domingo, junho 3

António Barreto


Hoje no Público AB reflecte sobre "A desumanidade da sociedade civil". Vale a pena pensar nisto:
«"Uma esmola dada a um pobre é mais um dia de atraso na revolução", terá dito Lenine ou um dos seus amigos. A esquerda (na qual incluo todas as espécies ditas racionalistas, republicanas, laicas, socialistas ou comunistas) viveu sempre em combate contra a caridade. A seu favor, fica o papel crucial que desempenhou no reconhecimento dos direitos sociais e da igualdade entre todos os cidadãos. Assim como o seu contributo para a criação do Estado-providência. Mas, a seu desfavor, fica a desumanização da assistência aos desprotegidos. O Estado não é eficiente, nem acode rapidamente. Sobretudo, o Estado não é capaz de trazer o que muitas vezes é essencial: o apoio humano, o conforto afectivo e a esperança.ue o Estado não seja capaz de humanidade, não é para admirar. Mas que grande parte dos seus técnicos e funcionários também o não seja, já deixa a desejar. As instituições parecem feitas para enquadrar e regulamentar, não para agir individualmente, com a humana generosidade que, muitas vezes, faz tanta ou mais falta do que o alimento ou o abrigo. Mais ainda: nessa enorme constelação de agências de voluntários, são poucas as organizações e poucas as pessoas que se dedicam a estas sacrificadas actividades por mero espírito de solidariedade laica. Para se dedicarem ao exibicionismo, ao dinheiro e à competitividade, os laicos entregam ao Estado as actividades de protecção e de solidariedade. Pode a sociedade civil distinguir-se pelas liberdades e pela igualdade. Mas falhou radicalmente na fraternidade. »

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