quarta-feira, janeiro 31
terça-feira, janeiro 30
Divulgação
Oradores:
Rui Baleiras, Secretário de Estado do Desenvolvimento Regional.
Maria das Dores Meira, Presidente da Câmara Municipal de Setúbal
Eugénio Sequeira, Presidente da Liga para a Protecção da Natureza
Moderador:
Carlos Andrade, Jornalista.
Participe. O debate é aberto a todos.
segunda-feira, janeiro 29
Convento de Jesus
Este Monumento Nacional encontra-se em degradação desde o início da década de 90. Constituindo o mais importante Museu em Setúbal, com uma boa colecção de pintura. Por incúria, desentendimentos vários, falta de dinheiro e bom senso, associado a muita inconsciência e megalomania, este tem estado “parado” à espera de obras, desde então. Após muitas (falsas) promessas parece “estar para breve o início da sua recuperação”. Era o mínimo não deixar cair este monumento que conseguiu chegar até nós através dos seus respeitáveis 500 anos de história.
Dizem que se adjudica amanhã a primeira fase da empreitada. Será mesmo verdade? Em Setúbal nunca se sabe?
Voltaremos ao assunto mais tarde.
domingo, janeiro 28
Salazar e Cunhal
VASCO PULIDO VALENTE (VPV) volta hoje a escrever, com a sua clareza habitual, sobre nós: Portugueses. Ou pelo menos uma boa parte de nós. Na sua crónica do Público deste Domingo escreve sobre Salazar e Cunhal, a propósito do famoso concurso da RTP que procura “O Maior Português de Sempre”. Parece que, entre os dez finalistas, Salazar ganhou. Sendo o segundo Álvaro Cunhal, naturalmente. Independentemente da mobilização de votos dos respectivos acólitos, estes resultados merecem muita atenção.
VPV vê neles a “condenação absoluta do regime vigente, ou seja, da democracia”. Curioso será juntar a esta opinião, de VPV, a fraca representação actual do Partido Comunista Português (PCP) e da dificuldade endémica da nossa direita em se afirmar. Podemos concluir que o que provoca a grande admiração por estes personagens não é de todo a Ideologia, mas outra coisa.
Continuando, VPV considera que os dois pretenderam sempre um Portugal fora do “Ocidente” e da “modernidade”. Um à custa do Império outro através do “sol da URSS”. A ideia de nos modernizarmos parece, por isso, não ter grandes apoiantes entre nós.
O terceiro argumento de ligação entre Salazar e Cunhal, para VPV, é “o atraso e a miséria” como preço a pagar para garantir: a “independência”, a “segurança” e a “hierarquia”. “Ambos temiam que o dinheiro trouxesse consigo o vírus da mudança”.
Concordamos e acrescentamos:
Podemos verificar que para além do “politicamente correcto” existe um País que não se revê nos políticos e pior no “Sistema Politico” que os suporta: A Democracia. “Sem a "Europa", já havia por aí ditador”, como refere VPV.
Uma parte da nação (não sabemos se a maioria?) prefere, claramente, a ordem à liberdade.
A “bandalheira” onde graça a “corrupção” não é aceite por esta parte da "populaça". Preferem o “pequeno favor”, sem alarido - a malta tem de “ganhar a vida”- ao grande escândalo - promovido por “eles”, os outros, os da “vigarice”. Falhas todos têm, mas só são aceites as que forem comedidas. Como antigamente, com respeitinho por quem manda.
Mais importante que o atraso do País, para estes Portugueses, é quem manda “ser sério”. Para se manter a seriedade aceitam tudo. Até trazer um povo inteiro debaixo de um clima de terror e de miséria. Para todos. Claro.
Salazar, dizem, não roubou nada para si. Mas para quê? Se o País foi propriedade sua durante 40 anos. Não necessitava roubar nada. Era tudo seu. Ele não quis nada só impor sua ideia a todo o Portugal. Teve a opurtunidade de a ver e viver.
Cunhal, também muito admirado por estes Portugueses, ao ter abdicado da sua vida confortável, ganhou o estatuto de não querer “nada para si”. Queria, apenas, um “socialismo” doméstico. À Fídel. Coisa pouca, já se vê.Onde todos fossem iguais. Subjugados e vivendo mediocremente, mas iguais. Queria apenas ver realizada a sua ideia para Portugal. Felizmente não a chegou a viver.
