quinta-feira, fevereiro 22

Cidade - das políticas aos projectos



“Toda a gente acha, com nostalgia ou confusão, que a cidade já não é o que era”

Nuno Portas






Fomos assistir a esta primeira conferência - a primeira de um ciclo, todas as quarta até 11 de Abril – com o Arquitecto Nuno Portas (NP) gostando-se ou não, um dos homens que mais tem contribuído para a “cultura” arquitectónica e urbana no País. Ouvir NP é, sempre apreender mas, simultâneamente, reflectir. A sua postura é de interpelação constante, não fugindo da opinião e, por vezes, provocação.

A capacidade de síntese, fruto de uma vida de reflexão/acção sobre as problemáticas da cidade contemporânea é notável. Portas faz a defesa da cidade “nova” a de “fora”, em contraposição com a de dentro, a cidade tradicional ou antiga. Neste sentido diz não ser possível, hoje, separar as duas, anulada que está, a tradicional divisão cidade/campo. Será urgente estudar esta cidade “outra” que este arquitecto recusa classificar como sub urbana, preferindo vê-la como “entre cidades”. Os limites são quase impossíveis de definir com precisão.

Para além deste desafio ao pensamento contemporâneo sobre a cidade “que já não é o que era”, refere NP, após ter feito uma breve síntese histórica da “evolução” da cidade nos últimos anos, onde o automóvel individual veio transformar tudo, vem reconhecer que planear a cidade é, agora, “fazer de conta que se controla um processo que corre por si”. A luta contra o tempo, onde a resposta da administração é essencial, é determinante hoje. “O PIB é um dos principais responsáveis pela mudança na cidade e no território”, dirá NP.

NP dá ainda o concelho de tornar os instrumentos de urbanismo e ordenamento do território menos regulamentares e mais voltados para a negociação. Num tempo de incertezas e onde tudo muda com rapidez a aposta tem de ser na melhoria dos processos “learning organization” para melhorar os resultados.

O arquitecto, chama ainda a atenção para a tendência actual de tornar o planeamento estratégico num mero instrumento de marketing político. Errada do seu ponto de vista. Porque o planeamento estratégico deve ser um instrumento eminentemente técnico/politico operativo e não de propaganda.
Interessante opinião, após a visita à exposição sobre o Programa Polis (muito bem concebida pelo nosso amigo João Trindade), onde o Marketing é evidente.

Sobre o Polis de Setúbal aparece apenas o Parque Urbano de Albarquel…


quarta-feira, fevereiro 21

segunda-feira, fevereiro 19

Novo tempo em Setúbal?



Apesar dos tempos difíceis que estamos a atravessar em Setúbal algo parece estar a mudar. Nas últimas semanas realizaram-se dois debates que promoveram uma reflexão séria e pouco habitual sobre a cidade e o concelho. Consideramos a sua realização e a forma como correram, um sinal de abertura e disponibilidade para um “novo tempo” de politicas urbanas: «Que futuro para Setúbal?» promovido pelo Diário de Noticias e pela TSF, no Charlot, a 31 de Janeiro e, «Quartel do 11 que futuro?», promovido pela LASA, no dia 8 de Fevereiro, no Clube Setubalense. Ambos participados e com casa cheia.


A promoção de eventos que contribuam para a melhoria de Setúbal é uma forma de tirar a cidade e a região do impasse em que se encontram. Obrigar as “elites locais” a organizarem-se na defesa dos seus interesses é a única maneira de dinamizar e orientar o nosso futuro comum. Está visto que a atitude passiva não dá resultados. Continuar a confiar apenas no poder instituído para resolver os nossos problemas é um erro, já evidente para todos. A sociedade setubalense tem de assumir as suas responsabilidades. Tem de dizer o que pensa e o que quer. E também o que não quer. Este deve ser o caminho.




