O comboio, no
século XIX, quando chegou a Setúbal tornou-se um fator de desenvolvimento
importante. Ligava mais rapidamente (carga e passageiros) a cidade com o resto
do país e com a Europa, por via terrestre. Substituindo, em muitos casos, o
transporte marítimo e fluvial. O que numa cidade tradicionalmente portuária e
piscatória provocou uma alteração na sua forma urbana, iniciando o seu
crescimento para norte pelo efeito de atração, passagem e deslocação de pessoas
e mercadorias.
Contudo, esta
infraestrutura de transporte teve, a médio-longo prazo, um efeito perverso. Constituiu-se
como fronteira dentro da cidade, entre a parte central e poente (St.ª Maria, S.
Julião e Anunciada, hoje União de Freguesias) e a zona nascente (S. Sebastião).
Quem não se recorda do tempo despendido para atravessar a cidade de carro antes
das passagens desniveladas das Fontainhas e do Quebedo? Mas esta divisão,
apesar de atenuada, continua a dividir a cidade em duas. De que forma poderíamos
transformar este constrangimento numa oportunidade?
A linha poderia
ajudar a melhorar a mobilidade interna, que continua a ser um dos grandes
constrangimentos de Setúbal. Ao desarticulado desenho urbano, acresce a
deficiente rede de transportes que com a sensação de insegurança, aumentam a
necessidade de uso do automóvel, colocando o problema do trânsito para além do
razoável, acentuando as dificuldades de estacionamento. Esta realidade deveria
ser alterada estruturalmente e não com paliativos ineficazes, como o aumento do
estacionamento pago.
Assim, para
melhorar a mobilidade e atenuar a divisão da cidade (reforçada pela linha de
comboio), é agora o tempo de a tornar um lugar de convergência, utilidade e orgulho
para os setubalenses. Uma entrada digna para quem nos visita e um fator de
qualidade de vida para quem usa transportes públicos. Para o fazer deslocar-se-ia
a estação de autocarros para junto da estação de comboios e criar aí um bom
estacionamento que permita a articulação dos diversos modos de transporte, sem
perdas de tempo e dinheiro.
Essa estação
multimodal (como agora se chamam) seria uma nova centralidade urbana, com
espaço público qualificado. Associado a algum comércio e serviços tornar-se-ia,
para além de um lugar seguro, um ponto de encontro entre quem cá vive e trabalha
e entre quem chega e parte. Se possível com um ramal de ligação aos barcos,
ligando-a a Tróia, com um novo apeadeiro nas Fontainhas. Conseguem imaginar
quão interessante poderia ser percorrer este troço requalificado a terminar no
centro histórico?
Esse parece-nos
ser o sentido a dar à linha férrea, para que todos em Setúbal consigam apanhar
o comboio do futuro.