segunda-feira, janeiro 14

Ano Novo, novas oportunidades para Setúbal?


Perante um cenário económico, nacional e mesmo internacional, no mínimo, de grande indefinição, eis que surge uma boa notícia e com ela uma oportunidade se abre para Setúbal e a sua região. Falamos, obviamente, da decisão tomada pelo governo na última semana: o Novo Aeroporto Lisboa (NAL) no Campo de Tiro de Alcochete.

Politicamente a decisão tardava. Um novo aeroporto internacional era urgente. O esgotamento da Portela ameaçava, ainda mais, a já periférica situação em que nos encontramos face a Madrid, à restante Europa e ao Mundo. Apesar de tornar muito duvidosa a determinação governativa na condução deste processo, é sempre preferível a melhor decisão. Aplaudimos. Mas não esquecemos que esta se ficou a dever ao empenho da “sociedade civil” e de alguma oposição, que se bateram contra a irracionalidade, exigindo explicações sobre o porquê de uma opção que, quanto mais se discutia, mais parecia apenas e só…uma obsessão. Vale pois a pena continuar a lutar pelas melhores opções. Alcochete parece ser a melhor; para o país, para a região e, também, para a cidade.

Portugal fica com uma solução aeroportuária que pode ser de crescimento lento mas sem limites. Permite um controle de custos – ao se articular com a Portela durante os próximos anos – gradual e ajustado às reais necessidades de tráfego aéreo do país sem, no entanto, estar condicionado em crescimento. Tendo espaço para se tornar numa grande plataforma internacional entre a América, a Europa e África, de acordo com o apontado pelos estudos do LNEC. Como noutros tempos, a boa condução de um investimento, pode ajudar esta periferia geográfica a ser novamente central.

A Península de Setúbal, com grande ligação ao sul e a Espanha, vai poder equilibrar-se, a nível do ordenamento do território, com a margem norte do Tejo, no contexto da Área Metropolitana de Lisboa. Esse desequilíbrio era muito negativo para a “margem sul”. Tornava mais difícil a vida das suas populações, muito dependentes do lado norte, e das suas sobras. A metrópole que é a grande Lisboa se for mais harmoniosa, económica e socialmente é também mais sustentável ambientalmente. A coesão territorial entre as duas margens só podem beneficiar todos. Uma nova ponte simbólica, mas, também, real (veja-se Chelas/Barreiro com o TGV) está a ser lançada. A região poderá voltar ser um elo de ligação entre Portugal e o mundo, onde se inclui Espanha, assim como entre o norte e o sul do país.

A Setúbal é dada uma oportunidade que não se pode desperdiçar. Sendo com Lisboa a única cidade com identidade urbana dada pela história nas imediações do NAL e estando próxima de um pólo turístico, que se pretende de referência: Tróia. Esta, vê reforçada a sua posição estratégica enquanto ponto de passagem. Ser só um ponto nesse percurso ou ser também de paragem é uma questão decisiva para o seu desenvolvimento. Para se poder atrair turismo mais exigente tem que ter algo que os outros não tenham. E o que temos é suficiente? Pensamos que não. Temos: Paisagem (Arrábida e Estuário do Sado) a Cidade histórica (muito degradada e com comércio decadente) e Mão-de-obra (pouco qualificada). Que fazer? Apesar de se ter, aparentemente, condições potenciais, falta realizar o potencial para se oferecer alguma qualidade. Agora muito vai depender dos Setubalenses. Atrevemo-nos, pois a sugerir alguma coisa.

À paisagem “basta” conservá-la (o que já não é pouco) e permitir o seu usufruto sem excessos, criando e incentivando o turismo “ambiental”, de preferência despoluindo o Rio Sado. A cidade tem de se reabilitar, não só o seu centro histórico, mas também os bairros. Principalmente os mais degradados e “guetizados”. Mas toda a cidade tem de ganhar uma nova atitude, harmonizando-se com a sua envolvente, tornando-se mais “verde” e mais agradável ao cidadão e, por consequência, a quem nos visita. As zonas antigas têm uma dimensão considerável e por força de não terem sofrido grandes mudanças mantêm-se quase intactas, apesar do mau estado. É necessário voltar a encher de gente. Dos que saíram mas também de novos habitantes, conservando os “velhos”. Mantendo o seu carácter urbano, mas mais cosmopolita. Criando comércio e restauração de referência. Únicos. Só de cá. Mas com qualidade. O turismo urbano tem um enorme potencial. A articulação dos meios de transporte entre si e com o tecido urbano também é estratégica, principalmente na ligação entre Lisboa, o NAL e Tróia. Junto a estas “estações”, para além da restauração e comércio convencionais poderiam estar associada a diversão nocturna. É essencial melhorar substancialmente toda a frente de Rio, preservar a pesca que sobreviveu e oferecer actividades de náutica de recreio. A criação de um ou dois pólos culturais com programação bem divulgada complementavam a oferta. Por último, mas o mais importante nesta regeneração urbana: a educação e a formação. A escola e a qualificação têm de ser uma prioridade, estar relacionadas entre si, com a cidade e o tecido económico e empresarial da região. Dirigidas, não só às novas gerações mas a todas as faixas etárias. Reconverter o tecido social e produtivo é urgente e isso faz-se “ensinando a pescar e não dando o peixe”. Só melhorando a qualidade das pessoas podemos melhorar o resto.

No fundo é necessário criar, promover e explorar na cidade e no concelho o que não existe na região. Oferecer melhores produtos e serviços e apostar na diferenciação. Se assim não for poderemos ficar apenas a ver passar comboios, aviões e navios.
Bom ano.


Publicado hoje no "Jornal de Setúbal"

1 comentário:

Paula Crespo disse...

Penso que as soluções apontadas para Setúbal se aplicariam, grosso modo a todas as outras cidades do País que não Lisboa e Porto. É fundamental revitalizar as cidades ditas de província, do litoral ao interior, criando pólos de desenvolvimento que atraiam as populações e as repovoem. O turismo é sempre uma boa aposta, mas o desenvolvimento económico não deve passar só por aí, evidentemente. Há que criar condições para a deslocação de empresas e serviços, que fixem as pessoas fora das grandes cidades, sob pena do não-desenvolvimento das pequenas urbes tornar, também, insustentável a vida nos grandes centros urbanos.