quarta-feira, novembro 12

O autismo político é o maior inimigo da política



O autismo político é o maior inimigo da política. A Ministra da Educação está a passar essa fronteira. E por pura arrogância arrisca-se a deitar por terra, aquilo que poderia ter sido uma boa ideia: instituir uma avaliação que dignifica-se a profissão de ensinar e através disso melhorar a qualidade geral do ensino.

Somos a favor da avaliação. Mas da avaliação em geral. Uma avaliação sistémica, onde a avaliação dos professores é só uma das partes, dentro de um conjunto alargado e coerente. Esta avaliação dos professores passou a ser encarada como a avaliação do sistema e isso é uma falácia. Os professores são apenas parte do sistema, uma muito importante, mas uma das partes. Numa educação de qualidade a exigência tem ser para todos os envolvidos: professores, alunos, escolas, famílias, comunidade e para o próprio Ministério da Educação. Todos têm de ser bem avaliados, de forma diferenciada mas igualmente exigente.

Este Ministério, tal como o Governo no seu todo, pensaram que hostilizando as classes profissionais, ganhariam a sociedade. Mas esqueceram-se que não se podem fazer as reformas sem os agentes, tal como não se podem fazer as guerras sem os soldados. A Ministra ao dizer que 110.000 professores são os “sindicatos”, como fez no Domingo, é não perceber nada da realidade do ensino, da sociedade e até de política em que se insere.



A aplicação de um método de avaliação à totalidade dos professores sem ser testado previamente numa escala menor e de carácter experimental não lembra ao diabo (é aí que começa o erro deste processo). Sujeitar o País inteiro a uma teimosia destas é ser muito voluntarista e pouco realista. Dizer que um processo Kafkiano como este leva o professor a perder “duas horas” no seu preenchimento é gozar com todos os envolvidos. Essa observação é reveladora da percepção da realidade que a Ministra tem neste momento.

As condições no terreno da educação estão muito difíceis, as salas de aulas são uma verdadeira “arena romana” na generalidade das escolas que leccionam o Básico e, por vezes, já alargada ao Secundário. Enfrentar uma turma é, em si, um processo muito exigente. Enfrentá-la e transmitir qualidade uma verdadeira proeza. Dizer a quem passa por isto todos os dias que trabalha pouco e mal, não é fácil de ouvir.

No entanto, acreditamos que o sistema tem mesmo de melhorar e que a avaliação é uma das formas para o fazer. Mas uma avaliação sem sentido mata o sentido de qualquer avaliação. As palavras não valem por si. Só valem com conteúdo. E é o conteúdo que se tem que afinar. Com todos os envolvidos verificando o que já foi feito e como pode ser corrigido. Difundir as boas práticas e soluções já encontradas e abandonar as menos conseguidas. Corrigindo, melhorando, aceitando os erros e avançando.

Tememos que o autismo, mais uma vez seja o inimigo da política. A demonstração dos “ovos” de ontem, dada pelos alunos de Fafe, é um último aviso. Quando o desprezo e a falta de consideração chegam a isto, pode ser difícil voltar a recuperar as condições políticas para o exercício do cargo. Se a Ministra continuar no mesmo tom, negando a realidade, as coisas podem mesmo correr mal. E para nós correr mal é voltar tudo atrás. Deitar todo este herculeano trabalho fora. Porque numa coisa a Ministra tem razão. O ensino tinha, e tem, de melhorar e para melhorar não podíamos continuar na mesma. O sistema tinha de mudar. A avaliação é indispensável para o fazer. O tempo é, por isso, de avançar mas com sensatez, envolvendo todos os agentes. A exigência é para todos, não para criar bodes expiatórios. Vejamos se o bom senso iluminará a 5 de Outubro.

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