sábado, março 22

Páscoa

Filipe Pereira

Interior do Mosteirode Alcobaça
2008

Porque será que todos querem arranjar culpados?



Olhando para o que está escrito num artigo publicado hoje no Público (P2) sobre os comentários ao vídeo colocado no You Tube, sobre o “incidente” ocorrido na Escola Secundária Carolina Michaëlis, no Porto, ocorreu-nos perguntar:

Porque será que todos querem arranjar culpados?

Os Professores culpam os Pais, o Ministério, a Ministra, o Sistema, o Novo Estatuto do Aluno, “alguns Professores”, os Alunos, etc.

A sociedade culpa os Pais, “alguns Alunos”, os Professores, o Sistema, o Ministério, a Ministra, o Novo Estatuto do Aluno, o País.

O Ministério e o Governo culpam, os anteriores governos, especialmente o seu imediatamente anterior, os Professores, ou finge não existir razões para tanto alarme.

Os Partidos da Oposição culpam, o actual Governo, a Ministra, o Ministério, o Novo Estatuto do Aluno.

Os País culpam, os Professores, o Sistema, o Ministério, a Ministra, o Novo Estatuto do Aluno, “alguns alunos”, etc, etc…

Quando se anda sempre à procura da culpa significa apenas uma coisa: ninguém quer assumir a sua. Ou seja, mandando a responsabilidade para cima de alguém, ficamos todos mais aliviados. Não obrigando ninguém a assumir a sua quota-parte da responsabilidade, todos ficam bem, mas nada se resolve. Ficando tudo na mesma.

Só vemos alguma hipótese séria de tentativa de solução do problema da disciplina, quando todos os envolvidos, na medida das suas responsabilidades, procurem saber o que cada um pode fazer para resolver o problema.

Se continuarem a procurar a culpa, ela por cá, segundo dizem, “morre sempre solteira”.

sexta-feira, março 21

O Telemóvel como alerta?


O vídeo divulgado no You Tube, gravado em telemóvel, tem escandalizado o País. Sob o título 9.º C em grande!, mostra uma aluna do 3.º ciclo da Escola Secundária Carolina Michaëlis, no Porto, a agarrar e a puxar o braço da sua professora de Francês por esta lhe ter tirado o telemóvel. É de facto chocante, para quem não sabe o que hoje se está a passar nas escolas. Para os que sabem não é de espantar.

Passamos a explicar. Hoje, uma sala de aula, é um dos sítios mais tensos, com maior desassossego e mais difícil de controlar do nosso espaço público (ou semi-publico).

Não que seja assim em todas as aulas, mas acontece em muitas. E é uma ilusão pensar que esta realidade se circunscreve apenas às periferias das áreas metropolitanas. Não. Neste aspecto o País tornou-se igual. É um gigantesco subúrbio. A forma como os alunos no ensino básico se comportam dentro da sala de aula é equivalente em todo o País. No secundário está mais atenuado, mas com tendência a alastrar. Com a possibilidade de alargamento do ensino obrigatório até ao 12ºAno, esta realidade vai tornar-se equivalente, se algo não mudar.

A maior violência é entre os próprios alunos. Contrariamente ao que se faz passar na opinião pública é entre os pares que existem mais problemas. Mas, por vezes, essa falta de “saber estar” volta-se contra os professores. Como aconteceu no caso agora “filmado”.

Não se pense que este “estado de sítio” numa sala de aula é excepcional. Não estamos a falar da situação em concreto. Estamos a referimo-nos ao ambiente, ao “caldo de cultura” que aparece retratado no vídeo. E os pais e a sociedade, em geral, não têm a mínima consciência do que se está a passar. Hoje os professores são essencialmente monitores que evitam situações de conflito entre os alunos. E por vezes sobra para os próprios. O saber transmite-se pouco ou quase nada. E esta é uma das razões do nosso insucesso educativo, não a única, mas das mais importantes. E este problema só se pode enfrentar mudando o olhar de toda a sociedade sobre a disciplina na escola. Ela tem de ser encarada como uma questão séria. É muito mais importante para o sucesso do que a avaliação dos professores, apesar desta também o ser.

