quinta-feira, setembro 25

A propósito de consumos



Podemos olhar de muitas maneiras para esta realidade. Mas não deixa de nos levar a pensar que algo de "errado" se passa. Dados de 2006, divulgados recentemente, dizem que os portugueses consomem cada vez mais anti-depressivos e ansiolíticos. Parece que o valor é bem superior à média europeia, que se fica por 1/3 do que consumimos neste tipo de medicamentos.

Relacionou-se estes números com a possível “depressão” dos portugueses. Não sabemos se estaremos mais deprimidos que os outros povos da Europa, mas algo levará a esta diferença.

Não deixa de ser de assinalar ser no Alentejo e região centro, as áreas do país mais envelhecidas, as que maiores percentagens de consumo verificam.

A ausência de qualidade de vida, a falta de perspectivas e as dificuldades sentidas numa vida quotidiana cada vez mais difícil deverão ter algum peso nesta apetência para recorrer de forma tão sistemática a este recurso para aliviar a existência, mas será só?

Antigamente tínhamos o álcool que “resolvia” boa parte das nossas tristezas e incapacidades. Para além de “alimentar” muitos portugueses. Hoje, parece estar o consumo de vinho a descer… E no resto, o que mudou?

A propósito deste facto lembrámo-nos de um artigo de Miguel Esteves Cardoso escrito há muitos anos, numa rubrica do Expresso, “O Problema do Álcool” e no meio de um elogio a Baco e ao seu néctar dizia assim:

«Os comprimidos são para as matronas inglesas à beira do suicídio e do supermercado. Português é o vinho e todos os seus derivados

Isto foi escrito no final dos anos 80. Parece que afinal estamos mesmo diferentes. A taberna parece ter sido substituída pela farmácia. Sendo, aparentemente mais higiénico, que diferenças mais poderemos assinalar? Apesar de algumas mudanças de consumo, as nossas tristezas e incapacidades continuam. Essas, parecem estar para ficar…Mas era sobre elas que deviamos pensar e, acima de tudo, agir.



Sem comentários: