Um dos desejos que temos para 2010 e para a década que se segue implica a mudança de perspectiva sobre o desenvolvimento territorial. Durante muitos anos, acentuado pelo atraso estrutural do País, a grande aposta foi a infra-estruturação do território. Este esforço, por si, faria com que o desenvolvimento chegasse por indução do “hardware”. Considerou-se que o “software”existente chegava bastando ser expandido. Foi um erro.
A infra-estrutura melhorou bastante e foi importante para assegurar o início da mudança, mas essa é, apesar de tudo, a parte mais fácil. Fazer o resto é mais demorado. Como a mudança foi muito acelerada as pessoas e os procedimentos mantiveram-se os mesmos. Conservando o “software” ele chega a um ponto de esgotamento onde já não produz mais nem melhor. Pode-se até aumentar o “hardware”mas o que se observa é a continua incapacidade de progressão e adaptação aos novos desafios. Quando isso acontece começamos a ter a sensação de estar a andar para trás porque tudo o resto avança muito depressa.
Mas por força da internacionalização da economia alguns sectores avançaram mais depressa e dentro de cada um deles, uns mais que outros. Assim quando olhamos vemos um País a duas velocidades. Nas áreas mais protegidas da concorrência (ou mesmo fora dela) sentimos regressão noutras, mais expostas, grande transformação. Mesmo nos serviços do Estado vemos grandes assimetrias e, por vezes, em serviços equivalentes. Não é difícil encontrar dentro da mesma universidade pública centros de excelência e outros completamente “esclerosados”,tal como serviços de saúde de ponta a conviverem lado a lado com as rotinas médicas mais ultrapassadas, só para dar dois exemplos.
Por ter sido tão rápida a transformação muitos de nós continuam a acreditar que o desenvolvimento necessário virá por via de um aumento da infra-estrutura pois foi através dela que melhorámos a nossa qualidade de vida. Mas esta crença tem levado a investimentos errados porque desnecessários ou mal dimensionados. Acredita-se que este induz sempre desenvolvimento mas já vamos tendo muitos exemplos que nos demonstram o contrário. Os estádios do Euro 2004 são disso um aterrador exemplo, onde com excepção de dois ou três (os que efectivamente deviam ter sido construídos) todos os outros são insustentáveis sem se saber o que fazer deles. E como os estádios muitas outras com menor dimensão e menos projecção se encontram com o mesmo problema. As próximas décadas serão de encerramento de muitas delas pelo País fora por incapacidade de manutenção. No sector público mas também no privado.
O que necessitamos agora é de investimento no “software” porque o “hardware” disponível, com algumas adaptações pontuais tem capacidade para o suportar mais uns anos. A competitividade dos territórios são essencialmente conseguidos pelas pessoas que têm ou conseguem atrair. Conseguir tornar a sua vida mais fácil para que estas libertem a sua imaginação, recursos e atenção para o que realmente interessa é a mudança necessária. A produção de valor e realização pessoal e colectiva fazem-se capacitando e mudando pessoas e sistemas. O que necessitamos é pôr o que já existe a funcionar em rede aproveitando ao máximo os recursos e infraestruturas existentes tornando-as sustentáveis logo rentáveis. Sejamos inteligentes temos de trabalhar, não mais mas melhor. Não construir mais mas preservar o que temos e melhorar a sua utilização.
Bom 2010.
Sem comentários:
Enviar um comentário