quinta-feira, novembro 11

As Farpas

Adquiri e comecei a ler a publicação integral e original coordenada pela M. Filomena Mónica - publicado pela editora principiaAs Farpas, de Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão. A análise do país é extremamente negativa e com pendor decadente, o que de facto sucedia. Penso termos batido no fundo, enquanto nação, durante este século XIX – que teve a sua conclusão com o ultimato britânico. Mas o mais interessante é a qualidade literária com que é feito e o recorte da linguagem, apesar de a obra não ser constante neste aspecto.
Mas o que mais me impressionou foram: a coincidência dos problemas apontados ao país, e às suas gentes, com a actualidade; E justamente nos seus aspectos estruturais. Vejamos, se o que se segue, não podia ser escrito hoje, com total aderência à realidade.
“ Ora, como o Estado, pobre, paga tão pobremente que ninguém se pode libertar da sua tutela para ir para a indústria ou par o comércio, esta situação perpetua-se de pais para filhos como uma fatalidade.” Continuando “A pobreza geral produz um aviltamento na dignidade. Todos vivem na dependência: nunca temos por isso a atitude da nossa consciência, temos a atitude do nosso interesse”.
Não podia ser mais actual.
Um dos aspectos que caracteriza esta realidade é que até os “ricos” têm como principio não levantar ondas em relação ao Estado, ou aos seus representantes. Isso pode prejudicar os negócios, que claro está é tão dependente do Estado, ou mais, que qualquer empregado da Função Pública. A diferença não é portanto entre quem precisa, ou não, é entre quem tem essa libertadora coragem e os que preferem falar sempre baixinho, por causa do interesse.
O tão falado caso Marcelo Rebelo Sousa versus Pais do Amaral é ilustrativo do que pretendo sublinhar. E, nem que fosse só por isso, este caso, e a atitude de MRS tem um carácter pedagógico para um país tão habituado à surdina e ao medo. Nesse sentido penso ter sido exemplar a atitude do Professor.

1 comentário:

Aldino Brito disse...
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