Zita Seabra
Vimos ontem a entrevista com Judite de Sousa na RTP1, a propósito do lançamento do seu livro “Foi assim”. Ainda não tive a oportunidade de o adquirir e ainda menos de o ler, com a excepção algumas partes que foram alvo da pré-publicação do jornal “Público” no dia 1 de Julho de 2007. Mas deixou-nos a vontade de o fazer.
No entanto não era sobre o livro mas sobre a entrevista que, para já queríamos reflectir. Porque nos parece pouco comum, entre os “ex-camaradas”.
Desde há muito que acompanhamos o percurso político de Zita. Dos tempos heróicos do PCP à sua dissidência. Da travessia no “deserto” à “imperdoável” aproximação ao PSD. Houve nesta ex-comunista algo de diferente. Algo que a diferenciou de muitos outros. A franqueza e até a honestidade intelectual que colocou em todo o processo. Alguém que rompe com toda uma vida de activista convicta e não se desculpa nem “reconstrói” a sua história é digno de admiração. Quem tem ou teve a coragem, vindo do comunismo, de dizer que é uma ideologia que não conduz senão ao totalitarismo? Muito poucos. Só por isso Zita merecia a nossa atenção. Mas esta não deixa o seu “passado negro” com os que lá ficaram. Não. Assume toda a sua (ir) responsabilidade por ter lutado daquele lado. Mais, diz que o fez com toda a convicção. Sem dúvidas. Como se quer de uma verdadeira comunista. Mas diz também quando as começa a ter. O que tentou fazer, enquanto acreditou que o comunismo era “reformável” e de como percebeu que não o podia ser de facto. Tudo isto é relatado sem subterfúgios. Sem tangas. Apenas com objectividade. Assumindo a sua verdade dos factos. É muito raro entre nós. E é essa crueza de Zita que a torna proscrita para boa parte da esquerda que nunca teve a coragem para o fazer. Nunca a teve a liberdade pessoal e intelectual para o dizer.
Mas Zita cometeu mais um pecado. Tornou-se do PSD. E isso tornou-a para a maioria da esquerda um mulher “sem moralidade” politica. Pois afastar-se do Comunismo é tolerável mas “sair” do espaço da esquerda isso já é imoralidade. Sim porque para muita gente a superioridade da esquerda é “moral”.
Zita com esta entrevista e supomos com este livro, não pretendeu fazer um ajuste de contas com a sua história. Apenas relatá-la. E isso, em si, já é muito saudável. Uma virtude. Redime o seu passado? Não, mas acrescenta.
Vimos ontem a entrevista com Judite de Sousa na RTP1, a propósito do lançamento do seu livro “Foi assim”. Ainda não tive a oportunidade de o adquirir e ainda menos de o ler, com a excepção algumas partes que foram alvo da pré-publicação do jornal “Público” no dia 1 de Julho de 2007. Mas deixou-nos a vontade de o fazer.
No entanto não era sobre o livro mas sobre a entrevista que, para já queríamos reflectir. Porque nos parece pouco comum, entre os “ex-camaradas”.
Desde há muito que acompanhamos o percurso político de Zita. Dos tempos heróicos do PCP à sua dissidência. Da travessia no “deserto” à “imperdoável” aproximação ao PSD. Houve nesta ex-comunista algo de diferente. Algo que a diferenciou de muitos outros. A franqueza e até a honestidade intelectual que colocou em todo o processo. Alguém que rompe com toda uma vida de activista convicta e não se desculpa nem “reconstrói” a sua história é digno de admiração. Quem tem ou teve a coragem, vindo do comunismo, de dizer que é uma ideologia que não conduz senão ao totalitarismo? Muito poucos. Só por isso Zita merecia a nossa atenção. Mas esta não deixa o seu “passado negro” com os que lá ficaram. Não. Assume toda a sua (ir) responsabilidade por ter lutado daquele lado. Mais, diz que o fez com toda a convicção. Sem dúvidas. Como se quer de uma verdadeira comunista. Mas diz também quando as começa a ter. O que tentou fazer, enquanto acreditou que o comunismo era “reformável” e de como percebeu que não o podia ser de facto. Tudo isto é relatado sem subterfúgios. Sem tangas. Apenas com objectividade. Assumindo a sua verdade dos factos. É muito raro entre nós. E é essa crueza de Zita que a torna proscrita para boa parte da esquerda que nunca teve a coragem para o fazer. Nunca a teve a liberdade pessoal e intelectual para o dizer.
Mas Zita cometeu mais um pecado. Tornou-se do PSD. E isso tornou-a para a maioria da esquerda um mulher “sem moralidade” politica. Pois afastar-se do Comunismo é tolerável mas “sair” do espaço da esquerda isso já é imoralidade. Sim porque para muita gente a superioridade da esquerda é “moral”.
Zita com esta entrevista e supomos com este livro, não pretendeu fazer um ajuste de contas com a sua história. Apenas relatá-la. E isso, em si, já é muito saudável. Uma virtude. Redime o seu passado? Não, mas acrescenta.
3 comentários:
Pois olhe sr. arquitecto,
não é mau evoluir da esquerda para a direita. Já não digo o mesmo do inverso que é retroceder, regredir, ser-se burro e isso, que eu saiba, ainda não aconteceu a ninguém o que prova a minha tese. Até o Durão Barroso veio da esquerda. Os jovens, na sua grande maioria começam com ideias de esquerda mas com o tempo acabam por amadurecer e acabam na direita. Evolua o sr. também. :)
Não sabemos se será uma "evolução", mas Churchill dizia do alto da sua sabedoria qualquer coisa como "aos 18 anos esse revolucionário, aos 30 social democrata e aos 50 conservador".
No entanto, o que considerámos um "pecado" é o facto de, em Portugal, um ex-comunista tornar-se do PS é aceitável, mas mais do que isso é impensável. Tão só. O que torna a personagem ainda mais "original" no nosso pequeno País.
"...em Portugal um ex-comunista tornar-se do PS é aceitável..."
Porquê? Não basta ver-se por exemplo os exemplares PS do actual governo? Não vejo diferenças.
Só as vejo efectivamente na oportunidade que certas pessoas demonstram em eternizar o "tacho" independentemente das suas inflexões ou mudanças de ideologia. E não vou citar nomes que todos conhecem (excluindo Carlos Brito).
No caso presente de Zita Seabra, outros a precederam e bem mais cedo, com décadas adiantadas. Muitos descobriam isso mesmo antes da queda incómoda do muro de Berlim.
Mas da entrevista de Zita Seabra o que mais me surpreendeu foi a fria dissecação do interior do PCP. Afinal acho que o lendário "Chico da CUF" estava cheio de razão!
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