quarta-feira, janeiro 26

Egon Shiele


Egon Shiele

A expressão em estado puro. Este é também um dos meus pintores de eleição. Pintor Austríaco da transição do século (1890/1918), discípulo de outro pintor, também Vianense. Gustav Klimt, já aqui referido. Tendo seguido um percurso paralelo a Oskar Kokoschka, criou um traço pictórico muito particular. A expressão do desenho e o carácter do traço como elemento dominante da composição, atingem neste pintor, um ponto alto. A manipulação da forma, assume, através da transformação do corpo, a expressão de sentimentos limite. Este é o centro do mundo de Shiele. O mundo dos corpos como demonstração dos estados da alma.
Na clássica dicotomia, abstracto/figurativo – tão presente no século XX - confesso que os meus pintores de eleição pertencem ao segundo campo. Especialmente os “Maneiristas”, no seu sentido original, à maneira de…

segunda-feira, janeiro 24

Rankings escolares 1


Assisti na passada quinta-feira (20.01.05) ao lançamento do livro “No silêncio somos todos iguais” de David Justino. Sim o ex-ministro. Escreveu um livro pequeno, bem escrito e cientificamente inatacável. Perde-se um ministro recuperou-se o académico. O autor é professor associado do Departamento de Sociologia da Universidade Nova de Lisboa. De forma sintética rebate um conjunto de ideias feitas sobre os Rankings, escolares e a sua divulgação – sim está sempre em risco de se silenciar – e os factores que influenciam o seu desempenho. Desde já digo que, tal como o autor sou favorável à divulgação dos resultados dos exames, conhecidos como Rankings. Vou passar a explicitar alguns dos pontos essenciais expostos no livro:
Relação, ensino público/privado. Fica demonstrado que as escolas privadas – a minoria do sistema – tem os melhores resultados nas cidades de maior dimensão. Em Lisboa e Porto. Cidades que, têm capacidade demográfica e económica para manter, de forma “sustentada” e ao longo de muitos anos, um conjunto de escolas ditas, de elite. Nas restantes cidades, de menor dimensão, as escolas públicas assumem os primeiros lugares na região. As privadas assumem um lugar idêntico às públicas. Há melhores e piores. Não se destacam.
Relação, desempenho educativo/dimensão das turmas. Não é se pode demonstrar uma relação directa entre estes dois factores. Acontecendo que em muitas das escolas que sofrem menor pressão demográfica, tendo por isso turmas menores, apresentam piores resultados. Neste grupo encontram-se as escolas de zonas de êxodo demográfico, ou menos “procuradas” por alunos nos meios urbanos mais dinâmicos.
Relação, desempenho custo médio por aluno. Desmistifica a ideia de que gastando mais se conseguem melhores resultados, onde muitos exemplos provam justamente o contrário.
Relação, desempenho custo médio do pessoal docente. Este indicador consegue ter uma relação relativamente directa com o desempenho, apesar de existirem desvios “estatísticos” que não permitem conclusões precipitadas. Como se calcula a remuneração está directamente ligada com dois factores: a experiência e por consequência a estabilidade.
Estes são alguns dos aspectos focados que mexem com algumas das “vacas sagradas” do “eduques” cá do burgo. E só por isso já valeu a pena ter sido escrito. É favor ler.
Da Gradiva

terça-feira, janeiro 18

El Greco


El Greco - Vista de Toledo 1597

Há beleza na tempestade. Com aquele turbilhão de azul a negro, sugerindo o desespero, surge o verde esperança da natureza envolvente. Complementar. A cidade – Toledo - e a sua pequenez, sobrevive na serra, com ela e contra ela. Eis nós, face à (nossa) natureza. O medo e a esperança. A circunstância e a transcendência.
El Greco, um dos mais brilhantes pintores de todos os tempos, mostra-nos na paisagem o turbilhão da nossa condição humana. Interiormente e na sua relação com o mundo que nos envolve.
É assim a grande arte. Olhar uma paisagem é sempre um olhar interior. Não é o que vê mas como vê, que distingue. A Arte da Ilustração. Embora esta última também se possa fazer com talento.

segunda-feira, janeiro 17

A Riqueza de Agustina


Agustina

Para que serve a riqueza? Esta questão tem levantado as mais diversas interpretações. Hoje, entre nós, estamos muito preocupados com a criação de riqueza, onde entronca a celebre questão da “produtividade”. A criação de riqueza – ou acumulação de riqueza – é uma actividade olhada e concretizada de formas diversas ao longo da história que se modificou com a cultura do tempo e a forma de civilização. Max Weber na sua obra “A Ética Protestante” atribui a fundação do capitalismo moderno aos Calvinistas Puritanos. Na vontade de uma vocação para “glória de Deus” estes desviam dos conventos o ascetismo e põem-no ao serviço do capital. O despojamento associado à capacidade de realização e uma verdadeira dedicação ao trabalho criam o caldo de cultura para o desenvolvimento da civilização ocidental, assente no “capitalismo”. Como podemos perceber nada acontece por acaso.
Esta explicação vai ao encontro daquilo que me parece mais próximo de uma explicação razoável sobre a questão da criação da riqueza. A vontade de uns, associado à sua capacidade de realização, contra a falta de vontade de outros. E não uns a explorarem os outros. O maniqueísmo da visão de uns explorados e outros exploradores não chega para explicar a necessidade de criar riqueza e da acumular.
Agustina – que teve uma nota no caderno económico deste último Expresso – refere-se através de um dos seus romances, a "Sibila", a esta questão. Apesar de ser sobre uma sociedade já distante – anos cinquenta em Portugal – onde se desenrola o romance, continua a ser certeira. A posse ou a acumulação não é mais que “uma forma de libertação da opressão do trabalho”. Não podia ser mais verdadeiro. Pelo menos do meu ponto de vista. A acumulação está intimamente relacionada com a liberdade. Pois não se pode ter liberdade sem autonomia. E esta consegue-se contra a opressão, de outros ou das circunstâncias. A subsistência assegurada, relacionada com o nosso modo de vida, é essencial para não nos sentirmos “oprimidos”. Nem pelo trabalho.
Hoje convivem vários modos de lidar com esta questão. Mas os novos escravos são já, não só os que dependem inteiramente do trabalho ou da falta dele, mas os que vivem para pagar o crédito contraído. Dependentes dos seus desejos e já não das suas necessidades básicas, vivem aprisionados no seu cartão de crédito.
Citando Agustina“ devemos ter uma restrição das vontades, dos desejos, dos excessos que nos poderiam ser permitidos”. Apesar de tudo a liberdade é sempre uma opção entre aquilo que, face às limitações escolhemos, ou o que nos é imposto. Prefiro a primeira.

