«Euforia pertence ao passado
O "aperto" das exigências contrasta com a euforia do início da década de 2000, altura em que, como recorda Reis Campos, presidente da Federação de Construção, as instituições faziam avaliações muito generosas, contando muitas vezes com a previsível valorização no futuro, de modo a poder acomodar não só o financiamento da casa, mas também a compra de recheio e até de automóveis.Essa euforia pertence ao passado, até porque, ao contrário dos anos de valorização constante do parque habitacional, em boa parte gerado pela falta de oferta em termos de arrendamento, o cenário actual é completamente diferente, em que alguns segmentos e algumas localizações continuam a valorizar-se, mas depois há um conjunto alargado de imóveis que se desvaloriza, em especial nas zonas periféricas. Por outro lado, e além da envolvente macroeconómica mais desfavorável, tem-se verificado um decréscimo considerável de construção de novas habitações. O que neste momento existe à venda é, portanto, um número muito mais elevado de imóveis usados/antigos, cujo valor vai diminuindo com o passar dos anos. Esta situação é ainda agravada pelo facto de grande parte dos imóveis à venda se concentrar nas zonas periféricas das grandes cidades, que cresceram desordenadamente a partir da década de 80, e são exactamente aquelas que sofrem maiores desvalorizações.»
Hoje no Público
O que podemos concluir é que depois de se ter facilitado tudo (Bancos), de se querer ter tudo (Consumidores) e de se ter construído de toda a maneira (Construtores, Autarquias e Estado), os que vão pagar são essencialmente os mesmos: Os das periferias mais desqualificadas. As classes médias mais baixas.
Este é um bom exemplo do que acontece quando a Administração Pública não faz o que lhe compete e deixa margem demais à iniciativa privada, que muito prezamos, mas que tende a ter uma visão restrita do interesse público. O (des) ordenamento do Território e a falta de qualidade geral do Espaço Urbano, para além de prejudicar o dia a dia de todos, vai tornar ainda mais pobres as classes médias que se deixaram vislumbrar por este engodo. Esses acreditaram que poderiam continuar a melhorar sua condição de vida apoiada no crédito e não nos salários, tornando toda a sua vida dependente dessa ilusão. Agora são os mesmos Bancos que lhes vão tirando a possibilidade de voltar a trás, ao atribuírem valores inferiores ao seu património, não permitido a venda do mesmo, a não ser a custos muito inferiores. Para estas pessoas vai ser cada vez mais difícil sair desta situação. A pobreza irá aumentar mesmo para os que têm algum património. O imobiliário pode estar a tornar-se num motivo de escravatura. Trabalhar, literalmente, para a casa vai ser cada vez mais verdadeiro.
Quando temos um Estado e uma Sociedade que não põe como finalidade última o interesse público, quem fica sempre mais prejudicado são as camadas da população desfavorecidas. A pobreza de espírito está, muitas vezes, correlacionada com a pobreza material.
O "aperto" das exigências contrasta com a euforia do início da década de 2000, altura em que, como recorda Reis Campos, presidente da Federação de Construção, as instituições faziam avaliações muito generosas, contando muitas vezes com a previsível valorização no futuro, de modo a poder acomodar não só o financiamento da casa, mas também a compra de recheio e até de automóveis.Essa euforia pertence ao passado, até porque, ao contrário dos anos de valorização constante do parque habitacional, em boa parte gerado pela falta de oferta em termos de arrendamento, o cenário actual é completamente diferente, em que alguns segmentos e algumas localizações continuam a valorizar-se, mas depois há um conjunto alargado de imóveis que se desvaloriza, em especial nas zonas periféricas. Por outro lado, e além da envolvente macroeconómica mais desfavorável, tem-se verificado um decréscimo considerável de construção de novas habitações. O que neste momento existe à venda é, portanto, um número muito mais elevado de imóveis usados/antigos, cujo valor vai diminuindo com o passar dos anos. Esta situação é ainda agravada pelo facto de grande parte dos imóveis à venda se concentrar nas zonas periféricas das grandes cidades, que cresceram desordenadamente a partir da década de 80, e são exactamente aquelas que sofrem maiores desvalorizações.»
Hoje no Público
O que podemos concluir é que depois de se ter facilitado tudo (Bancos), de se querer ter tudo (Consumidores) e de se ter construído de toda a maneira (Construtores, Autarquias e Estado), os que vão pagar são essencialmente os mesmos: Os das periferias mais desqualificadas. As classes médias mais baixas.
Este é um bom exemplo do que acontece quando a Administração Pública não faz o que lhe compete e deixa margem demais à iniciativa privada, que muito prezamos, mas que tende a ter uma visão restrita do interesse público. O (des) ordenamento do Território e a falta de qualidade geral do Espaço Urbano, para além de prejudicar o dia a dia de todos, vai tornar ainda mais pobres as classes médias que se deixaram vislumbrar por este engodo. Esses acreditaram que poderiam continuar a melhorar sua condição de vida apoiada no crédito e não nos salários, tornando toda a sua vida dependente dessa ilusão. Agora são os mesmos Bancos que lhes vão tirando a possibilidade de voltar a trás, ao atribuírem valores inferiores ao seu património, não permitido a venda do mesmo, a não ser a custos muito inferiores. Para estas pessoas vai ser cada vez mais difícil sair desta situação. A pobreza irá aumentar mesmo para os que têm algum património. O imobiliário pode estar a tornar-se num motivo de escravatura. Trabalhar, literalmente, para a casa vai ser cada vez mais verdadeiro.
Quando temos um Estado e uma Sociedade que não põe como finalidade última o interesse público, quem fica sempre mais prejudicado são as camadas da população desfavorecidas. A pobreza de espírito está, muitas vezes, correlacionada com a pobreza material.
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