segunda-feira, janeiro 5

Brideshead Revisited




Reviver o Passado em Brideshead foi uma série que nos apanhou na adolescência. Mais tarde tivemos a oportunidade de ler o livro que lhe deu origem, de Evelyn Waugh. Foi daquelas Séries que pela sua qualidade, na altura (e já vão mais de vinte anos), nos pareceu à altura do livro.

O Filme realizado agora era, após tão grande sucesso da Série, um acto arriscado. Confessamos a nossa dúvida acerca da sua possibilidade enquanto filme que se conseguisse autonomizar. Consegue. É, em si, uma obra que vai sobreviver.

Está aparentemente mais centrada no drama amoroso, a triangulação amorosa entre Sebastian a sua irmã, Júlia e Charles o amigo. E se não nos falha a memória, existe mesmo uma alteração na história original para apimentar o enredo. Júlia não esteve em Veneza, durante a viagem de Sebastian e Charles na visita a Lord Marchmain, seu pai. Mas é só na aparência que isso acontece.

No filme, como no livro, o conflito passa-se a vários níveis: o familiar, o social, o histórico e também o religioso que perpassa todos os outros, como a argamassa que une e divide, os dramas individuais de cada um. Charles o “artista” como Sebastian sempre o apresentou, representa o homem livre, até de Deus, que tenta ajudar os dois amigos a romper com o peso da família e da religião encarnado na figura da mãe Lady Marchmain: primeiro através de Sebastian e depois de Júlia. Mas o que ele só mais tarde descobre é que apesar do seu descomprometimento também ele tinha ficado preso a Brideshead mais do que julgava… E nem o seu amor por Júlia é suficiente para mudar. Júlia tenta mas Charles quer livrá-la de Deus para a proteger, mas esta é na sua “misericórdia” que encontra aconchego.


Tudo isto se torna mais evidente com o regresso de Lord Marchmain a Brideshead. Pois até ele que fugiu a maior parte da sua vida de tudo que esta casa representava, vivendo em Veneza com a amante, regressa ai para morrer. E o que se trava com ele para aceitar ou não a extrema-unção é o peso da segurança que na morte acaba por vencer. Charles tem dificuldade em aceitar esta realidade, mas acaba por reconhecer a sua principal falta “quis demasiado” e isso é quase impossível de conseguir…
Ironicamente só Sebastian rompe de forma radical com tudo o que herdara, tornando-se auxiliar num hospital de Marrocos.


Um filme sobre os dramas humanos mais profundos, a não perder.

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