domingo, dezembro 20

Novos ventos

É com alguma alegria que começo a ver um outro tipo de discurso disciplinar na arquitectura e no urbanismo. A revista JA (www.jornalarquitectos.pt) chegou-nos esta semana e o título é «SER POBRE» (BEING POOR). E desde o editorial, de Manuel Graça Dias – Uma Cidade Democrática (repescando parte dos pontos de vista de um artigo do número 234 da JA de Jordi Borja) – aos projectos escolhidos e aos ensaios apresentados, passando pela entrevista ao Filipe Balestra, tudo parecia caminhar num outro sentido. Diferente daquele que temos ouvido nas últimas décadas, muito centrado nas questões disciplinares e pouco ligada á vida das comunidades que deu origem ao "Star System" vigente.

Numa das últimas edições do Jornal Expresso o Arq. Souto Moura respondeu a uma “encomenda” do Jornal, onde realizou um projecto de uma casa com um orçamento reduzido para uma família de classe média, onde justamente colocava a arquitectura ao serviço das “classes populares”. Referindo-se na entrevista como sendo esse um dos sentidos desejáveis da arquitectura nos próximos tempos.

As cidades, sempre no centro deste debate, têm de ser alvo de reflexão sobre os caminhos trilhados nas últimas décadas. O direito de acesso à habitação, hoje, alia-se ao do acesso à cidade e à cidadania. Estes têm de se tornar direitos fundamentais para todos. A vida urbana não se compadece com a crescente segregação da cidade. Esta tem de voltar a ser de todos e para todos. Juntos nas diferenças. O objectivo é difícil mas possível e desejável. De outra forma seremos mais pobres como seres humanos. Continuar a construir muros não nos parece urbano, mas sub-humano.

Pôr a arquitectura e o urbanismo a pensar no interesse público é um sinal positivo dos novos tempos. Estas disciplinas começavam a estar confinadas entre o exibicionismo e burocracia mas, felizmente, novos ventos parecem querer soprar.

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