Sem um ambiente de sossego e concentração, na sala de aula, não se pode aprender em condições. Pensamos que todos concordam. Sem esta condição de partida poucos conseguem aprender e, normalmente, só os vindos de famílias mais estruturadas e instruídas. Esses aprendem, porque podem aprender fora da escola. Têm outros espaços para o poderem fazer. Quem só pode aprender na escola, e aprende pouco fora dela, não aprende de todo. Um mau sistema penaliza sempre os mais “fracos”. É da natureza das coisas. E por essa razão o nosso sistema de ensino é dos que mais reproduzem as desigualdades de partida dos seus alunos. E esta situação tem de mudar.

No ano passado apareceram umas imagens de um filme no interior de uma sala de aula numa escola de Lisboa. Os alunos andavam em cima das mesas passeando alegremente. A reacção do Ministério da Educação foi persecutória em relação a quem tinha filmado tais imagens e tinha permitido a sua divulgação. Não mostrando preocupação com o comportamento dos alunos. Se a memoria não nos atraiçoa foram imagens captadas por um circuito de vigilância interno da escola. Mas recordamos o Secretário de Estado que, confrontado com as imagens, se preocupou mais em tentar saber qual era a escola do que em explicar, ou em tentar, as imagens que estavam a ser transmitidas. O discurso foi sempre de desvalorização do incidente, classificando-o sempre como tal. Como um facto isolado. Quase que apetece incentivar os alunos a filmarem estes incidentes, pois eles, sabemos não serão punidos por isso. Já os professores…têm de viver quase em vergonha por estas cenas atingirem o cerne da sua dignidade profissional e muitas vezes lhes dizerem que são eles que não têm a autoridade que deviam para poderem ensinar. Para além de enxovalhados ainda passam por incompetentes profissionalmente por não porem os “meninos na ordem”.

Sabemos que atacar uma classe profissional é mais simples que responsabilizar toda a sociedade e, em particular as famílias para a importância de melhorar a disciplina nas escolas. Mas esse também tem de ser o caminho. Se assim não for, pouco ou nada vai mudar no nosso ensino. SE este triste incidente tiver a capacidade de tornar a sociedade mais alerta ao problema já foi um ganho. Terá sido um efeito colateral na intenção daquele menino mal educado, ao gravar o incidente, mas diz o ditado "que escreve Deus por linhas tortas"...

No Público hoje:

«Questionada sobre as preocupações então manifestadas pelo procurador--geral da República - que acusara a ministra de "minimizar a dimensão da violência nas escolas" -, Lurdes Rodrigues respondeu: "Não podemos desvalorizar um caso de violência. Mas não temos nas escolas um clima de violência generalizada"

quinta-feira, março 20

Barcos


Luís Torgal

Na doca pesca em Setúbal a

6 de Fevereiro de 2008


Fotografia publicada no www.olhares.com, que o meu caro amigo Torgal me apresentou. Recomendo vivamente este site a todos os amantes de fotografia. Pode-se encontrar por lá exxxxtraordinário material.

Obrigado Luís.

domingo, março 16

Haverá?



Um filme duro e seco como o personagem principal, Daniel Plainview (Daniel Day-Lewis) e a vida que levavam estes homens do Petróleo na transição do século XIX para o XX.
A banda sonora de Haverá Sangue é, também ela, de arrepiar o que ajuda a construir um ambiente quase sempre sinistro. Grande parte da narrativa é despovoada de sentimentos. Só a competição e a ganância permanecem em torno da vontade de ter mais e mais… Petróleo.
No fim o homem (Daniel) acaba sozinho com o seu império. Para alguns as relações humanas são apenas instrumentais e, por isso, a evitar sempre que possível. Pode, por vezes, parecer mais fácil cumprir a existência em torno de coisas ou objectos, mas a nossa fatal necessidade do outro sempre surge para atrapalhar. Dificilmente se consegue fugir da necessidade dessa relação. Na nossa humilde opinião, é dessa impossibilidade que este filme fala.
A interpretação de Daniel é fenomenal.
Vale a pena ver. Sem alaridos.

sexta-feira, março 14

Dividido mas solidário



Já vai quase uma semana sobre a “marcha dos professores” em Lisboa, após duas semanas de marchas em várias cidades por todo o País. Ainda aqui não falámos sobre este assunto mas é um dos temas que mais nos tem ocupado a atenção possível entre os diversos afazeres. No entanto, e a pedido de várias famílias, cá vai o que nos ocorre dizer sobre esta matéria:

Foi das situações em que nos sentimos mais divididos. Se por um lado, estamos de acordo que a forma, e por vezes o conteúdo, de algumas “reformas” na Educação (assim como de outras áreas da governação) estavam a ser mal conduzidas, por outro, consideramos indispensável que estas se realizem. O País não pode continuar bloqueado, sem realizar o que é indispensável para melhorar. Na Educação como em muitos outros domínios.

