Uma das consequências imediatas da
mudança de paradigma económico é a sua expressão no território e na cidade.
Sempre que muda operam-se alterações na maneira como vivemos o que de imediato
se reflete na forma como habitamos o espaço. Setúbal, aglomerado com história
já longa, tem estado muito marcado, para o bem e para o mal, pelos ciclos
económicos do sal, da conserva, da indústria pesada e, recentemente da
construção civil, associada ao crédito fácil e à especulação imobiliária.
O ciclo industrial da década de 60
alargou o seu perímetro urbano para mais do dobro, assim como a sua população.
Apesar da sua da sua falência, parte conseguiu subsistir e reconverter-se,
através de novos investimentos trazendo nova tecnologia. Esta passagem, que se
iniciou na década de 80, deixou muita da mão-de-obra intensiva e pouco
qualificada de fora, criando um desemprego estrutural onde alguns nunca mais
trabalharam, pelo menos na economia formal. No entanto, a cidade e o concelho
não diminuíram o seu número de habitantes, antes pelo contrário, tendo boa
parte do emprego passado para o setor terciário ou sido absorvido pela
emergente construção civil. Apesar da qualificação (escolar ou profissional)
continuar a ser baixa, especialmente se comparada com o contexto da área
metropolitana, ou com as restantes capitais de distrito, esta tem vindo a
aumentar consistentemente, mesmo tendo faltado uma universidade pública (como
aconteceu com Évora ou Aveiro, por exemplo).
Com a falência do modelo económico e
urbano assente na construção de novos fogos e consequente expansão territorial
e urbana (de 90 para 2001 “produziram-se” mais casas do que pessoas) chegou-se
aos dias de hoje com uma cidade maior mas com o seu centro tradicional (onde
incluímos não só o “histórico” mas toda a coroa construída até aos anos 60) desabitado
e em mau estado. Podemos apontar algumas razões para isso (arrendamento urbano
esclerosado, fiscalidade inadequada, desleixo, moda, falta de visão, de estacionamento…)
mas o que parece ser um facto é que, pelo menos ao nível do discurso político e
técnico, a reabilitação urbana (ou revitalização ou regeneração), parece ter
vindo para ficar. Voltou-se a olhar para o centro envelhecido.
Assim interessa começar a pensar o
que Setúbal (e Azeitão) tem para oferecer a este nível e definir políticas
públicas - em cooperação com vontades e desejos privados – que ajudem a tornar
o território e a cidade melhor e mais atrativo. Vamos só falar de alguns. Do
ponto de vista urbano Setúbal não é uma cidade monumental, ou com muito “património”,
mas ficou um centro histórico com grande dimensão (acompanha toda a Luísa Todi,
em Setúbal e com um conjunto de quintas e casas “senhoriais” em Azeitão
interligadas) que é, no nosso entender o seu maior legado urbano. Pois
adjacente a este temos uma serra magnífica (para nós sempre património da
humanidade) e um estuário, praia (cada vez mais urbana), bom tempo, estamos
perto da capital (mas com custos de contexto muito mais baixos), temos mercados
de frescos e um conjunto de serviços de saúde e geriatria já com alguma
qualidade de serviço) e uma industria e um porto pujante que só precisa
continuar a afinar os seus critérios ambientais e de relação urbana. Não temos
tudo, mas temos muito que pode ainda ser melhorado. É para isso que é
necessário olhar e promover, para se conseguir captar o interesse dos
investidores…porque eles andam por aí em busca de boas oportunidades e só com
políticas públicas facilitadoras de investimento, que tragam riqueza, poderemos
aproveitar este novo ciclo que se apresenta e que pode, finalmente, reconciliar
Setúbal com a sua natureza.
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