sexta-feira, dezembro 8

O político do "bom senso"


Ontem Rui Rio (RR) – actual Presidente da Câmara do Porto – deu uma entrevista muito pouco politicamente correcta RTP1. Disse diversas coisas simples, mas de grande alcance, apesar da entrevistadora lhe ter tentado constantemente “minar” a entrevista.

Começou, Judite de Sousa (JS), por tentar (numa postura muito corporativa) (re) confirmar a imagem de homem pouco dado a hábitos democráticos, insinuando que querer “controlar” as entrevistas não era admissível. RR limitou-se a insistir que "O jornalista é dono da pergunta, eu sou dono da resposta". O que RR verificava era que: o jornalista tinha a liberdade de lhe perguntar o que quisesse, o que é normal e salutar em democracia, mas a resposta dele não podia ser deturpada pelo jornalista com vista a não a dar a ideia que ele queria transmitir, mas a dar a ideia que este queria transmitir sobre ele.

O interessante foi verificar ao “vivo e a cores”- em directo - que JS esteve constantemente a tentar fazer o mesmo. Mas naquela circunstância todos nós podemos verificar como actua a comunicação social quando se sente atingida. RR faz o que todos os políticos de “cara lavada” deveriam fazer. Mostrar a mesma consideração pela comunicação social que esta demonstra por ele. Não é politicamente correcto, nos nossos dias, mas RR tem a vantagem de nunca ter ficado a dever favores à comunicação social. Ganhou sempre contra as expectativas desta. E esta não lhe perdoa o facto.

Relativamente ao “escândalo” da perseguição à cultura do Porto RR, limitou-se a dizer que: sendo o dinheiro pouco, investia o dinheiro dos contribuintes em opções estratégicas para a cidade (ex. Serralves, Casa da Música) com vista à afirmação da cidade, em termos nacionais e internacionais e depois investia na ligação da escola à “cultura”, através de projectos específicos (apoio à leitura, etc.). Abandonando a entrega de dinheiro avulso (subsídios) mas continuando a apoiar de outras formas (obras, transportes, etc.). Sabemos que é discutível, como tudo na vida, mas é claro. Também nós achamos que gastar milhares de euros a apoiar quem se limita a fazer com o dinheiro dos outros “performances” em circuito fechado, não é uma politica cultural correcta. E a criação de novos públicos? – Perguntarão alguns. A esses basta dizer que, após tantos anos da mesma conversa, ainda não os conseguiram criar. Quando os criarem, vale a pena apoiá-los…

Sobre política e futebol continuou a dizer que deveriam estar separados e que ambas as actividades ganhavam com isso. Defendeu a separação entre a política e o futebol e garantiu que "não seria deputado se fosse presidente da Liga de Clubes", como acontece actualmente com Hermínio Loureiro, apesar de ser seu amigo.

Sobre Cavaco disse: “Ao colaborar com o Governo, está a fazer o que o País precisa. Entre dois amores, tem que optar pelo País".

Evidências que contrariam muito do manual de “bom politico” actualmente usado no país. RR fala de “fora” da linguagem do politicamente correcto, ou habitual. Fala a linguagem do cidadão comum, do homem “com bom senso”. Sem grandes arrojos, mas com seriedade e consequências. Um politico que irá dar muito que falar. Esperamos…

Uma entrevista muito interessante. Vale a pena verificar como a comunicação social “indirecta” a irá tratar.

5 comentários:

Anónimo disse...

O Paulo encontra interesse em banalidades. Estranha, esta análise que faz. Eu, ao contrário do Paulo, deparei apenas com um político provinciano e inculto. Tal como a presidente setubalense, de quem, provavelmente, não terá uma opinião tão generosa. Esqueça a bandeira e seja sério. Apesar da pouca freguesia, sempre se está a expôr. Ao ridículo, como o seu novo herói do norte.

Anónimo disse...

Fale por si. Você espera ouvir falar de Rui Rio. Ninguém com um visão civilizada e cosmopolita da sociedade embarca consigo nesse barco. De políticos como o presidente da câmara do Porto ou o presidente do governo regional da Madeira, se tudo correr bem, não iremos ouvir falar muito no futuro. Esperamos...

paulo pisco disse...

Para certas luminárias que pululam o nosso universo nacional, o que escrevi é, obviamente, estranho.

