Ontem saiu no Público uma entrevista de Lawrence Grossberg que passo a citar alguns excertos a ter em conta.
«É um dos mais importantes pensadores de estudos culturais americanos, foi uma voz central nos debates sobre o pós-modernismo nos anos 1980 e teve papel essencial na legitimação do estudo da música popular e "cultura jovem" na universidade. Filosofia da comunicação, políticas de juventude ou as possibilidades e limitações na emergência de formações alternativas de modernidade, são temas presentes no seu trabalho.
Há uma semana deu uma conferência na Universidade Católica, em Lisboa, sobre Estudos Culturais e Problemas da Modernidade. Para ele, os estudos culturais são em primeiro lugar política e, só depois, cultura popular. Na sua última obra, denuncia a "guerra aos jovens" que é, afinal, segundo ele, a tradução de um contexto onde ninguém acredita no futuro. (...)
A própria categoria "jovem" transformou-se. Era uma idade, agora é uma ideologia. Aquilo que definia o ser "jovem" atravessa agora todas as idades.
Essa é outra questão fascinante. A geração baby-boomer, que é a minha, cresceu a pensar que a sua identidade estava na juventude. Crescemos com esta ideia que tínhamos que parecer, agir e vestir, como se tivéssemos sempre 20 anos. Não sei se é mau, nem acho que seja recusa de crescer, mas realmente isso cria um problema para os jovens que são, realmente, jovens. De repente, toda a gente é jovem. Quer dizer, com nuances, consumo a mesma música que os meus filhos.
A partir dos anos 80 a noção do que era ser "jovem" já nada tinha a ver com um corpo. Tinha um significado cultural e político. Estava em ligação com a ausência de um sentido para o futuro e percebi isso quando os adolescentes começaram a falar-me do seu ressentimento por serem adolescentes. Sentiam que tinham sido abandonados, porque à sua volta percebiam que já ninguém se sentia responsável pelo seu futuro. (…)
Mas no seu último livro vai mais longe, dizendo que os "jovens" se transformaram num problema para os mais velhos. Porquê?
Porque eles personificam o futuro, que é qualquer coisa em que deixámos de acreditar. A partir do meio do século XX, quando a "cultura jovem" se impôs, a juventude começou a ser vista como símbolo dos valores americanos. Incorporavam o sonho americano. O futuro ia ser dourado e os jovens tinham que ser moldados para que lhes fosse permitido representar essa ideia de futuro.
Mas isso mudou, porque a noção de futuro também mudou.
Hoje não há uma guerra contra os jovens, mas há uma guerra contra o futuro. Há uma presença acentuada de discursos apocalípticos e, os jovens, que representam o futuro, sofrem as consequências. Qualquer coisa que sempre demos como adquirido, como ter uma carreira ou uma pensão de velhice, é posto em causa. O problema é que se não acreditamos no futuro, não podemos ser responsáveis pelo que vai acontecer.
Ou seja, não podemos ser responsáveis pelos jovens?
Exacto. Nesse sentido, eles têm que ser qualquer coisa que pode ser controlada, porque não nos queremos sentir culpados - por não terem acesso à medicina, por serem toxicodependentes ou por não investirmos na educação pública ou na universidade.
Simplesmente, porque não acreditamos que a nossa responsabilidade é investir no presente e preparar o futuro. O contexto social mudou tanto que é difícil aceitar ou abraçar o risco. Os adolescentes estão preocupados com o futuro económico de uma forma que a minha geração não estava. (…)»
«É um dos mais importantes pensadores de estudos culturais americanos, foi uma voz central nos debates sobre o pós-modernismo nos anos 1980 e teve papel essencial na legitimação do estudo da música popular e "cultura jovem" na universidade. Filosofia da comunicação, políticas de juventude ou as possibilidades e limitações na emergência de formações alternativas de modernidade, são temas presentes no seu trabalho.
Há uma semana deu uma conferência na Universidade Católica, em Lisboa, sobre Estudos Culturais e Problemas da Modernidade. Para ele, os estudos culturais são em primeiro lugar política e, só depois, cultura popular. Na sua última obra, denuncia a "guerra aos jovens" que é, afinal, segundo ele, a tradução de um contexto onde ninguém acredita no futuro. (...)
A própria categoria "jovem" transformou-se. Era uma idade, agora é uma ideologia. Aquilo que definia o ser "jovem" atravessa agora todas as idades.
Essa é outra questão fascinante. A geração baby-boomer, que é a minha, cresceu a pensar que a sua identidade estava na juventude. Crescemos com esta ideia que tínhamos que parecer, agir e vestir, como se tivéssemos sempre 20 anos. Não sei se é mau, nem acho que seja recusa de crescer, mas realmente isso cria um problema para os jovens que são, realmente, jovens. De repente, toda a gente é jovem. Quer dizer, com nuances, consumo a mesma música que os meus filhos.
A partir dos anos 80 a noção do que era ser "jovem" já nada tinha a ver com um corpo. Tinha um significado cultural e político. Estava em ligação com a ausência de um sentido para o futuro e percebi isso quando os adolescentes começaram a falar-me do seu ressentimento por serem adolescentes. Sentiam que tinham sido abandonados, porque à sua volta percebiam que já ninguém se sentia responsável pelo seu futuro. (…)
Mas no seu último livro vai mais longe, dizendo que os "jovens" se transformaram num problema para os mais velhos. Porquê?
Porque eles personificam o futuro, que é qualquer coisa em que deixámos de acreditar. A partir do meio do século XX, quando a "cultura jovem" se impôs, a juventude começou a ser vista como símbolo dos valores americanos. Incorporavam o sonho americano. O futuro ia ser dourado e os jovens tinham que ser moldados para que lhes fosse permitido representar essa ideia de futuro.
Mas isso mudou, porque a noção de futuro também mudou.
Hoje não há uma guerra contra os jovens, mas há uma guerra contra o futuro. Há uma presença acentuada de discursos apocalípticos e, os jovens, que representam o futuro, sofrem as consequências. Qualquer coisa que sempre demos como adquirido, como ter uma carreira ou uma pensão de velhice, é posto em causa. O problema é que se não acreditamos no futuro, não podemos ser responsáveis pelo que vai acontecer.
Ou seja, não podemos ser responsáveis pelos jovens?
Exacto. Nesse sentido, eles têm que ser qualquer coisa que pode ser controlada, porque não nos queremos sentir culpados - por não terem acesso à medicina, por serem toxicodependentes ou por não investirmos na educação pública ou na universidade.
Simplesmente, porque não acreditamos que a nossa responsabilidade é investir no presente e preparar o futuro. O contexto social mudou tanto que é difícil aceitar ou abraçar o risco. Os adolescentes estão preocupados com o futuro económico de uma forma que a minha geração não estava. (…)»
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