Sempre tivemos, ao olhar para a história de Portugal, a sensação de que a partir das “Descobertas” Portugal começou a gerar três tipos de pessoas:
As “bem instaladas”, que tendo arriscado qualquer coisa faziam fortuna e voltavam dos seus feitos a favor da Coroa (primeiro na Índia, depois no Brasil e em Africa) e ficavam por cá vivendo dos rendimentos. Que na maior parte vezes eram mantidos pelos favores do Estado. Outras, as que se resignavam à sua condição desafortunada ou servil e por cá se arrastavam esperando a protecção dos primeiros. Os poderosos. E os terceiros que não se conformando com a sua condição deixavam o País para nunca mais voltar. Tornando seu o mundo que encontravam lá fora.
Existia uma ideia muito comum acima do Tejo, onde a propriedade sempre foi presente e mais repartida. A de que o primeiro filho homem herdava, o segundo ia para Padre e os restantes ou serviam os primeiros ou iam procurar fortuna para “fora”. Foi assim no “Império” e com a emigração. Durante o século XX, esta última, deu-se primeiro para o Brasil, de seguida para a América, Africa do Sul, Europa, conforme as zonas do País em que o “não instalado” se encontrava.
Os que foram ficando habituaram-se a gerir a pequena miséria, pois o País quase sempre foi pobre. De costas voltadas para a Europa, por antagonismo com o vizinho peninsular, mantivemos quase inalterado este casulo fechado sobre si próprio.
Muito do que temos ou tivemos de bom para oferecer aos outros foi descoberto pelos “Estrangeiros”, onde o vinho do Porto é uma dessas mais antigas marcas. Pouco dinheiro, pouca inovação, pouca visão. Quase nenhuma competição, pelo menos digna desse nome. O que existia era compadrio, cunha, influência ou corrupção. Gerando inveja, cobiça ou resignação. Não vontade de fazer ou vencer. Mas desejo de ocupar o lugar do outro. Não por o merecer, mas por o invejar.
A grande dependência do Estado aumentou e preservou esta situação até hoje. Nem a “Revolução” nem a “Integração Europeia”, conseguiram acabar com ela. Apesar de ser, nesta última que reside a única hipótese de transformação a este nível. Contrariamente a muitos que desconfiam da abertura proporcionada pela Comunidade Europeia, pensamos que só o confronto e a abertura ao exterior nos pode “salvar” desta nossa condição de mediocridade auto sustentada pelo medo de a perder. De arriscar. Por isso tantos de nós estão hoje a rumar para “fora”. E mais uma vez são os “mal instalados”. Mas agora são de dois tipos: os que passam mal e nada têm – os mais desqualificados - e os que acham que merecem mais do que o País tem para lhes oferecer – os mais qualificados.
A transformação, que AB descreveu, só nos parece possível verificando-se, em simultâneo, duas condições: aumentar a concorrência e diminuir o peso do Estado na economia. Tudo o resto será delas consequência.
Até a educação só será mais valorizada pela sociedade quando esta passar a ser efectivamente importante para realizar a distinção no mercado de trabalho. Enquanto o nome de família ou o servilismo forem mais importantes que a capacidade o mérito e a ousadia, será difícil mudar alguma coisa neste aspecto.