Este “povo” que admira Salazar e Cunhal tem uma ideia muito particular sobre si, e todos os outros Portugueses. Preferem que todos sejam “pobrezinhos” mas ordeiros. Não têm ilusões sobre a inevitável “pobreza da nação”, apenas querem que ela seja distribuida por todos, sem excepções. Do dirigente máximo ao mais humilde dos Portugueses. Não gostam de Ideologia, mas gostam que alguém a tenha por si.É bonito.
Para estes Portugueses, a modernidade e a Europa, só serviram para trazer mais “assimetrias” e exigências pouco recomendáveis para quem gosta da miséria a que está habituado. Obrigou a tentar o desenvolvimento, mas todos sabiam que esse era um esforço sem resultado. O dinheiro que tão calorosamente foi recebido, parece ter sido só para alguns. Mas quem perguntarão? “Os mesmos de sempre”, os outros que não eles, ou seja nós. Fossem os políticos “gente séria” e “nem lá tínhamos entrado” – pensarão.
É bom estarmos atentos. Este País subsiste para além de mais de 30 anos de democracia e 20 de Comunidade Europeia. Pensarão os nossos dirigentes que é ficção? “Olhe que não, olhe que não.”
Bacall
sábado, janeiro 27
The Departed- Entre Inimigos
“Os extremos tocam-se”? Este ditado popular parece ser a tese central deste último filme de Martin Scorsese. A linguagem a atitude a ascensão e até os procedimentos parecem ser os mesmos entre a polícia e os bandidos. Ambos gostam de pistolas e vêm a vida por essa mira. Os informadores – “ratazanas” – estão dos dois lados da barricada e “alimentam-se mutuamente. Não se chegando a perceber o que justifica o quê.
Enquanto Billy(DiCaprio) ganha a confiança de Costello (Nicholson) , Colin Sullivan (Damon), infiltrado na polícia como informador de Costello, ascende a uma posição de poder na Unidade Especial de Investigação.
Cada um dos homens embrenha-se profundamente na sua vida dupla, recolhendo informações sobre os planos e operações de cada um dos lados. Até acabarem por se matarem todos entre si.
A não perder. Especialmente recomendado para quem acredita da teoria da conspiração.
Com: Leonardo DiCaprio; Jack Nicholson; Matt Damon; Mark Wahlberg; Martin Sheen; Ray Winstone; Vera Farmiga; Kevin Corrigan
sexta-feira, janeiro 26
quinta-feira, janeiro 25
Cidades 6
Os holandeses tal como os espanhóis, vivem intensamente o espaço público. O final da tarde é sempre uma alegria ver todos a desfrutarem da cidade e da convivência urbana e civilizada. As cidades também são feitas destas expressões de vida.
Debate sem noção
Hoje o debate no Parlamento, assim como os outros do passado, deixam-nos uma sensação estranha. Uma sensação de regresso aos debates do tempo das associações de estudantes (sem ofensa) do nosso tempo de juventude. Os mesmos discursos que, ainda hoje, fazem as delicias das juventudes partidárias. Um misto de “infantilismo” argumentativo que emerge num comportamento de “claque” onde a linguagem se socorre do discurso mediático como (única) forma de legitimação e reconhecimento de autoridade, perante os outros. A pobreza da retórica praticada será reveladora do conteúdo? Tememos que sim. As opções fazem-se em função de superficialidades. Ou são inspiradas pelo que vem de fora, ou fazem parte do “jargão” do tempo.
Simulação de diálogo no Parlamento:
Primeiro-ministro: Eu proponho esta medida que estabelece uma ruptura absoluta com o passado tornando Portugal um país melhor.
Oposição: O que o PM diz é muito bonito mas já existe e não trás nada de novo. O governo devia falar de coisas novas e concretas e não de generalidades.
PM: É uma vergonha a oposição não se preparar para o debate de uma questão tão importante para o país. O governo só tem escolhido debater no Parlamento os temas mais importantes para a nação. E como todos podem ver a oposição não tem nada para apresentar como alternativa. E já agora, sobre as coisas novas deixem que lhes diga que durante o tempo do vosso governo ninguém se lembra de uma única medida sobre esta questão em debate.
Op: Lamentamos informá-lo sr. PM. Mas tudo aquilo que o sr. anuncia já estava legislado pelo anterior governo. E o sr. continua sem falar no essencial. E o essencial é outra matéria que não esta.
