Foi a pergunta realizada esta semana num artigo do Público (23.10.07), por Maria Filomena Mónica (MFM). O argumento central era o de que «os pais só mandam os filhos à escola quando nisso vêem um benefício». O que parece ser relativamente obvio, acreditando numa certa dose de racionalidade nas opções que os pais, que na sua grande maioria desejam o melhor para os seus filhos, fazem e fizeram ao longo dos tempos.
Esta pergunta provocatória faz repensar sobre a natureza do “problema” em análise e na sua formulação. A educação é um bem em si? Ou é um instrumento para se conseguir uma vida melhor, para os próprios e para a sociedade? Tradicionalmente os portugueses foram pouco crédulos nas virtudes do ensino, pelo menos do ponto de vista prático, governantes e governados pouco fizeram para mudar a situação. A vontade de alargar o ensino a todos viu em dois momentos históricos um impulso: Na primeira republica, tendo ficado mais pela palavra do que pela efectivação no terreno - para aprender é necessário escolas e professores e eles eram praticamente inexistentes fora dos grandes centros urbanos do inicio do século XX – e com a reforma de Veiga Simão já no entrar da década de 70 que veio a continuar o seu impulso depois de 1974 com o regime democrático. A primeira foi travada pelo Estado Novo a segunda ainda está em curso, mas com problemas estruturais para se efectivar. O 9ºAno – obrigatório desde 1986 – está praticamente adquirido, apesar do Abandono escolar ainda existente. Mas a realidade do País já não é rural, os filhos já não são necessários para ajudar nos trabalhos do campo…e assim é preferível ficarem na escola até… poderem trabalhar. A escola como “depósito” mais do que como investimento num futuro melhor continua a ser uma realidade. Porquê? Segundo MFM a “racionalidade dos pais” continua a fazer sentido. «Um momento houve, em 1974, em que tudo pareceu possível. Mas a esperança de que Portugal se pudesse tornar numa sociedade meritocrática está em vias de desaparecer. A maioria dos pais considera, mais uma vez, que não é através da escola que se sobe na vida, mas através de "cunhas"» Esta é uma realidade de que pouco se fala, mas continua a ser um dos travões à nossa modernização e um dos aspectos a que a democracia ainda não deu cabal resposta. A sociedade portuguesa, apesar de diferente continua muito pouco dinâmica.
MFM acrescenta que «Os filhos dos mais desfavorecidos, mesmo com curso superior têm muita dificuldade em vingar. A revolução contribuiu para que muitos acreditassem ser a educação o caminho para uma vida melhor. Ao longo das últimas três décadas, os pais fizeram enormes sacrifícios para levar os filhos até à universidade. Não é raro encontrarmos empregadas de limpeza ou taxistas - os indivíduos das chamadas classes baixas com quem os intelectuais têm contacto - que alimentaram sonhos quanto à mobilidade social dos descendentes. Vendo-os desempregados, sentem-se, como é óbvio, ludibriados.» Sem perspectivas de mudança de vida para que vale um tão grande investimento? O abandono escolar poderá ser resolvido pela escola? Dificilmente. Está mais na mão da família e da sociedade. Depende da percepção que for dada pela realidade, para se perceber que a opção “racional” passa pela escola, a sociedade portuguesa tem de mostrar mais mobilidade e permitir que os que mais se esforçam e trabalham sejam recompensados e ser perceptivel que esse esforço e capacidade também passam e se desenvolve na escola. Se continuarmos a ver só os filhos dos privilegiados em posições de destaque, pouco podem acreditar nas vantagens da escola, para si e para os seus filhos, aqueles que não o são.