Acabou agora o documentário sobre Fernando Lopes Graça na RTP1. Pena ser tão tarde. Parece ser só visível para os “sem sono” ou aos profissionais noctívagos. O direito a assistir a um pouco de “cultura erudita” na televisão só a estes parece reservado.
“No ano em que se comemora o centenário do nascimento de Fernando Lopes Graça, o documentário propõe uma viagem pela vida e obra deste grande músico e maestro, tendo como pano de fundo uma entrevista gravada em 1993, um ano antes da sua morte.” Diz a nota televisiva.
Conhecemos pouco da sua obra. Mas esta merecia ser mais reconhecida e divulgada. Por ser menos acessível ao grande público pelo grau de erudição, FLG, não teve a divulgação de outros, mais populares, cantores e compositores de intervenção. Tendo quase caido no esquecimento "auditivo" nos últimos anos. Mas é, agora, possível ter acesso a uma colectânea da sua obra que a pode tornar mais acessível a novas gerações.
No entanto do documentário saltou uma questão sobre a qual há muito reflectimos. Não deixa de ser curioso que, apesar de viver num regime ditatorial, profundamente nacionalista, existiu uma geração de grandes vultos da nossa cultura que procuraram insistentemente uma nova síntese para a cultura e expressão portuguesa. Profundamente ligados a uma certa ideia de identidade portuguesa. Apesar de muitos deles terem sido opositores ao regime salazarista. FLG inclui-se neste rol. Mas podíamos destacar, Fernando Távora na arquitectura, Orlando Ribeiro na Geografia, Miguel Torga na literatura, Agostinho da Silva na filosofia, só para citar alguns.
O interesse pela raiz popular da nossa cultura – talvez a nossa única expressão verdadeiramente genuína, como referia Maria Belo no outro dia – foi comum aos dois extremos ideológicos do regime, Comunismo e Fascismo. A procura de uma ideia de genuína “portugalidade” servia de legitimidade ideológica. O povo rural e fechado mas cheio de identidade era a fonte. Uns procuravam mantê-lo imóvel outros procuravam a sua “libertação” mas ambos os “lados” o veneraram, nas suas características mais profundas, ou pelo menos nas suas formas de expressão cultural.
"Fernando Lopes Graça"
Realização de Graça Castanheira
18-12-2006 01:00
Nascido em Tomar, Portugal, em 1906, Fernando Lopes Graça morreu em 1994. O compositor e musicólogo, criou um estilo intimamente ligado às raízes da música popular portuguesa. Encarcerado durante o regime do Estado Novo, Lopes Graça, foi elevado a herói após o 25 de Abril de 1974. Dedicou o seu Requiem, em 1981, às vítimas do fascismo português.
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