PM: Pois é, mas vossas excelências esquecem-se que as leis que aprovaram não trouxeram qualquer melhoria no sector. A que nós estamos a apresentar é que o vai melhorar.
Op: É falso. O sr. PM é mestre no discurso e a anunciar mas o que diz não tem qualquer aderência à realidade. E faço-o lembrar que neste sector o sr. já foi responsável pelas politicas desta área e como se vê, desde o seu tempo de ministro, aquilo que propôs não teve qualquer efeito.
PM: É impressionante que a oposição se esqueça que teve 3 anos no governo e por isso tem enormes responsabilidades nesta área. Mais grave, para não dizer gravíssimo, é que a oposição não consiga reconhecer a grande visão da medida apresentada pelo governo. Medida extremamente importante, que acompanha toda a Europa, e que aponta o caminho da modernidade para o nosso pais. A oposição está só voltada para o passado, apesar de não ter feito nada quando era governo.
Op: O PM só fala mas no concreto não apresenta nada para além de tudo o que apresenta não trazer nada de novo.
Bla bla bla, bla bla, bla….
Já cansa.
terça-feira, janeiro 23
Vermeer
The Art of Painting
(1666-73)
A pintura de Vermeer (1632-1675) deixa-nos sempre com a sensação de estarmos a devassar a intimidade do lar e das respectivas personagens. A fragmentação da luz e o grau de detalhe aumentam essa sensação. Mas, ao mesmo tempo, a riqueza dos trajes e a decoração requintada transmitem um conforto agradável. Convidativo, mas interdito.
O artista retrata-se de costas, o que, conjuntamente com a cortina em primeiro plano, acentuam o grau de “devassa” do observador: Nós. A arte de Vermeer é a de nos colocar sempre no papel de “voyeur” de uma cena para que não fomos convidados e, à qual, só podemos aceder através da tela. A pintura funciona como a porta para o interdito. Só ela revela o que temos de mais profundamente humano. A proximidade dada pelos pormenores aproxima-nos do sagrado da forma sob a luz. “Deus está nos detalhes” já muitos o referiram…
segunda-feira, janeiro 22
Déjà Vu
Toca o velho problema da “máquina do tempo” e da sua (im) possibilidade. Ligado à descoberta de um crime, torna-o comparável “Relatório Minoritário” de Steven Spielberg, em que se montou um “sistema” que permitia prevenir o crime, combatendo-o antes de acontecer. Déjà Vu faz ao contrário tenta descobrir, através da consulta informática ao passado recente (3 dias antes), o assassino. Mas a tentação de intervir sobre o curso desse passado é grande…apesar de limitada, porque sempre imprevisível. Mas mesmo assim o herói não resiste e tenta salvar a heroína, fazendo a viagem.
O “tempo esse grande escultor” poderá ser dominado? O filme faz-nos pensar acerca disso.
sábado, janeiro 20
sexta-feira, janeiro 19
BESPHOTO
Daniel Blaufuks
A terceira edição do prémio de fotografia do Banco Espírito Santo abriu ontem no Centro Cultural de Belém.
Está dividida entre dois fotógrafos - Augusto Alves da Silva e Daniel Blaufuks - integrados no circuito da arte contemporânea, e dois artistas - Susanne Themlitz e Vasco Araújo - cuja pesquisa os levou a usar a fotografia como suporte.
quinta-feira, janeiro 18
terça-feira, janeiro 16
Actualidade
Crânio arraçado de Homem Moderno com Neandertal com 40.000 anos
Hoje no Público
“Portugueses fazem parte da equipa que publicou um artigo numa revista científica norte-americana sobre ossos descobertos na Roménia, com cerca de 40 mil anos, a altura em que a nossa espécie terá entrado em contacto, pela primeira vez na Europa, com o homem de Neandertal.
Volta e meia, conforme as descobertas e as suas interpretações, surge a mesma dúvida: os Neandertais fizeram, ou não, sexo com os humanos modernos, a nossa espécie? A crer no estudo de um crânio quase completo, descoberto numa gruta na Roménia, foi sexo que fizeram. Porque, diz a equipa que o estudou, apresenta uma mistura de traços anatómicos de humanos modernos e de Neandertais. “
Já tínhamos suspeitado. É reconfortante a confirmação. Ajuda a compreender (e desculpar) muita gente.
