“Ser Independente”é uma questão controversa. Difícil mesmo. No caso da Arquitectura a coisa pode ainda ser mais…complicada.
Individualmente essa questão coloca-se do ponto de vista intelectual, emocional ou até ético e moral. Mas como se coloca profissionalmente?
Ser independente de quê? Numa disciplina em que se vive uma tensão permanente entre o belo e o útil, entre a arte e a técnica o que poderá isso significar?
E ser independente de quem? Do poder político, do económico, do cultural ou corporativo?... e viver de quê?
Começando pelos aspectos disciplinares. O mundo está a mudar. E a criação artística também. Em todas as áreas e particularmente na arquitectura. Com a pulverização dos limites entre as diversas artes, para que se caminha, volta a ser o espaço o único elemento de ligação entre todas. Como já o foi no passado. Na Idade Média não existia uma separação entre as artes. Tudo era Catedral. Assim como não existia uma separação entre arte popular e erudita. As divisões surgiram com a “modernidade”. No Renascimento. Onde se estabeleceram limites que tornaram a criação acessível só a alguns: os artistas. Mas essa realidade está em transformação, em particular na arquitectura.
Por um lado, face a uma complexificação dos processos e das disciplinas envolvidas no projecto, pela necessidade de responder a problemas mais exigentes este é, tendencialmente, uma realização colectiva. Por outro, os meios tecnológicos tornam a concepção (aparente) mais acessível. Todos podem (e muitos querem) ser criadores do seu mundo. E ter os seus objectos, as suas músicas, os seus filmes e, naturalmente…os seus espaços. Personalizados, únicos, só seus. Que papel terá o arquitecto do futuro colocado entre o anonimato e o serviço personalizado?
Num certo sentido, poderemos estar a caminhar para uma fase da concepção projectual mais interdependente que independente, quer por necessidade de incorporação de outras disciplinas e agentes na procura de soluções quer por constrangimentos económicos e ecológicos. Fará sentido falar em independência neste contexto?
O arquitecto já é, actualmente, mais o gestor de um processo e menos o “iluminado” que projecta o mundo e vive isolado na sua torre, ou aquele que faz os “bonecos”no seu “vão de escada”. O processo de design parece estar definitivamente a matar o “pai”, o projecto, assumindo-se como a resposta possível a um mundo sempre mais incerto. O projecto é hoje, e será ainda mais no futuro um processo contínuo. Não estamos a defender a ideia da “obra inacabada” mas a possibilidade de esta ser permanentemente alterada. Como a cidade. Será a mutabilidade o maior valor da obra de arquitectura no futuro?
Os arquitectos, provavelmente, deixarão de ser autores para ser consultores ou mediadores. Que consequências terá na organização do trabalho e no papel tradicionalmente atribuído ao arquitecto e na sua independência?
Existe ainda a questão da sobrevivência, menos interessante mas mais polémica. O arquitecto tradicional necessita que promovam obras para sobreviver. E quem promove essas obras? Fundamentalmente o Estado, as Autarquias, os promotores imobiliários e os particulares. E serão estes independentes em Portugal? E que papel tem tido a sua associação profissional para tornar o exercício da profissão mais independente numa sociedade em mudança?
Eis algumas interrogações que gostávamos de ver abordadas neste número da JA. Se o publicarem óptimo! Se não…somos independentes para o fazer http://www.memoriasdeadriano.blogspot.com/"
Paulo Pisco
Arquitecto
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