Por exemplo, a Avaliação é importante, não só para a profissão de professor, como para todos os Sistemas, incluindo o de Ensino. Mas mandar Avaliação para cima dos professores não, só por si, a resolução de todos os problemas. E é mesmo duvidoso que seja de alguns dos que se pretendem, como a diminuição do Abandono. Uma má Avaliação pode ser um factor de fracasso de qualquer sistema e não o seu sucesso. Tudo depende…E a proposta pelo Actual Ministério é deveras duvidosa a muitos níveis.

Começando por não se perceber qual o perfil do professor – ou do aluno - que se quer ter como exemplar. Caricaturando, mas nem tanto, um professor que seja rigoroso na avaliação dos seus alunos, pode provocar abandono aqueles que não acompanham o seu grau de exigência. Mas os seus alunos ficam a saber, mesmo o que tenham uma positiva sofrida. Enquanto outro que pretenda manter os alunos dentro da aula terá, necessariamente, estratégias diferentes. Poderá mesmo ter alunos que apenas frequentem as aulas sem aprenderem nada da disciplina em questão.

Para além do perfil desejado para o “bom professor”- ou “bom aluno” - a forma como se lançou este processo está a levar as escolas ao desespero. O que é, por si, uma consequência negativa de algo que se pretendia ser positivo. E o problema não é só a “complexidade” da Avaliação proposta mas a falta de critérios objectivos para a realizar. Sem se saber o que se pretende ter como “qualidade de ensino” como podemos seleccionar critérios?

Os aspectos críticos sobre a forma e o conteúdo das reformas, não são tudo. Somos favoráveis a que estas se realizem. Achamos mesmo que são indispensáveis. Mas não contra todas as pessoas. Só contra aquelas que apenas querem manter o seu pequeno quinhão de adquirido, sem se preocupar com a qualidade dos serviços ou do seu desempenho. Se não se lançarem as reformas de forma inteligente e inteligível não se fazem com ninguém. E estas não se realizam só no papel.

Outra dificuldade que sentimos foi a de temermos que a inflexibilidade governativa se agudizasse e conduzisse o actual executivo a um beco sem saída. Face a uma conflitualidade social imanente a inflexibilidade dos governantes revela falta de inteligência e mesmo impreparação para a governação. E se esta se vier a revelar vamos ter o futuro mais complicado pois o eleitorado não quererá repetir uma maioria absoluta tão cedo, o que torna as “reformas” mais difíceis de implementar, se não mesmo impossíveis.

Portugal necessita de recuperar alguns atrasos estruturais para ir de encontro aos seus parceiros europeus, para mudar vamos todos ter de mudar um pouco e para que isso aconteça temos de ter estabilidade governativa e politicas esclarecidas e reformistas. Mas para o conseguir temos de confiar uns nos outros, mesmo estando em campos diferentes. Como dizia o outro “ o que tem de ser tem muita força” mas pode ser com mais ou menos sofrimento dos envolvidos.

Por último, voltando à “marcha” pensamos que esta introduziu uma nova forma de lutar pelas causas laborais. De tal forma que os sindicatos foram obrigados a ir a reboque. Os professores viram, como classe, o seu prestígio aumentar pela forma como se manifestaram: Civilizada, ordeiramente e à sua própria custa (evitando prejudicar os alunos e suas famílias) marcharam pelo direito à indignação e à recuperação do merecido respeito profissional.




quarta-feira, março 5

A difícil travessia


Vivemos tempos difíceis. Mas isso já todos o sabemos. Já o sabíamos, antes até de o termos constatado. Com a adesão à Europa, quase todos suspeitaram que nada mais ia ser como antes. Mesmo quando o País parecia estar a melhorar os “Velhos do Restelo” apareciam para nos lembrar que era apenas uma doce ilusão. A modernidade não surge como um passo de mágica.