Claro, tinha de haver portugueses metidos nisto…
segunda-feira, janeiro 15
O voo do corvo - Gibrat
domingo, janeiro 14
Amadeo de Souza-Cardoso VI
A exposição de Amadeu Souza Cardoso termina hoje há meia-noite. A qualidade da obra e da exposição foram consagradas com a afluência do público. Amadeu merece e a Gulbenkian também.
Mais de 100 mil, ao que parece. Os últimos dias parecem ter sido de fila constante. A Fundação mostrou estar à altura do tempo. Deixou aberta a exposição das 10 de Sábado à 24 de hoje. Toda a madrugada. Notável.
A boa cultura parece mobilizar os portugueses. Parabéns a todos os envolvidos.
O PERFUME
O Perfume, de Patrick Suskind, foi um livro que lemos no primeiro ano da Faculdade em 1990. Como sugestão de uma colega que, então estava obcecada pelos cheiros. Ficamos tão impressionados com a descrição que não resistimos a lê-lo. É livro para se ler de um trago. Recordamos ter faltado a umas aulas para conseguir ler as ultimas paginas, no velho “Canteiro” café restaurante, onde quase vivíamos, ali ao lado da Belas Artes ao Chiado, tal era o entusiasmo.
Não vamos aqui reflectir sobre as diferenças e dificuldades de transpor um grande livro para cinema. Quase todos ficam menores. As imagens oferecem-nos tudo, ou quase, a literatura faz do leitor um construtor. E a nossa imaginação tem uma capacidade de produzir infinitamente superior à realidade.
No entanto, este filme surpreende. O realizador joga o jogo do escritor. Mas como o cinema não tem cheiro ele tenta transformar a imagem em odor. Assim como Suskind faz com as palavras. Também estas não têm cheiro. Mas que nós somos transportados para o mundo do olfacto, é um facto.Este universo do cheiro está afastado da nossa cultura ocidental. Tentamos por todos os meios anulá-lo. Basta visitar países “do terceiro mundo” – ai aquela Medina de Fez - para perceber o que estou a dizer. Assim a história transporta-nos para a fétida Paris do século XVIII, onde a imundice era geral, mas a sofisticação do gosto “barroco” já promovia a emoção pelos sentidos até pelo nariz. Jean-Baptiste Grenouille, totalmente inodoro, vem ao mundo na podridão de um mercado. Nasce no meio de uma peixaria. A mãe abandona-o à morte, mas ele acaba sendo resgatado, enquanto a jovem mãe desnaturada é condenada a decapitação. E assim acontece sempre que alguém que trata dele, o larga.
Criado num orfanato, é desde sempre, um sobrevivente que "vê" o mundo pelo olfacto. Passa por todos os estádios da genialidade, sem conhecer o amor ou a moral. Só se alimenta da sua obsessão. Descobre, então, que o mais sublime dos aromas está em algumas mulheres. Particularmente as ruivas mais deslumbrantemente belas. E, a partir de então pretende apenas conseguir “guardar” esse aroma, capaz de gerar as mas profundas alterações da alma. Para produzir o melhor perfume mata as mulheres que vão permitir executar a sua criação. Acaba condenado, mas o perfume produzido, salva-o, mais uma vez, levando todos os que assistiam à sua condenação: primeiro a venerá-lo, depois ao êxtase e por fim à luxúria colectiva. Ao assistir a tudo isto, Grenouille, arrepende-se das mortes efectuadas, ganhando a consciência, mas esta só surge depois da sua criação final. Por fim entrega-se à morte, despejando a essência do perfume sobre si no lugar onde nasceu – eterno retorno – sendo devorado pelos seus mais miseráveis conterrâneos. A criação, a culpa e a rendenção sempre lado a lado.
Filme a não perder a quem tenha os sentidos abertos!!!
O Perfume (Perfume: The Story of a Murderer, Alemanha/França/Espanha, 2006), 2h27. Drama. Direção de Tom Tykwer,
Com Ben Whishaw, Dustin Hoffmann, Rachel Hurd-Wood e Alan Rickman.
sexta-feira, janeiro 12
quarta-feira, janeiro 10
terça-feira, janeiro 9
segunda-feira, janeiro 8
Um(a) Polis (com) sentido
Falar da polis a propósito do Polis, constitui um bom motivo para reflectir sobre o seu sentido, ou a ausência dele, para os próximos anos.
