O actual referendo sobre o Aborto levanta-nos os seguintes comentários eventualmente desconexos, mas sentidos e reflectidos:
Este assunto poderia e deveria ser resolvido na Assembleia da Republica. Existem diversas propostas na mesa para que assim seja. Mais à esquerda ou mais à direita mas fundamentalmente ao centro. São os extremos político partidários que mais reclamam a realização deste referendo.
As pessoas moderadas, com experiência de vida e com uma consciência profunda da natureza humana e das contradições entre o desejo e a realidade sabem que este assunto é, no mínimo controverso. Votar num sentido ou noutro é sempre, de alguma forma votar sempre contra uma parte de nós.
Ao longo do último referendo falamos com muitas pessoas sobre este assunto e notámos um grande incómodo na sua abordagem. Muitas delas, quanto mais se falava, menos vontade tinham de votar. Se bem nos recordamos, também então, as sondagens pela despenalização do Aborto eram maiores. No entanto, o resultado foi o que se viu.
Concordamos com a opinião expressa por D. José Policarpo, a sociedade não vai superar os 50% de participação neste referendo. Quanto mais se falar mais aumentará a abstenção.
Não parece ser útil a ninguém, este referendo. A não ser aos extremistas ou aos que querem “um tira teimas” em relação ao último "não". E ainda ao Eng. Sócrates que mantém a malta distraida durante uns tempos.
Por isto tudo parece-nos desnecessário.
Mas e então e o pensamos nós sobre o Aborto?
Devemos dizer que evoluímos nesta matéria. E o facto de nos termos tornado pais, entretanto, não é um facto de somenos importância. Hoje em dia somos, fundamentalmente, a favor da vida humana. Em todas as suas dimensões e com todas as suas consequências.
Mas não nos sentimos em condições de julgar… Apesar de acharmos que a lei deve dar um sinal claro à sociedade sobre o que acha certo e errado. E o aborto é errado, na nossa opinião.
Devemos por isso aprofundar todos os meios para consagrar a vida. Devemos falar verdade. Devemos dizer aos jovens que se tiverem relações sexuais podem vir a ter filhos. Mesmo com contracepção. Esta é eficaz, mas nunca a 100%.
O sexo deixou de ser considerado “reprodutivo” e passou a ter apenas a dimensão do prazer. Uma e outra são falsas. Mas ambas são verdadeiras. E isso parece estar esquecido hoje em dia.
Ter filhos é considerado, na nossa sociedade, um luxo e uma chatice. São caros, barulhentos e não trazem vantagens à sua “qualidade de vida”. Pensam eles...Mas estão enganados...
Para ter filhos é preciso ter esperança no futuro. E hoje são poucos os que, entre nós, a têm. E ainda menos os que querem ter um compromisso para a vida. Dá muito trabalho e despesa. Este é o ponto em que nos encontramos.
É verdade que hoje o aborto é um contra-senso. A contracepção é difundida, não o suficiente, sabemos, mas existe e está disponível. Ao Estado, cabe hoje, apoiar o nascimento de mais crianças. E não promover o seu contrário.
Não queremos, por isso, dar mais publicidade a este assunto. Falar sobre o Referendo ao "Aborto", ou como lhe queiramos chamar, é, no nosso entender, uma inutilidade e um dispêndio de energia sem sentido.
Boa temporada.