para nós, também muito difíceis. 

É um livro que conta a vida em auto-reclusão forçada, num anexo, por duas famílias de Judeus. em Amesterdão, durante a Segunda Guerra Mundial. Confinados ao Anexo (que é hoje visita obrigatória quando vamos à cidade) de um escritório, as dias famílias lutam pela sobrevivência ao nazismo, escondendo-se. Foram denunciados e despertos, tendo ido todos para campos de concentração, onde quase todos, os protagonistas do  Diário vêm a morrer.

A particularidade é ser escrito por uma adolescente, de uma enorme sensibilidade e talento para a escrita, em forma de diário. O mesmo só foi lido na totalidade por alguém mais tarde. O seu pai, só após a 2ªGuerra Mundial ter acabado voltada ao Anexo e encontra o Diário de Anne, que entretanto tinha morrido conjuntamente com a sua outra filha e esposa num dos campos de concentração.

Vale a pena ler para se perceber muito daquilo que estamos a passar, auto-confinados às nossas casas.







Mais divertido, recomendamos também a leitura de as Farpas. São também um clássico. Um livro que compila um conjunto de textos de Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão, foram originalmente publicadas entre 1871 e 1872. 

Aqui, poderemos ver que a escrita livre pode ser uma verdadeira bênção para o espirito. Esta versão  trazida por Filomena Mónica é a que recomendo. Tem sua "certificação" cientifica, o texto tem ortografia atualizada mas mantendo a integralidade dos textos originais.

Recomendo a quem anda armado nas redes sociais, novo suporte para as farpas contemporâneas, em policia e moralista dos costumes e da critica livre e com humor. Recomendo  a todos mas   particularmente nos que escrevo mais: o AHUA (cerca de 9 000 membros) e o Coisas de Setúbal (cerca de 73 000 membros). Ambos com incidência territorial em Setúbal mas que estão já muito para além destas fronteiras. 

As Farpas, escreve Filomena Mónica, marcaram uma época, o que não nos deve surpreender dada a originalidade, fruto "raiva sentida por uma nova geração diante da burguesia que se instalara no poder após a Regeneração de 1851".





"A Queda de Roma e o Fim da Civilização" recomendo a todos, mesmo todos. Especialmente aqueles que pensam que a única coisa importante para nos mantermos vivos é a saúde. Não, não é. 

A civilização que nos mantém precisa de muito mais para nos manter. Vasco Púlido Valente, recentemente falecido, em idade avançada - apesar de com muito tabaco e álcool consumido com devoção e persistência - escreveu acerca desse livro o seguinte:

" O fim da autoridade universal de Roma e a insegurança e o caos que a seguir vieram acabar com este mundo. Nove décimos da "Europa" regrediram mil anos para o principio da Idade do Ferro e levaram mil anos a recuperar. O inimaginável acontece."

Um dos mais consistentes livros que li sobre o tema feito por por um arqueólogo e fundamentado em factos arqueológicos o que não é um detalhe.