terça-feira, junho 10

"Convoy" o comboio dos duros




Parece antever-se uma nova manifestação de camionistas. Segundo as noticias estão a preparar um cerco a Lisboa e Porto. Um “Comboio dos Duros”. Sempre que os camionistas se manifestam lembramo-nos deste filme. Este retratava as aventuras de uma coluna de camiões liderada por Rubber Duck (Kris Kristofferson) através dos estados de Novo México, Texas e Arizona como protesto pelos abusos do perturbado polícia (Xerife) Lyle Wallace, pondo tudo por onde passavam de “pantanas”. Dessas memórias de infância ficou o regozijo da luta contra a injustiça, aqui personificada pelo xerife. Transpondo isso para a nossa realidade, a respostas a algumas perguntas são mais difíceis: A luta dos nossos camionistas será justa? E o causador da injustiça, quem será? O governo? O Petróleo? A Globalização?

Esta luta é um protesto de um sector, como no caso das pescas, que se sente particularmente prejudicado pela conjuntura. Mas o apoio a um sector afectado por algo que não é criado por responsabilidade directa do Governo não poderá estender-se a muitos outros protestos de sectores igualmente prejudicados? A ajuda pontual aos transportes não será sentida como uma injustiça para outros? Ou poderá ser este já um sinal, como em 24 de Junho 1994, o bloqueio da ponte anunciou o fim do Cavaquismo? Talvez ainda não, mas os sinais nesse sentido começam a avolumar-se. Este bloqueio dos camionistas tem, apesar de tudo, características muito diferentes: pretende ter dimensão nacional e internacional, na medida em que condiciona exportações e importações. E pretende condicionar a mobilidade rodoviária principalmente em torno das grandes cidades de Lisboa e Porto e nas fronteiras. Parece que alguns bens de consumo já começam a faltar nos grandes fornecedores.

Vivemos tempos paradoxais. Ainda nos últimos dias em Serralves (Porto)67 mil visitantes, durante 40 horas gratuitas, entraram no Museu. Em Setúbal, onde residimos, sente-se grande adesão de público aos vários eventos, mais populares ou eruditos. As esplanadas estão cheias de gente a ver e a comentar os diversos jogos do Euro 2008. Mas simultaneamente a este País contrapõe-se um outro em agonia. A questão é saber se a adesão a toda esta festa é apenas alienação. Se for, um qualquer rastilho pode atiçar o barril de pólvora. Resta saber se este protesto será feito e sentido como um "um comboio de duros" ou se ficará apenas como mais um fenómeno fruto da época?


1 comentário:

A Vilhena disse...

E ainda há quem ande a pedir a demissão do Governo.

Não passa pela cabeça de ninguém contestar o que já não existe ou pedir a demissão de quem já se demitiu.

Neste 10 de Junho, Portugal vestiu-se de república de bananas, com autoridades da faz de conta, patrões camionistas mascarados de proletários motoristas, energúmenos transformados em vedetas de televisão.

E o Governo? E o Primeiro Ministro?
Onde param?

Simplesmente... não estão. Ainda aparecem na televisão. Ainda dizem coisas. Ainda parecem convencidos de que têm algum poder.

Não têm. Não mandam nada. Porque fugiram... mesmo estando cá.

Hoje, o Poder estava nas mãos daqueles camionistas travestidos de grevistas. Que fazem greves sem aviso prévio, cortam estradas sem dar cavaco a ninguém, e ainda se gabam, sorridentes e felizes, de não deixar passar nenhum camião!!!

Se são eles que mandam... são eles o Governo.

Pobres de nós.