Steve Jobs, o
criador da Apple, tornou-se um ícone do nosso admirável mundo novo por muitas
razões mas uma foi determinante: ele acreditava que um produto para ser relevante
teria de ter um bom design, quer no seu exterior quer no seu interior, do
hardware ao software. Por isso os produtos por si criados tornaram-se objeto de
culto e geraram uma legião de consumidores por todo o mundo.
Podemos afirmar
que a qualidade de um produto só perdura no tempo quando o que é mais e o que é
menos visível conseguem proporcionar um desempenho equivalente. Quando tratamos
só da parte mais visível, algures no tempo, o que é menos visível acaba por vir
à superfície desqualificando a apreciação global.
Tal como um
computador, uma cidade é constituída por muitos componentes, uns visíveis outros
menos. A todos se deve dar a mesma atenção para conseguir atingir a qualidade.
Quando assim não acontece algo acaba por correr mal.
Vem esta observação
a propósito de uma visita realizada à Azinhaga dos Espanhóis (entre a Rua
Camilo Castelo Branco e as traseiras da D. João II, perto do Hospital de S.
Bernardo) onde tivemos a oportunidade de ver e ouvir um conjunto de queixas apresentadas
sobre o abandono a que está votado aquele interior de quarteirão (casas em
ruina, ausência de arruamentos e arranjos urbanos, deficiente higiene e
limpeza, concentração de animais em condições desadequadas, etc.). Fomos
transportados para um cenário de terceiro mundo que pensávamos já não existir
em Setúbal.
Mas infelizmente
este está longe de ser caso único. Vários são os “interiores” de quarteirão, que
se arrastam numa condição equivalente há décadas, não sendo sequer exclusivo da
Freguesia de S. Sebastião. Qualquer um de nós pode encontrar exemplos
equivalentes em todas as outras freguesias de Setúbal.
Apesar de ser
consensual que Setúbal melhorou a imagem urbana esta tem-se concentrado nos
principais eixos viários e nos espaços e edifícios públicos de maior
centralidade e visibilidade (por vezes excessivamente) deixando as zonas menos
visíveis sem resolução de fundo e votadas ao abandono.
Melhorar só o que
é visível pode deixar, numa primeira fase, a maioria das pessoas satisfeitas. Todos
os cidadãos desejam ter acesso à qualidade. Contudo, a desilusão é inevitável quando, por contraste,
se verifica que zonas desqualificadas se mantêm. O grau de exigência aumenta quando
se eleva a qualidade, tornando mais evidente a sua ausência.