quinta-feira, setembro 4

A mulher de que se fala





Não temos por hábito comentar as eleições Americanas. Mas o facto é que as acompanhamos com muito interesse. Estas eleições pelo seu impacto no mundo, especialmente no mundo comunicacional, acabam por tornar todos as pessoas informadas um pouco norte-americanas.

Longe de ser um “especialista” na matéria, o que quer que isso seja, e de não conhecer Sarah Palin, como praticamente ninguém para além dos habitantes do Alasca, Estado onde é Governadora, gostariamos de reflectir o seguinte sobre a sua aparição e as respectivas reacções provocadas.

Para simplificarmos um pouco transcrevemos uma breve biografia de Palin tirada do P2 (do Público) para sabermos o que é dito na imprensa, nacional e internacional, sobre esta senhora:

«Palin, 44 anos, é mãe de cinco filhos, o último dos quais não tem ainda cinco meses e nasceu com síndroma de Down. Até há seis anos, era presidente de câmara de Wasilla, uma cidadezinha de sete mil habitantes no longínquo Alasca (separado dos Estados Unidos pelo Canadá, tão longínquo que um americano da Costa Leste voa mais depressa para a Europa) que alguém descreveu como "a região mais irredutivelmente conservadora do estado". Há dois anos tornou-se a primeira mulher governadora do Alasca e a mais nova de sempre a assumir o cargo. Construiu uma reputação de reformista e justiceira, denunciando o tráfico de influências local (expondo, até, companheiros de partido) e cortando em despesas consideradas supérfluas - uma das suas primeiras medidas foi vender o jacto do governador no eBay, segundo a revista Newsweek.
Quase tudo na sua biografia parece o sonho imaculado de um conservador, como se tivesse sido preparado por casting: ex-miss beleza local, casada com o namorado de liceu, um sindicalista campeão de corridas de trenós motorizados, mãe de grande família, incluindo um filho militar que parte para o Iraque dia 11 de Setembro, Cristã fervorosa, pró-armas e anti-aborto


Acrescentamos a tudo isto o facto da «sua filha Bristol, de 17 anos, estar grávida de cinco meses» e a família ter assumido isso e ter incentivado a filha a levar a sua gravidez adiante.


Isto é o que se sabe e é isto que divide o eleitorado norte-americano e os comentadores de todo o mundo, especialmente os europeus.

Sabemos que tudo o que esta pequena biografia representa é muito pouco apelativo para a “cultura do tempo” mas o que ainda deixa mais indignadas a generalidade das pessoas é a coerência entre os valores e o modo como estes são vividos. E passamos a explicar.

Palin é mulher. Bonita. Ex miss da sua terra natal. Cristã Evangélica convicta. Casada há muitos anos com o mesmo homem. Mas apesar disto constrói uma carreira autónoma e mais relevante, acumulando com esta a vida familiar. É Mãe, não de um mas de cinco filhos, o mais novo com síndroma de Down. Que permitiu que nascesse, pois é convictamente contra o aborto. Por esta última razão apoiou a filha a assumir a gravidez, apesar dos seus 17 anos e de ainda não ser casada com o namorado, pai da criança.

É por tudo isto que a senhora divide, os eleitores e os comentares dos dois lados do Atlântico. Ela parece fazer aquilo em que acredita. Com certeza com erros. Como todos nós. Mas luta e dá a cara pelo que faz. E tenta concretizar e viver em coerência com os seus valores. O que terá isto de mal?

O mal é ter coragem de acreditar e esforçar-se por viver em conformidade com isso. Sabemos ser esta realidade, muito difícil de aceitar por muitos de nós. Os que não acreditam em nada por defesa ou desistência ou os que pensam que acreditar, e viver nessa medida, é promover uma espécie de suposta perfeição, pouco desejável. Não é. É apenas tentar lutar, com coragem e convicção, por aquilo em que se acredita. Isso hoje parece ser muito mal visto. Está fora de moda.

Parece ser pouco moderno, pois não é suficientemente flexível para acompanhar as últimas tendências do mercado seja ele: eleitoral, económico, social, ou outro qualquer. É bem mais confortável, pelo menos aparentemente, andar ao sabor do vento e esperar que quem não o faça acabe por partir, pela sua falta de flexibilidade. Que, hoje, não é mais do que andar apenas á procura de comprar aquilo que nos querem vender.

Esta escolha de MaCain veio, por tudo isto, tornar esta campanha mais interessante. Não por Sarah Palin ser um modelo, ou uma espécie de santa, que não será de certeza, mas por ajudar a colocar de forma clara e, lado a lado, duas novas esperanças para se enfrentar o futuro. Obama deixou de beneficiar em exclusivo do seu poder de “novidade”. A Esperança já não mora só ai.


Esperemos que a senhora tenha a fibra que parece ter e tal como Obama, para além da novidade e esperança, traga políticas coerentes e claras à campanha mais acompanhada do mundo.

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