Porque é que o Estado ainda não acabou com este imposto?
Contrariamente ao que ministério da saúde fez com o medicamento, afrontando as corporações, beneficiando os doentes e os contribuintes, o da educação ainda não corrigiu nem acabou com este gasto desnecessário. Não se compreende em tempos de crise não aliviar as famílias que estão a gastar «em média 525 euros com o regresso às aulas» segundo um estudo revelado recentemente pelo jornal Público. O mais espantoso é não se sentir contestação na opinião pública.
A 13 de Outubro de 2008 escrevemos neste Blog o texto que a seguir reproduzimos e que no essencial continuamos a considerar correto e atual:
Com esta iniciativa nem todos os
alunos de famílias carenciadas vão ter acesso aos livros escolares. Como sabemos
muitas das famílias não recebem apoio, por estarem acima do rendimento
considerado elegível, ou não o recebem na sua totalidade (escalão B). Mas mesmo
recebendo escalão A, existe um conjunto de livros que não podem ser adquiridos,
como o próprio ME reconhece. No entanto, se o dinheiro agora gasto pela ASE em
livros, este ano e nos próximos, fosse transferido para as escolas (e não para
os alunos “carenciados”) tudo poderia ser diferente. As escolas compravam os
manuais adoptados para uso geral e, em poucos anos, com os mesmos recursos, conseguia-se
por os livros acessíveis à totalidade dos alunos fossem, ou não, de famílias
carenciadas. Ao associar a aquisição do livro ao aluno, esta medida, repete a
despesa, ano após ano, pelo número de alunos abrangidos, enquanto se for gerida
pela escola, não seria assim.
O modo displicente como se encara o
livro escolar em Portugal é difícil de aceitar. É quase um imposto, mas do qual
poucos reclamam. Os livros são em grande número e, na sua maioria, não são
reutilizáveis, tendendo a aumentar, pois, quase todos, têm livros de “exercícios”
complementares. Ao estarem feitos para neles se escrever, inviabilizam na
prática, o seu uso por outros. Até entre irmãos se torna difícil reutilizá-los.
Só as editoras parecem ganhar com este negócio. Todos os outros ficam a perder.
Por muito que gostemos de livros e de ter editoras fortes, este sistema acaba
por se tornar num subsidio encapotado a este sector, não só por parte do Estado
mas de todos os cidadãos. Como se tratam de livros escolares as “elites” do
País parecem não considerar tudo isto sem sentido e de duvidosa utilidade. Esta
medida não contribui em nada para a correcção deste desperdício, antes pelo
contrário, agrava-o. O Estado, deixa de ser apenas o regulador, para se tornar,
com esta medida, no seu maior “cliente”.
Ao tornar o livro “gratuito” o Estado
dá ainda outro mau sinal. Esta medida não ajuda a melhorar a relação dos alunos
abrangidos com os livros escolares, antes pelo contrário. Suspeitamos que se
vão encontrar mais livros perdidos nas escolas do que já é habitual. Todos sabemos,
pela experiência, própria ou alheia que, hoje em dia, ao que é dado,
infelizmente, não se dá grande valor. É natural que sendo os livros oferecidos
aos alunos sem qualquer esforço (próprio ou das famílias) ou controle (por
parte da escola, ou dos professores), estes não cheguem, na sua maioria, ao
final do ano lectivo. Valia a pena fazer esta “avaliação” para aferir o
efectivo alcance desta ideia.
Esta medida vai ainda prolongar outro
problema que também tarda em ser resolvido. Fruto de um número verdadeiramente
impressionante de disciplinas e áreas não disciplinares, existentes no ensino
básico, os alunos têm de carregar, todos os dias, um peso desmedido nas suas costas,
dentro das suas mochilas, prejudicando a saúde e a qualidade de vida dos
alunos. Não passando a “tutela” dos livros para a escola esta situação vai-se
prolongar no tempo. Dando à escola a verba para adquirir e “gerir” os livros, como
propusemos atrás, este problema teria fim. Para casa só iam os cadernos. Só
excepcionalmente, os alunos, levariam algum livro requisitado tornando o seu
percurso bem mais agradável e saudável. Com acontece em outros países.
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