sexta-feira, março 5

Fechados não...


Hoje ao ler as notícias somos surpreendidos por várias que nos deixam um pouco perplexos:

Um estudo da Deco revela que 1/3 das crianças passam mais de 9 horas no infantário e que muitos pais reclamam o alargamento do horário.

O caso de bullyng que sobressalta o País fazendo saltar para as primeiras paginas a preocupação com o tema. Um aluno do sexto ano, que alegadamente se mandou ao rio Tua, da Escola Básica 2,3 Luciano Cordeiro, em Mirandela, num acto de desespero por ter sido alvo de constante perseguição por parte de outros colegas.

Não conseguimos evitar juntar estas duas informações e reflectir sobre a sua relação. Não deixa de ser um paradoxo a sociedade querer fechar os alunos nas escolas durante cada vez mais horas, com uma verdadeira obsessão securitária, onde nada nem ninguém pode entrar, ou sair, mas onde a natureza humana se revela implacável criando mecanismos de violência dentro da escola. Entre os alunos.

Tanta obsessão securitária resvala sempre nestes paradoxos. A violência é inerente à condição humana. Não conseguimos criar mundos acéticos. A violência tem de ser vivida, controlada e expurgada, preferencialmente, da melhor maneira possível, mas nem sempre é possível evitar. Mas temos que viver com ela.

Querendo evitar, o contacto dos alunos com o exterior, com o resto da urbanidade, levando estes de carro para casa, onde permanecem fechados também, os adultos não percebem o erro que estão a cometer. A grande concentração de alunos das mesmas idades, com pouca interacção de adultos, leva a comportamentos tendencialmente mais violentos. Deve haver poucos sítios mais tensos hoje em dia que algumas salas de aula. A violência inter-pares é por isso igualmente nefasta. E quanto mais concentradas no espaço e no tempo pior.

Por isso pareceu-nos evidente que quanto mais fechados e entregues a si próprios as crianças estiverem pior. Muito tempo concentradas em espaços específicos irá criar mais violência. É inevitável. Com a retirada da família e a sua alteração a sociedade (cidade) tem de criar outras formas de interacção entre gerações dentro e fora das escolas, onde os professores e funcionários não são suficientes. Em alguns países, ao nível dos infantários, dá-se um tempo aos pais (por parte das entidades patronais e dos infantários) para irem a meio do dia passar um pouco de tempo com os seus filhos. Esta pode ser parte da solução envolvendo não só os pais (não chega) mas fazendo participar toda a comunidade nessa interacção que pode ser realizada de múltiplas formas. Com riscos como tudo na vida, mas tornando a vida entre gerações mais interessante e colaborante.

Para isso a escola tem de ser mais permeável à cidade e esta mais amigável para as crianças e jovens. Só sendo mais urbanas as relações se podem harmonizar e resolver mais facilmente. Com tenções mas incorporando-as nos processos relacionais, deixando-as resolver por si e agindo com autoridade quando isso não é possível. Mais gente na rua e na escola são factor de segurança e não o contrário. A segurança é essencialmente um estado de espírito. Há que fomentá-lo. Encarcerar moles de crianças não parece ser a solução. Essa violência acaba sempre por se revelar, deixando-nos admiravelmente surpreendidos.
Fechados não...

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