Como já referimos aqui, em artigo anterior, a região envolvente de Setúbal tem condições naturais excepcionais para o seu desenvolvimento. A proximidade da área metropolitana, com o maior rendimento “per capita” do País, constitui uma vantagem acrescida. Falta qualificar os recursos humanos e tornar a cidade de Setúbal num verdadeiro pólo complementar a toda a envolvente natural e paisagística. Esta deve ter tudo o que a sua região envolvente não tem. Concretizando: Tróia vai ter turismo de qualidade. Para o servir precisa de mão-de-obra qualificada. Terá de ser aqui que a vai encontrar. Quem está em Tróia procurando o melhor que a natureza tem para oferecer tem hábitos urbanos. Se Setúbal oferecer um conjunto de comércio e serviços de primeira linha, é a Setúbal que esses turistas virão satisfazer as suas necessidades.



É neste conceito de centralidade urbana complementar que a cidade tem de assentar. Não podemos continuar a perder tempo em discussões extremadas e do passado. Dou dois exemplos:

Não tem interesse saber se a cidade é turística ou industrial. Ela tem de oferecer aquilo que a envolvente natural não oferece e tem de “obrigar” a sua indústria a ser cada vez mais “amiga do ambiente”. As que não forem terão de sair. Mas tem de ter, necessariamente, as duas valências para se poder afirmar como um pólo de serviços e comércio regional. As cidades competitivas têm de acrescentar, não de excluir.

Outro exemplo é a discussão sobre a defesa do património. Esta continua a girar em torno de duas dicotomias que nos parecem redutoras e ultrapassadas: A primeira é olhar para o património como algo de “antigo”, excluído do presente e condenado no futuro. Preferimos ver o património como tudo o que de bom deixamos às gerações futuras. Seja feito hoje ou há quinhentos anos. A segunda é considerar que a única forma de salvar o “património histórico” ou identitário é através do Estado (ou das Autarquias). Já todos devíamos ter percebido que a intervenção do Estado está cada vez mais limitada porque a manutenção do chamado “modelo social europeu” absorve cada vez mais os recursos, deixando pouco para o resto. Então teremos que equacionar, antes de mais, a vocação estratégica dos edifícios em causa e só depois procurar soluções economicamente sustentáveis a prazo. Não se pode ficar refém de uma reivindicação sobre o Estado (ou Autarquia) para solucionar, por si, tudo aquilo que nos parece essencial preservar.

Para “salvar” o Quartel do 11 ou o Convento de S. Francisco (referindo só estas duas “bandeiras” da LASA), não podemos esperar “sentados” por soluções do sector público. Este tem de participar – até porque nestes dois casos são sua propriedade – mas como defensor do interesse público, nunca como especulador imobiliário. Deve promover e enquadrar soluções envolvendo o sector privado “amigo do património”, onde este seja uma mais valia para desenvolver a sua actividade. Não deve entregá-lo a quem o queira destruir.



As cidades para se manterem “vivas” têm de preservar a sua memória com os olhos no futuro, não podem ficar paralisadas em “enredos” do passado. Busquemos um tempo novo.

Publicado, hoje, no Jornal de Setúbal

domingo, fevereiro 18

Scoop



O último filme de Woddy Allen é puro entretenimento. Não tem nada de mal. É uma espécie de pausa que este realizador usa para ganhar balanço para nova surpresa.
O que não deixa de ser extraordinário é a capacidade de Woddy transformar a, recentemente considerada, mulher mais bela do mundo, na mais vulgar das criaturas. A necessidade de alter egos é uma constante na obra deste realizador, mas começamos a pensar ser (mais) uma pequena perversão sua tornar belas mulheres tão pouco atraentes quanto ele próprio. Será fetiche da idade?

Esperança



Gustav Klimt

A Esperança I

1903

quarta-feira, fevereiro 14

Cidades 7


Gustav Klimt

Malcesine at the Garddasee

1913

O primeiro beijo


Gustav Klimt

The Kiss

1907 - 08


Homenagem ao primeiro beijo (em dia simbólico) . A todos os primeiros beijos. Sempre estranho, intrusivo e violento. Mas iniciador do amor físico. Preludio de outros prazeres, de tantos encontros e desencontros. Com o outro e connosco. Aqui fica o registo.

domingo, fevereiro 11


O tom geral dos resultados foi, relativamente, cordato. O “sim” ganhou de forma expressiva, apesar da enorme abstenção.

