A Troca é um filme surpreendente a vários níveis. Toda a sua estética evoca um outro tempo. A fotografia remete-nos para um postal dos anos vinte, década onde se passa a acção. A caracterização das personagens, fundamentalmente a protagonista Christine Collins (Angelina Jolie) é muito marcada por essa excessiva maquilhagem tão característica da fotografia da época. O tempo da acção é lento. É um outro tempo onde a Rádio dominava o espaço comunicacional e os carros e os eléctricos de Los Angeles ainda deslizavam pelas ruas onde os transeuntes dominavam. Parte do filme remete para uma certa nostalgia de um tempo que já não temos.
Dai que a brutalidade da história, o desaparecimento o assassínio em série das crianças assim como o tratamento brutal dado a Miss Collins, uma mãe solteira, pela Policia se torna ainda mais gritante. A acção é quase sempre tranquila. A violência está lá mas de forma subliminar “debaixo da pele” sem vir à superfície, só raramente se expondo.
O filme é uma homenagem à mulher. À mulher que recusa a submissão. O trabalho de actriz da protagonista é notável e a história (mesmo sendo real, ou apesar disso) um hino aos valores simples e perenes: à coragem, ao compromisso, à perseverança, ao amor, à esperança, à justiça.
E é também um tributo à América. Nos seus valores fundadores. Apesar de parte do Estado (representado ali pela Policia e pelo Mayor de LA) não ter estado ao serviço dos cidadãos, não os protegendo, a sociedade e o sistema judicial conseguem vencer a injustiça. A América é aqui mostrada no que ela tem de melhor, justamente porque consegue corrigir o que tem de pior. O que é mau não é cometer erros, mau é não querer, ou não conseguir, corrigir esses mesmos erros. Muito a propósito dos tempos que correm.
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