Publicado hoje no Sem Mais encarte do Jornal Expresso no distrito de Setúbal
Não se assustem com o titulo pois não defenderemos a criação de uma qualquer nova região administrativa. Vamos apenas tentar demostrar a necessidade de identificar uma realidade que começa a ter um corpo definido sem, no entanto, ter ainda uma cabeça e uma estratégia que a mobilize e direcione para garantir a sua sustentabilidade. A identificação dessa “cabeça” e a criação dessa estratégia poderá dar um novo sentido a todo um território que evidência uma personalidade própria. Senão vejamos...
Iremos identifica-lo sob ponto de vista da atividade turística (apesar de outras realidades económicas confluírem na mesma direção) porque nos parece ser uma das melhores formas, mas não a única, de conseguir exportar serviços conservando a população ativa no território, numa das atividades que mais talento temos para fazer: receber bem e oferecer o que nos sobra: património natural e humano e muito sol. Isto mesmo está a ser demonstrado pelo destaque que o país tem tido em todos os rankings e prémios do sector.
O território está identificado há muito, apesar de nem sempre o termos presente. Historicamente, a navegabilidade do rio Sado e a exploração dos seus recursos, constituiu o canal de desenvolvimento, que começou por ter Alcácer do Sal e mais tarde Setúbal, como núcleos urbanos principais. Este espaço cultural e natural, marginado a norte pela serra da Arrábida, separa-o da restante península de Setúbal, onde o rio funciona como elemento de ligação da paisagem e da restante comunidade sadina a sul.
A milenar ocupação humana do distrito de Setúbal, desde os finais do século XIX, tem vindo a consolidar duas zonas principais: a norte o arco ribeirinho sul, que é cada vez mais parte integrante da Grande Lisboa, e a cidade de Setúbal a sul, estando os restantes concelhos Alentejanos em perda populacional, com exceção da cidade portuária de Sines. As vilas de Sesimbra e Palmela, situadas na serra da Arrábida, perdem também alguma população, ainda que os seus concelhos cresçam, mas apenas a norte desta.
Percebe-se claramente que Setúbal é, no corpo definido por este território e a sua ocupação, o polo central nesta zona de charneira entre a AML e o Alentejo e a que podemos chamar Arrábida/Sado. Esta cidade deverá assumir, por isso, o papel natural de cabeça desta região.
Mas a Arrábida/Sado necessitam de uma estratégia para potenciar o que têm de melhor para oferecer numa visão complementar de oferta de serviços e “pacotes turísticos”. Enunciamos, de seguida, alguns dos aspetos essenciais de uma estratégia para potenciar esta região. Destacamos apenas sete que poderão ser mais tarde desenvolvidas:
I. Promover a região de forma complementar a Lisboa mas continuar a ela ligada – é, hoje, a maior marca de turismo em Portugal, tendo suplantado o Algarve – distinguindo os diversos “produtos turísticos” desta região singular;
II. Formar mais e melhor todos os agentes envolvidos na atividade turística;
III. Melhorar e diferenciar a oferta turística;
IV. Recuperar os centros urbanos das magníficas vilas e cidades que a compõem, porque como percebemos pelo indicadores turísticos mais recentes “ o sol e praia” e a paisagem sem urbanidade de qualidade complementar de pouco valem;
V. Requalificar ambientalmente o curso de água e incrementar a navegabilidade do Sado, pelo menos até Alcácer, envolvendo a industria e a agricultura nesse objetivo, aproximando as duas margens do Estuário envolvendo os diversos agentes nesse esforço, porque Setúbal e Troia ganhavam;
VI. Tornar a paisagem mais acessível e sustentada, seja ela: natural, marítima, fluvial, florestal e agrícola, ordenando caminhos e embarcações e mapeando e abrindo à atividade económica esse potencial ainda pouco explorado (observação da natureza, desporto ao ar livre, adegas, vinhas, arrozais , pesca e náutica de recreio, etc.) ;
VII. Apostar no turismo de saúde e no desenvolvimento dos serviços de geriatria e de saúde ligados à terceira idade, pois só assim poderemos atrair a terceira idade da europa e do mundo para esta região.
Poder-se-á assim potenciar uma região que se afirma em diversas áreas (portuária, industrial, vinícola) que também podem contribuir para melhorar a qualidade de vida de todos, através de uma estratégia clara em torno do turismo.
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