Amanhã começa o que verdadeiramente interessa, lutar pelas melhores condições de vida. De todos. Recomendando, por parte de alguém que votou não, o respeito da dignidade de todo o ser humano. Esperando com sinceridade que em Portugal o aborto se torne residual e que o serviço nacional de saúde responda com eficácia aos objectivos de quem precise de recorrer a esta prática extrema.

Hoje, na nossa sociedade, abastada, envelhecida e sem esperança no futuro, a urgência e o mais importante é promover o nascimento de mais crianças.

Sentimos, por isso, que Portugal chegou tarde e, eventualmente, sem necessidade a esta circunstância da “modernidade” europeia. Como defendem os que confundem mudança com melhoria. Num futuro mais próximo do que possamos imaginar estaremos a discutir outra realidade. Nem que seja por necessidade absoluta de sobrevivência futura necessitaremos de mais nascimentos. E talvez ai volte-mos a por a “fronteira” no sítio que nos parece mais correcto. No primado da existência como algo de inviolável. Até lá só resta mudar a concepção “materialista” da sociedade em que vivemos.

Esperemos que tudo isto não tenha servido só para ajustar contas antigas…

Amanhã nasce de novo o sol. E por isso haja esperança.

Sociedade civil

Parece que, também, nos movimentos todos são vencedores.

Afinal não temos assim tantas diferenças relativamente aos partidos.
Em 31 de Outubro de 2006 escrevemos:

"O actual referendo sobre o Aborto levanta-nos os seguintes comentários eventualmente desconexos, mas sentidos e reflectidos:

Este assunto poderia e deveria ser resolvido na Assembleia da Republica. Existem diversas propostas na mesa para que assim seja. Mais à esquerda ou mais à direita mas fundamentalmente ao centro. São os extremos político partidários que mais reclamam a realização deste referendo.

As pessoas moderadas, com experiência de vida e com uma consciência profunda da natureza humana e das contradições entre o desejo e a realidade sabem que este assunto é, no mínimo controverso. Votar num sentido ou noutro é sempre, de alguma forma votar sempre contra uma parte de nós.

Ao longo do último referendo falamos com muitas pessoas sobre este assunto e notámos um grande incómodo na sua abordagem. Muitas delas, quanto mais se falava, menos vontade tinham de votar. Se bem nos recordamos, também então, as sondagens pela despenalização do Aborto eram maiores. No entanto, o resultado foi o que se viu.

Concordamos com a opinião expressa por D. José Policarpo, a sociedade não vai superar os 50% de participação neste referendo. Quanto mais se falar mais aumentará a abstenção.

Não parece ser útil a ninguém, este referendo. A não ser aos extremistas ou aos que querem “um tira teimas” em relação ao último "não". E ainda ao Eng. Sócrates que mantém a malta distraida durante uns tempos.

Por isto tudo parece-nos desnecessário.(...)"

Abstenção

a 60%. Vale a pena pensar nisto...

Prognósticos antes do jogo


O que se irá passar esta noite?

Parece que a questão de fundo para hoje e para os próximos dias vai ser: será que o instituto do referendo está posto em causa?
Muitos dirão que o povo pouco “instruído” parece não “merecer” este instituto. Outros ficarão desiludidos por terem feito tanto e o povo não responder ao seu apelo. Vai-se culpar o costume. Os portugueses, os políticos, o sistema, o costume.

Amanhã a típica depressão nacional vai-se abater sobre tudo o que for comunicação social. Ninguém mais se lembrará do que verdadeiramente estava em causa. A vida humana. A melhoria da “vida humana”. Seja pelo “Sim” ou pelo “Não”, todos queriam melhorar essa “vida”. Seja pelas “mulheres” que abortam ou pelas “crianças” que devem nascer.

O que verdadeiramente irá mudar amanhã? Suspeito que pouco. Ficará apenas a sensação de inutilidade de tudo isto. Sem que nada de fundamental mude. Estarão, o país e os portugueses em condições de despender tanta energia em torno de inutilidades?


Perguntamos humildemente?…

terça-feira, fevereiro 6

segunda-feira, fevereiro 5

David Mourão Ferreira 2


"Mal fora iniciada a viagem,

um deus me segredou que eu não iria só.

Por isso a cada vulto os sentidos reagem,

supondo ser a luz que o deus me segredou."



David Mourão Ferreira in "Inscrição sobre as ondas"