Mas a abertura ao exterior e a crescente urbanização da população não deixaram grande margem para o recuo. As expectativas de vir a ter um nível de vida equivalente aos restantes europeus ficaram marcados na nossa consciência colectiva. Mesmo sabendo, agora, o trabalho que isso dá.

Estamos como que a meio da ponte. Entre o que éramos e o que gostaríamos de ser. É preciso ter coragem mas nem sempre acreditamos que seja possível. A maioria das vezes desconfiamos de quase tudo: de nós, dos outros, deles. Especialmente destes últimos. D’eles. E eles são os que nos governam, ou os que são governados, os que mandam ou os mandados, os que ensinam ou os que são ensinados, tudo conforme as perspectivas, do lugar que cada um ocupa, a cada momento. Mas era importante perceber que não podemos ficar para sempre no meio da ponte. Temos que andar para a frente. Não de forma inconsciente, pois pior que voltar para trás, é despirmo-nos e cairmos. Mas de forma lúcida e inteligente sem desperdiçarmos as boas vontades e capacidades existentes para realizarmos uma boa travessia. A melhor possível e não a pior possível.

Vem tudo isto a propósito do que se passa entre o Governo e o País. O primeiro quer levar o segundo a modernizar-se. Para isso resolveu levar a cabo uma série de medidas para o efeito. Essas medidas vêm com a marca de reformas associadas a uma ideia de “modernidade”, onde muitas vezes parece que isso basta para as legitimar. E não basta. Para além da retórica é necessário que as medidas sejam realmente boas, bem pensadas e testadas, para depois serem generalizadas e implementadas.

E isto está a falhar. A determinação não pode ser confundida com teimosia. A determinação exige um acompanhamento atento da medida para que esta chegue, efectivamente, aos seus objectivos. E muitas vezes não serve cortar a direito, porque os danos podem ser superiores aos resultados. Muitas vezes têm que se realizar acertos e isso não é um acto de fraqueza mas de inteligência. O importante não é ter razão é reconhecer-se a razão.

O Governo actual está empenhado em fazer um retrato optimista do País e em considerar a sua intervenção como o principal responsável por isso. Esta estratégia, ao generalizar-se, pode levar o discurso a descolar da realidade. E se isso acontecer dificilmente se consegue restabelecer a comunicação com os governados. Um governo deve fazer um discurso mobilizador, mas isso não pode ser confundido com autismo, ou com a perda do sentido da realidade. Toda a gente acha uma certa piada aos lunáticos mas ninguém quer ser governado por eles. E com o País a sofrer um período de grande dificuldade e quebra de expectativas, é fácil o excesso de optimismo não ser reconhecido como razoável. É um erro confundir vontade de mudança com excesso de confiança. Reconhecer o erro sem perder o objectivo do que se pretende, tem de ser incorporado no quotidiano político, quer por parte dos governantes quer dos governados.

Mudar os governantes não muda, por si, a necessidade de atravessar a ponte. O País tem de exigir a qualidade na travessia e não ficar na constante hesitação sobre a necessidade de a atravessar. O erro pode ser corrigido sem mudar de desafio. A melhoria da qualidade da travessia passa por todos. Até por aqueles que acham que deveríamos voltar para trás.

Parabéns ao PÚBLICO


O melhor jornalismo escrito. E, actualmente, o jornal mais livre face aos poderes instituidos. A edição de hoje é, mais uma vez, a prova disso mesmo.
Faz 18 anos. Esperamos que a "maioridade" acrescente, sem retirar o essencial: A qualidade do Jornalismo.

segunda-feira, março 3

Estão de volta


Hoje pela manhã, como fazem todos os anos, ao longo dos séculos e dos milénios, elas chegaram. Vindas de Sul, em bando, as Andorinhas, ai estão para confirmar a antecipação da Primavera.
Assistir a este espectáculo é participar em algo maior. Faz-nos sentir que, apesar das aparências, existem coisas que ( felizmente) não mudam. Graças a Deus.