Melhorar a qualidade de vida urbana constitui, em si, um esforço louvável. O desejo de “construir” cidade é o reflexo do gosto e empenho que os cidadãos demonstram pela sua vida comunitária nas suas diversas dimensões. E esta obra é sempre tarefa colectiva. Sabemos que ao escrever este artigo corremos riscos. Reflectir criticamente sobre uma “obra emblemática para a cidade”, como alguém já lhe chamou, pode parecer apenas vontade de dizer mal. A inexistência de intervenções com significado urbano, nos últimos anos, torna o exercício ainda mais arriscado, por poder parecer fútil ou excêntrico, dada a pobreza em que vivemos. Não é essa a nossa intenção. Apenas pretendemos abrir esta discussão porque entendemos que a cidade se deve e pode fazer de maneira diferente. De forma inteligente e criativa mas, simultâneamente, exigente. A escassez dos recursos assim o determina. Mas essa exigência aprofunda-se pelo confronto esclarecido através do debate. Não da mera lógica maniqueísta entre executivo e oposição, mas pela imposição da razão.
O Polis de Setúbal surge tardiamente no contexto do desenvolvimento deste programa a nível nacional. Conjuntamente com o Plano de Pormenor do Vale da Rosa, aparece como uma espécie de “moeda de troca” pela defesa da co-incineração feita pelo Presidente da Câmara de então, Mata Cáceres. A sua concepção apressada e a natural falta de visão de politicas urbanas por parte dos decisores que nos têm governado, plasmou-se na primeira proposta de intervenção para o Polis, denominado “Plano Estratégico de Setúbal” (PES). Este tem vindo a alterar-se. Não por vontade politica de o mudar, visto a nova maioria eleita desde 2001 o ter adoptado acriticamente, mas por adaptações “pragmáticas” ditadas pela realidade económica vivida desde então. A sua desadequação programática acentuou esta necessidade.
Para não nos perdermos em aspectos mais longínquos ou mesmo de concretização duvidosa acerca do previsto no Programa Polis, concentremo-nos nas três intervenções que estão, ou parcialmente realizadas – «Parque José Afonso» e «Parque Urbano de Albarquel» – ou em fase aproximada de arranque – «Reabilitação e Revitalização da Av. Luísa Todi» (os nomes são os dados pelo Programa Polis).
No “Parque” José Afonso, foi realizado um “pórtico” que enquadra um auditório com capacidade para 2500 pessoas (números oficiais). Esta estrutura era para ter sido, no programa inicial, acompanhada de uma outra, mais leve, para a realização de feiras temáticas e de um parque de estacionamento subterrâneo, que não se realizou por falta de interesse no “negócio” por parte dos privados. O investimento público foi para mais de 4 milhões de euros, na dita estrutura e arranjo exterior. Dando de barato a qualidade arquitectónica da intervenção vamos apenas referir – nos à sua oportunidade. Para se fazer esta intervenção foram retirados do Largo José Afonso, a Academia de Dança e o Grupo Desportivo, servindo, ainda, de pretexto para se “deslocalizar” a Feira de Santiago para as Manteigadas – dando, ai, origem a outro Parque (será praga!!?). Isto tudo com o objectivo de «requalificar» e «manter o carácter identitário do espaço com as representações sociais da população» assim como para atrair «novos públicos» segundo o PES. Seria cómico se não fosse trágico. Numa cidade carente de tudo é “obra”! Para perceber o desvio do que faz falta à cidade basta referir o adiantado estado de degradação do Fórum Municipal Luísa Todi onde se realiza, entre muitos outros, o evento cultural com maior projecção da cidade: o Festival de Cinema de Tróia. Apesar de este edifício também se situar dentro da zona de intervenção, ninguém se terá lembrado dele? Não poderia este constituir um espaço de «requalificação urbana», sendo ele próprio (re) qualificado?