quinta-feira, janeiro 13

A Verdade

Será a verdade o mais difícil de dizer? Ou mentir é mais fácil? Esta dúvida atormenta o homem desde que é homem. Não tenho, por isso, a presunção de dizer que é uma questão fácil. Há muitos anos que penso sobre este dilema. Quer na vida pública quer na privada. Tenho acreditado que a verdade – ou a sua aproximação, como diria Popper – é melhor remédio para os problemas. Na vida pública criou-se a convicção que só com a mentira se consegue governar. O ilusionista tornou-se o paradigma do político de sucesso. O verdadeiro artista.
A visão contrária acabou por ser esquecida. Mesmo neste “banho de realidade” a que Manuela Ferreira Leite, nos sujeitou, caímos numa nova ilusão. A do cumprimento do défice. Um problema que, sendo essencial, não constitui o essencial.
Dr. Pereira Coutinho – o empresário – falou sobre o essencial na “ Grande Entrevista”, a Judite de Sousa. Disse coisas simples, ao longo de toda a conversa. Como:
Falar a verdade.
Gastamos mais do que podíamos e podemos, temos de gastar menos.
Estabelecer objectivos e explicar os sacrifícios que necessariamente vamos ter de passar. Criar um rumo.
Ter confiança em nós e nos outros.
Honrar a confiança, cumprindo.

Questões simples que são essenciais como atitude. “Estado de espírito”. O resto já está diagnosticado. Basta querer fazer. Sem artifícios. Deus nos ajude…

quarta-feira, janeiro 12

O Lugar da Arquitectura


ESE - Setúbal. Siza Vieira 1986-1994


A Escola Superior de Educação de Setúbal (ESE) é uma pequena maravilha no contexto da Arquitectura nacional, e no meio local onde se situa – Manteigadas em Setúbal. É a prova de que um lugar pode ser refeito com uma obra de arquitectura.
Esta escola está situada num pólo politécnico de Setúbal que contem diversos edifícios, onde este se destaca na sua relação com a envolvente. Não tenta nenhuma “integração” como agora se usa tanto apenas se afirma no respeito por aquilo que o lugar, antes da arquitectura, já possuía, valorizando-o.
Estudar num espaço como este torna-se um privilégio. A “construção” de um bom espaço eleva o espírito. Será isso quantificável ? Gerações irão usufrui-lo. Sem outros custos. E nem sempre são necessários grandes investimentos, como o presente exemplo pode atestar. Assim é o património. O contemporâneo e o histórico.
A valorização do que existe, evidenciando o seu potencial, é primordial na arquitectura. Este é o lugar da arquitectura.

segunda-feira, janeiro 10

Porta Sobre o Oceano


Edward Hopper - Rooms by the see (1951)

Gostaria de voltar a olhar o mar à minha porta e por ela sentir a luz que necessito. Saudade de futuro? Não sei, mas vontade de mudança.
Estaremos dispostos a trazer novos mundos para o (nosso) mundo? Teremos a coragem de ser aventureiros e criadores na nossa própria terra? É urgente libertar amarras. Podemos perder alguma segurança – medíocre aliás – mas ganharemos outro estado de espírito.
Abrir portas é preciso. Escancará-las. O mofo tem de sair, definitivamente!

quinta-feira, janeiro 6

Farol é preciso

Falar de politica vale sempre a pena. Mas falar agora sobre o contexto político do país é, no mínimo, desolador. Todos os temas relacionados com esta campanha raiam o cómico, caindo rapidamente no trágico. Penso que todos os seres lúcidos desejam que 21 de Fevereiro chegue depressa. Apesar de não ser certo o descanso. Temo que a tragédia volte mais rápido do que possamos prever.
Não me lembro de uma época tão tristemente, desinteressante e asfixiante. Sem perspectiva. Aparentemente sem horizonte. É estranho que todos os debates sobre a “espuma dos dias” me pareçam surrealismo de Série B. Como exemplo, o último “Quadratura do Circulo” foi, sem dúvida, o pior que eu já assisti. Reflecte bem o “espírito do tempo”.
Sugiro que falemos pois de outras coisas. Onde poderá estar um farol que me alumie a alma?
Até amanhã.

Edward Hopper

domingo, janeiro 2

Regresso

O regresso a casa é sempre um misto de desejo pelo reencontro do que nos é mais caro e uma súbita e precipitada nostalgia do lugar que deixamos – se dele guardamos boa memória. Assim foi, mais uma vez, no Funchal. Bom Ano Novo.