No entanto, contrariamente a esses, gosto de discutir argumentos. No que diz respeito ao “provinciano e inculto” não consigo compreender onde o senhor Irineu foi buscar essa ideia. Será pelo facto de RR não dar qualquer relevância ao Futebol Clube do Porto (assim como aos outros Clubes)? Ou será por ter considerado estratégico investir nas grandes instituições culturais da cidade, pensando estrategicamente na sua importância para afirmar o Porto, a nível nacional e internacional? Será a isto que chama “provinciano e inculto”? Ou leu isso em algum sítio? O meu post apelava à capacidade de ver em “directo” até que ponto se pode deturpar o pensamento e a acção de uma pessoa, mas pelos vistos, só alguns conseguem ver para além das ideias pré-feitas.

A comparação com a actual Presidente de Câmara de Setúbal, vinha a propósito de quê? Por ser Comunista e dar jeito ao seu argumento, visto eu não o ser? Ou por ser “provinciana e inculta”? Se o caso é esse digo-lhe para tristeza sua, Sr. Irineu, que não é por ai que avalio um político, mas pela sua capacidade de resolver problemas. É para isso que lhes pagamos. Se forem cultos posso ter o prazer de os encontrar nos sítios que tenho por hábito frequentar, senão, basta-me que governem bem. O problema da actual maioria em Setúbal é não saber governar. Porque nem provinciana a senhora pode ser acusada, pois como sabe a senhora não pertence nem nunca irá pertencer ao burgo.

Quanto ao problema da “bandeira” só uso nos comícios e nas campanhas eleitorais. Mas mesmo ai, nunca deixo de usar a minha cabeça. Contrariamente a outros que dizem não ter “bandeira”, mas usam os argumentos de “outros” de uma forma acrítica.

Tenho por hábito expor-me com frontalidade dizendo o que penso, independentemente da “freguesia” e mesmo quando esta é “fraca”. Se me exponho é problema meu, o seu é classificar os outros? Maneiras de estar.

Não tenho heróis, nem novos nem velhos. O meu objectivo não foi “endeusar” a figura mas relevar o que me parecem ser atitudes e procedimentos políticos importantes para a actualidade portuguesa. Tão só.

Só uma coisa lhe dou de barato, por vezes o “Paulo encontra interesse em banalidades”, como atesto com esta resposta, mas quem não tem os seus pecados...

O Sr. Duarte, não me quererá convencer que a maioria das pessoas do Porto são incivilizadas e provincianas? Se essa é a sua persepção, estamos conversados.

Quanto à comparação com o Alberto João, só pode ser feita pelo desprezo, comum a alguma Comunicação Social. E quanto a isso só acho que lhes fica bem.

Anónimo disse...

Eu até ia responder, mas o Paulo não percebeu nada. É tão elementarmente mal-criado, e informalmente ignorante, que não merece nem mais uma linha. Ficamos conversados, de facto.

Anónimo disse...

Paulo,
Concordo com muito do que dizes. Principalmente na questão da relação entre a comunicação social e “os políticos”. A verdade, é que se a primeira demonstra pela segunda sistematicamente um explícito desprezo, nada de mais natural que a segunda parte respondesse adequadamente. E RR fê-lo, o que é raro, difícil e tem custos políticos (a que ele também está habituado).
Mesmo na questão dos apoios às actividades culturais, independentemente de concordar ou não com ele (e estou mais tentado a concordar que discordar) RR respondeu com argumentos racionais, de opções claras e bom governo dos recursos públicos, que foram olimpicamente ignorados pela JS.
Mas isso não apaga a imensa desilusão que RR tem sido na presidência da CMP. Sendo naturalmente melhor que os seus antecessores (também era difícil descer mais), RR não cumpriu com as expectativas que o seu percurso anterior indicava, e pelo qual foi eleito:
- Deixou cair o Paulo Morais, numa clara cedência a sectores do seu (vosso) partido que ele anteriormente combatera energicamente (e contra quem foi eleito).
- Apoiou por diversas vezes a duvidosa gestão do Metro do Porto, e o cacique mor Valentim Loureiro (obviamente é mais fácil ser duro perante a JS que o major de Gondomar). Não é aceitável ver alguém que nos habituou a uma postura de rectidão e honestidade intelectual posicionar-se ao lado de mafiosos que a própria direcção do PSD não aceita como candidatos autárquicos (mas talvez esta questão esteja ligada com a 1ª).
- Teve aquele pequeno assomo de ditadorzeco (o poder corrompe sempre) de propor aqueles célebres protocolos de financiamento, em que uma das partes tinha que abdicar das suas liberdades cívicas a troco de dinheiro.
- Tem assumido um comportamento preocupante de, sempre que contrariado, amuar e fazer beicinho.
Era dos poucos (talvez o único) políticos de 1ª linha do PSD que merecia o meu respeito, mas agora não. O que é uma pena.