Passemos ao «Parque Urbano de Albarquel», o único digno dessa designação. Esta intervenção parece-nos a que mais sentido faz e que mais benefícios poderá trazer aos Setubalenses e a quem nos visita. Recuperar uma praia urbana para Setúbal é, para além de um reencontro com a sua história, um potente elemento de «aproximação da cidade ao Rio», com as inerentes valências ambientais, lúdicas e turísticas que, inevitavelmente, trará. No entanto a gestão de um espaço limitado por duas “zonas fronteira”, o rio e a serra, não é fácil. E o programa proposto não nos parece suficiente para manter “vivo” o parque. Um «ringue/campo» um «café bar com esplanada» e «dois edifícios de apoio» para «associações recreativas», não nos parece chegar para manter um espaço com estas características afastado de uma degradação a prazo. Já temos algumas experiências na cidade – e fora dela - que nos permitem perceber os seus riscos. Um uso multifuncional, um pouco mais intenso e com horários diferenciados era importante para manter qualificado um percurso com este potencial. A desejada Marina podia ajudar a resolver boa parte do problema, mas, na sua ausência, devem-se procurar, desde já, alternativas.
Por último a «Reabilitação e Revitalização da Av. Luísa Todi» parece-nos a mais desprovida de sentido. Falaremos apenas em dois:
Esta avenida é dos poucos espaços urbanos em Setúbal que não têm necessidade de “reabilitação”. É um espaço com “carácter” que não “envergonha” ninguém. Apesar de ser passível de melhorias, especialmente na sua requalificação pontual (ex: os tão característicos “assadores” de peixe que, tão mal integrados estão, e sobre o qual o Polis não se pronuncia). Admitimos, no entanto, que necessite de alguma “revitalização”. Contudo a responsabilidade não é “sua” mas das suas zonas adjacentes. Esta está situada entre: a “baixa” (comercial), a zona portuária (serviços) e a zona piscatória. Tudo espaços decadentes, monofuncionais, sem população residente e a necessitarem de reconversão urbana urgente. É, por isso, difícil de entender o porquê de intervir na melhor parte, deixando as que verdadeiramente necessitam, sem resposta.
Outro aspecto intrigante é a alteração da circulação viária, suprindo a via norte da avenida e criando «um novo itinerário giratório» entre a via sul e a Rua da Saúde/Av. Jaime Rebelo (via portuária). Para além da fase das obras, que vai gerar um previsível caos na cidade, este novo traçado viário na Luísa Todi parece-nos ir agravar o trânsito em Setúbal, sem se resolver nada do que é verdadeiramente urgente: recuperar o centro histórico e a zona ribeirinha levando para lá novos habitantes e novas funcionalidades urbanas, valorizando toda a zona patrimonialmente mais rica aproximando a cidade do rio.
A Luísa Todi, continua a ser a única verdadeira circular que temos, na ligação entre as suas partes ocidental/oriental, fruto da fractura urbana exercida pelo caminho-de-ferro. É uma realidade indesejável mas é a nossa realidade e, tão cedo, não se vislumbra outra. No entanto, querem acabar com ela, gastando para isso 12,5 milhões de euros, sem trazer vantagens que o justifiquem. Temos horror ao desperdício, justifica-se tal opção? Pensamos que não.
Mas este conjunto de más opções é difícil de corrigir e ainda mais de travar. Politicamente é quase impossível. Da parte da maioria camarária, não se vislumbra qualquer esperança de mudança. Resta-nos apelar ao bem senso. E debater intensamente o melhor para a cidade. Parte do que atrás referimos poderá ainda ser corrigido mas para isso é necessário muito empenho, coragem e visão. Estarão os diversos actores disponíveis para ter um Polis com sentido?
Publicado hoje no Jornal de Setúbal
(Imagem do Programa Programa Polis - Av. Luisa Todi)
sexta-feira, janeiro 5
quinta-feira, janeiro 4
terça-feira, janeiro 2
Salamanca
Este óptimo hábito urbano de que o Espanhois não abdicaram. O andar na Rua. A cidade não é dos carros e dos "excluídos". É de todos.
Exemplar foi ver, no primeiro dia do ano, familias inteiras a passearem na rua com as suas melhores vestes, onde as senhoras se destacavam nos seus casacos de peles, politicamente pouco correcto sabemos, mas demonstrativo da importância dada à cidade. A sua cidade merece o melhor no ano nuevo.
Plaza de S. Boal, à direita com o Palacio de San Boal, actual Academia de las Artes.
Uma das maiores de Espanha. Onde estiveram, de acordo com los periódicos locais, cerca de 4000 personas. Entre os quais nosotros. Cantámos o hino de Portugal, antes da meia noite. Éramos muitos em Salamanca na noche vieja.
Salamanca, conhecida pela sua vida universitária, é muito mais que isso. Cidade a não esquecer.