A procura da harmonização do espaço
humanizado com o natural tem sido uma constante ao longo da história, mas a sua
necessidade sentiu-se de forma mais premente quando o fenómeno urbano se
expandiu, em particular a partir da revolução industrial. Foi aí que se começou
a introduzir de forma mais sistemática a natureza na cidade como tentativa de
restabelecer esse vínculo perdido. Não é por acaso que é justamente com o
século XIX que os parques, os jardins e a vegetação nas ruas e avenidas se
tornaram tão importantes.
Mais recentemente reconheceu-se a
necessidade de estabelecer contínuos naturais que permitissem o fluir da fauna,
flora, vento e água naquilo que se determinou como estrutura verde (ou
ecológica). O “corredor verde” mais não é que um espaço urbano que permite a
permanência ou a mobilidade, em contínuo, dos elementos naturais, assim como
aos habitantes da cidade participarem e usufruírem destes. Tentou-se acabar com
a separação tradicional entre a cidade e o campo, passando este último a
integrar o primeiro.
Com o abandono do mundo rural (e
florestal) novos desafios se colocam, mas agora de sentido contrário. É agora a
cidade, através dos habitantes que maioritariamente aí vivem, que tem de se
deslocar até ao campo, para que este produza e se preserve. Para isso as
acessibilidades adequadas são importantes para permitirem a mobilidade entre
espaços urbanos e rurais com fluidez para benefício mútuo.
Faz todo o sentido criar “corredores
no verde” que se articulem com os “corredores verdes” para circular entre estes
dois mundos de forma ordenada. As suas fronteiras estão cada vez mais esbatidas,
quer por força da mobilidade residencial e laboral crescente quer pelo aumento
exponencial do tempo que se dedica ao lazer (cultura, desporto e turismo) e que
os faz aproximar ainda mais.
À cidade de Setúbal que está entre
duas reservas (Arrábida e Sado)- de alto valor, agrícola, ecológico,
paisagístico e mesmo patrimonial - uma boa articulação entre estes dois mundos
interessa muito. Curiosamente parece, hoje, ser mais difícil ordenar o espaço
natural que o espaço urbanizado, tornando-o ainda mais fechado.
Seja por desleixo, abandono, excesso
de burocracia ou mau planeamento, ineficácia, fundamentalismo ambiental ou uso
errado do direito de propriedade, o espaço natural tornou-se mais inacessível. Só
dificilmente se consegue sair do asfalto para percorrer caminhos devidamente
identificados, cartografados e autorizados. Fora as poucas pessoas que os conhecem,
todas as outras correm o risco de se perderem ou de involuntariamente invadirem
propriedade alheia.
Sugerimos pois que se institucionalizem
estruturas de decisão com os diversos agentes (incluindo proprietários) que permitam
ordenar, marcar e proteger caminhos públicos que criem os referidos “corredores
no verde” que proporcionem o usufruto da Serra e do Estuário por parte dos
caminheiros, desportistas, amantes da natureza e turistas.
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