O vídeo divulgado no You Tube, gravado em telemóvel, tem escandalizado o País. Sob o título 9.º C em grande!, mostra uma aluna do 3.º ciclo da Escola Secundária Carolina Michaëlis, no Porto, a agarrar e a puxar o braço da sua professora de Francês por esta lhe ter tirado o telemóvel. É de facto chocante, para quem não sabe o que hoje se está a passar nas escolas. Para os que sabem não é de espantar.
Passamos a explicar. Hoje, uma sala de aula, é um dos sítios mais tensos, com maior desassossego e mais difícil de controlar do nosso espaço público (ou semi-publico).
Não que seja assim em todas as aulas, mas acontece em muitas. E é uma ilusão pensar que esta realidade se circunscreve apenas às periferias das áreas metropolitanas. Não. Neste aspecto o País tornou-se igual. É um gigantesco subúrbio. A forma como os alunos no ensino básico se comportam dentro da sala de aula é equivalente em todo o País. No secundário está mais atenuado, mas com tendência a alastrar. Com a possibilidade de alargamento do ensino obrigatório até ao 12ºAno, esta realidade vai tornar-se equivalente, se algo não mudar.
A maior violência é entre os próprios alunos. Contrariamente ao que se faz passar na opinião pública é entre os pares que existem mais problemas. Mas, por vezes, essa falta de “saber estar” volta-se contra os professores. Como aconteceu no caso agora “filmado”.
Não se pense que este “estado de sítio” numa sala de aula é excepcional. Não estamos a falar da situação em concreto. Estamos a referimo-nos ao ambiente, ao “caldo de cultura” que aparece retratado no vídeo. E os pais e a sociedade, em geral, não têm a mínima consciência do que se está a passar. Hoje os professores são essencialmente monitores que evitam situações de conflito entre os alunos. E por vezes sobra para os próprios. O saber transmite-se pouco ou quase nada. E esta é uma das razões do nosso insucesso educativo, não a única, mas das mais importantes. E este problema só se pode enfrentar mudando o olhar de toda a sociedade sobre a disciplina na escola. Ela tem de ser encarada como uma questão séria. É muito mais importante para o sucesso do que a avaliação dos professores, apesar desta também o ser.
Sem um ambiente de sossego e concentração, na sala de aula, não se pode aprender em condições. Pensamos que todos concordam. Sem esta condição de partida poucos conseguem aprender e, normalmente, só os vindos de famílias mais estruturadas e instruídas. Esses aprendem, porque podem aprender fora da escola. Têm outros espaços para o poderem fazer. Quem só pode aprender na escola, e aprende pouco fora dela, não aprende de todo. Um mau sistema penaliza sempre os mais “fracos”. É da natureza das coisas. E por essa razão o nosso sistema de ensino é dos que mais reproduzem as desigualdades de partida dos seus alunos. E esta situação tem de mudar.
No ano passado apareceram umas imagens de um filme no interior de uma sala de aula numa escola de Lisboa. Os alunos andavam em cima das mesas passeando alegremente. A reacção do Ministério da Educação foi persecutória em relação a quem tinha filmado tais imagens e tinha permitido a sua divulgação. Não mostrando preocupação com o comportamento dos alunos. Se a memoria não nos atraiçoa foram imagens captadas por um circuito de vigilância interno da escola. Mas recordamos o Secretário de Estado que, confrontado com as imagens, se preocupou mais em tentar saber qual era a escola do que em explicar, ou em tentar, as imagens que estavam a ser transmitidas. O discurso foi sempre de desvalorização do incidente, classificando-o sempre como tal. Como um facto isolado. Quase que apetece incentivar os alunos a filmarem estes incidentes, pois eles, sabemos não serão punidos por isso. Já os professores…têm de viver quase em vergonha por estas cenas atingirem o cerne da sua dignidade profissional e muitas vezes lhes dizerem que são eles que não têm a autoridade que deviam para poderem ensinar. Para além de enxovalhados ainda passam por incompetentes profissionalmente por não porem os “meninos na ordem”.
Sabemos que atacar uma classe profissional é mais simples que responsabilizar toda a sociedade e, em particular as famílias para a importância de melhorar a disciplina nas escolas. Mas esse também tem de ser o caminho. Se assim não for, pouco ou nada vai mudar no nosso ensino. SE este triste incidente tiver a capacidade de tornar a sociedade mais alerta ao problema já foi um ganho. Terá sido um efeito colateral na intenção daquele menino mal educado, ao gravar o incidente, mas diz o ditado "que escreve Deus por linhas tortas"...
