sexta-feira, outubro 21

Apanhar o comboio do futuro em Setúbal

O comboio, no século XIX, quando chegou a Setúbal tornou-se um fator de desenvolvimento importante. Ligava mais rapidamente (carga e passageiros) a cidade com o resto do país e com a Europa, por via terrestre. Substituindo, em muitos casos, o transporte marítimo e fluvial. O que numa cidade tradicionalmente portuária e piscatória provocou uma alteração na sua forma urbana, iniciando o seu crescimento para norte pelo efeito de atração, passagem e deslocação de pessoas e mercadorias.

Contudo, esta infraestrutura de transporte teve, a médio-longo prazo, um efeito perverso. Constituiu-se como fronteira dentro da cidade, entre a parte central e poente (St.ª Maria, S. Julião e Anunciada, hoje União de Freguesias) e a zona nascente (S. Sebastião). Quem não se recorda do tempo despendido para atravessar a cidade de carro antes das passagens desniveladas das Fontainhas e do Quebedo? Mas esta divisão, apesar de atenuada, continua a dividir a cidade em duas. De que forma poderíamos transformar este constrangimento numa oportunidade?

A linha poderia ajudar a melhorar a mobilidade interna, que continua a ser um dos grandes constrangimentos de Setúbal. Ao desarticulado desenho urbano, acresce a deficiente rede de transportes que com a sensação de insegurança, aumentam a necessidade de uso do automóvel, colocando o problema do trânsito para além do razoável, acentuando as dificuldades de estacionamento. Esta realidade deveria ser alterada estruturalmente e não com paliativos ineficazes, como o aumento do estacionamento pago.

Assim, para melhorar a mobilidade e atenuar a divisão da cidade (reforçada pela linha de comboio), é agora o tempo de a tornar um lugar de convergência, utilidade e orgulho para os setubalenses. Uma entrada digna para quem nos visita e um fator de qualidade de vida para quem usa transportes públicos. Para o fazer deslocar-se-ia a estação de autocarros para junto da estação de comboios e criar aí um bom estacionamento que permita a articulação dos diversos modos de transporte, sem perdas de tempo e dinheiro.

Essa estação multimodal (como agora se chamam) seria uma nova centralidade urbana, com espaço público qualificado. Associado a algum comércio e serviços tornar-se-ia, para além de um lugar seguro, um ponto de encontro entre quem cá vive e trabalha e entre quem chega e parte. Se possível com um ramal de ligação aos barcos, ligando-a a Tróia, com um novo apeadeiro nas Fontainhas. Conseguem imaginar quão interessante poderia ser percorrer este troço requalificado a terminar no centro histórico?


Esse parece-nos ser o sentido a dar à linha férrea, para que todos em Setúbal consigam apanhar o comboio do futuro.

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