No Público hoje:
«Questionada sobre as preocupações então manifestadas pelo procurador--geral da República - que acusara a ministra de "minimizar a dimensão da violência nas escolas" -, Lurdes Rodrigues respondeu: "Não podemos desvalorizar um caso de violência. Mas não temos nas escolas um clima de violência generalizada".»
Passamos a explicar. Hoje, uma sala de aula, é um dos sítios mais tensos, com maior desassossego e mais difícil de controlar do nosso espaço público (ou semi-publico).
Não que seja assim em todas as aulas, mas acontece em muitas. E é uma ilusão pensar que esta realidade se circunscreve apenas às periferias das áreas metropolitanas. Não. Neste aspecto o País tornou-se igual. É um gigantesco subúrbio. A forma como os alunos no ensino básico se comportam dentro da sala de aula é equivalente em todo o País. No secundário está mais atenuado, mas com tendência a alastrar. Com a possibilidade de alargamento do ensino obrigatório até ao 12ºAno, esta realidade vai tornar-se equivalente, se algo não mudar.
A maior violência é entre os próprios alunos. Contrariamente ao que se faz passar na opinião pública é entre os pares que existem mais problemas. Mas, por vezes, essa falta de “saber estar” volta-se contra os professores. Como aconteceu no caso agora “filmado”.
Não se pense que este “estado de sítio” numa sala de aula é excepcional. Não estamos a falar da situação em concreto. Estamos a referimo-nos ao ambiente, ao “caldo de cultura” que aparece retratado no vídeo. E os pais e a sociedade, em geral, não têm a mínima consciência do que se está a passar. Hoje os professores são essencialmente monitores que evitam situações de conflito entre os alunos. E por vezes sobra para os próprios. O saber transmite-se pouco ou quase nada. E esta é uma das razões do nosso insucesso educativo, não a única, mas das mais importantes. E este problema só se pode enfrentar mudando o olhar de toda a sociedade sobre a disciplina na escola. Ela tem de ser encarada como uma questão séria. É muito mais importante para o sucesso do que a avaliação dos professores, apesar desta também o ser.
Sem um ambiente de sossego e concentração, na sala de aula, não se pode aprender em condições. Pensamos que todos concordam. Sem esta condição de partida poucos conseguem aprender e, normalmente, só os vindos de famílias mais estruturadas e instruídas. Esses aprendem, porque podem aprender fora da escola. Têm outros espaços para o poderem fazer. Quem só pode aprender na escola, e aprende pouco fora dela, não aprende de todo. Um mau sistema penaliza sempre os mais “fracos”. É da natureza das coisas. E por essa razão o nosso sistema de ensino é dos que mais reproduzem as desigualdades de partida dos seus alunos. E esta situação tem de mudar.
No ano passado apareceram umas imagens de um filme no interior de uma sala de aula numa escola de Lisboa. Os alunos andavam em cima das mesas passeando alegremente. A reacção do Ministério da Educação foi persecutória em relação a quem tinha filmado tais imagens e tinha permitido a sua divulgação. Não mostrando preocupação com o comportamento dos alunos. Se a memoria não nos atraiçoa foram imagens captadas por um circuito de vigilância interno da escola. Mas recordamos o Secretário de Estado que, confrontado com as imagens, se preocupou mais em tentar saber qual era a escola do que em explicar, ou em tentar, as imagens que estavam a ser transmitidas. O discurso foi sempre de desvalorização do incidente, classificando-o sempre como tal. Como um facto isolado. Quase que apetece incentivar os alunos a filmarem estes incidentes, pois eles, sabemos não serão punidos por isso. Já os professores…têm de viver quase em vergonha por estas cenas atingirem o cerne da sua dignidade profissional e muitas vezes lhes dizerem que são eles que não têm a autoridade que deviam para poderem ensinar. Para além de enxovalhados ainda passam por incompetentes profissionalmente por não porem os “meninos na ordem”.
Sabemos que atacar uma classe profissional é mais simples que responsabilizar toda a sociedade e, em particular as famílias para a importância de melhorar a disciplina nas escolas. Mas esse também tem de ser o caminho. Se assim não for, pouco ou nada vai mudar no nosso ensino. SE este triste incidente tiver a capacidade de tornar a sociedade mais alerta ao problema já foi um ganho. Terá sido um efeito colateral na intenção daquele menino mal educado, ao gravar o incidente, mas diz o ditado "que escreve Deus por linhas tortas"...
No Público hoje:
«Questionada sobre as preocupações então manifestadas pelo procurador--geral da República - que acusara a ministra de "minimizar a dimensão da violência nas escolas" -, Lurdes Rodrigues respondeu: "Não podemos desvalorizar um caso de violência. Mas não temos nas escolas um clima de violência generalizada".»
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