sexta-feira, outubro 31

Gonçalo Ribeiro Teles


Tivemos o privilégio de partilhar a sua companhia na conferência e no jantar, organizada pela Prima Folia, no dia 24, sexta-feira, às 20:00 horas, na Academia Problemática e Obscura, em Setúbal.

O Arquitecto GRT é uma figura rara em Portugal. Vindo de uma família ligada à terra e ao mundo rural que a sua formação consolidou, é um dos últimos intelectuais portugueses que tem esta "raiz". É uma pessoa ligada aquilo que é perene, pouco dado aos fenómenos de moda, a que a nossa intelectualidade é tão vulnerável. Podemos mesmo identificá-lo com uma tradição mais anglo saxónica que continental. Apesar de por vezes parecer ter um discurso “revolucionário” GRT é tudo menos isso. Apenas coloca como expectativa no futuro aquilo que observou de bom no passado. Criticando duramente a perda de vinculo e respeito entre o homem e a natureza. Ou talvez mais correctamente entre a urbanização, a ruralidade e a natureza.

Durante a nossa conversa ao jantar, antes da conferência, podemos desfrutar do seu pensamento consistente fundado no “senso comum” onde a ciência serve mais para o explicar, do que para o contrariar. Um pensamento que valoriza o “costume” mais do que a novidade o “imposto”. Nesse sentido critico da desvalorização que se tem perante o saber popular assente na tradição. Tão mal tratado por esta “miragem modernizadora” que nos invadiu nas últimas décadas e que levou desrespeitar o que era a sabedoria ancestral, fundamentalmente no mundo rural e na sua relação com o urbano, que nos tem conduzido à actual insustentabilidade territorial em que vivemos.



Mas desenganem-se aqueles que o julgam um fundamentalista ambiental. Não, a sua visão critica sobre este tipo de "ambientalistas" é igualmente aguçada e coerente, considerando-os, na maioria das vezes uns “urbanos radicais” que andam à procura da “paisagem original” quando praticamente toda a natureza é construída com a intervenção do homem. E essa intervenção humana tornou, quase sempre, mais rica e diversa essa mesma natureza. Para GRT a sua preservação só é entendida com o homem no seu centro e nunca na procura de uma “qualquer natureza original” onde o homem não cabe ou está a mais.

Foi uma conferência a todos os títulos marcante e inesquecível.


terça-feira, outubro 28

Divulgação


Ciclo de Conferências

" A Cidade no Século XXI"


Novembro 2008



O papel das cidades no século XXI é o tema do ciclo de conferências organizado pela Parque EXPO, que se realiza em Novembro, no Pavilhão de Portugal, integrado nas celebrações do 10.º aniversário da EXPO'98.Subordinados ao tema " A Cidade no Século XXI":




Reflexões, Desafios e Estratégias", os debates incidem sobre a requalificação urbana e ambiental, o planeamento e ordenamento do território e a qualidade de vida urbana.O ciclo de conferências abre no dia 6 com a apresentação de Sir Peter Hall sobre o futuro das cidades europeias no século XXI.

No dia 11, o arquitecto Luís Vassalo Rosa comenta o tema "Cidades, Comunidades e Invenções do Futuro – Realidades e Utopias", e a 13 o professor Guy Burgel apresenta a conferência "A Vingança das Cidades: Um Desafio para o século XXI".No dia 18 o arquitecto Manuel Graça Dias lança o tema "Da Cidade que deixará de ser viária" e a 20 o professor Christian Matthiessen retrata "The European Metropolitan Competition Perspective: Challenges and Strategies in a cross-border region: Copenhagen – Malmö." O evento encerra a 25 com uma reflexão de António Mega Ferreira subordinada ao tema "A Condição Urbana".Em discussão estão os diversos futuros possíveis das cidades, face à necessidade de responder às alterações climáticas e à capacidade de promover processos de regeneração, da recuperação demográfica à inovação, tecnológica, organizativa e cultural.

O Pavilhão de Portugal foi eleito para a realização do ciclo de conferências por representar um dos marcos da EXPO'98, a exposição que transformou o panorama urbano na cidade de Lisboa e que afirmou a notoriedade de Portugal a nível internacional. Dez anos depois, a Parque EXPO, na qualidade de impulsionadora da EXPO'98, promotora da operação de revitalização urbana e gestora do espaço público, convida urbanistas portugueses e estrangeiros a reflectir sobre os desafios das cidades actuais e as estratégias para as cidades do futuro.

Para o professor Jorge Gaspar, comissário do ciclo de conferências, "Numa história milenar, as cidades têm evidenciado destinos diversos, mas a grande maioria tem mostrado uma enorme capacidade de adaptação aos tempos, reciclando não só a infra-estrutura mas também as funçõese as vocações. A cidade é a forma superior de organização territorial, económica, social e política da espécie humana.A grande maioria das cidades fundadas/edificadas nos últimos dois mil anos resistiram a catástrofes naturais e humanas, sobreviveram a diferentes formas de organização política, acomodaram-se a diferentes religiões, culturas e posicionamentos geo estratégicos, ainda que para isso tenham passado por períodos de declínio de que renasceram.As cidades são hoje, de novo, detentoras da esperança dos povos, respondendo às grandes ambições do mundo global: resposta para as alterações climáticas, capacidades para promoverem processos de regeneração, que vão da recuperação demográfica à inovação, tecnológica, organizativa e cultural."



As conferências têm entrada livre limitada à assistência da sala.


Ciclo de Conferências:


Sir Peter Hall – "O futuro das cidades europeias no século XXI"Data: 6 de Novembro, às 18h


Arq. Luís Vassalo Rosa – "Cidades, Comunidades e Invenções do Futuro – Realidades e Utopias"Data: 11 de Novembro, às 18h


Prof. Guy Burgel - "A Vingança das Cidades: Um Desafio para o século XXI"Data: 13 de Novembro, às 18h


Arq. Manuel Graça Dias – "Da Cidade que deixará de ser viária"Data: 18 de Novembro, às 18h


Prof. Christian Wichmann Matthiessen – "The European Metropolitan Competition Perspective: Challenges and Strategies in a cross-border region: Copenhagen – Malmö."Data: 20 de Novembro, às 18h


Dr. António Mega Ferreira – "A Condição Urbana"Data: 25 de Novembro, às 18h

Vento, muito vento.



Patagonia: Trees in the Wind Torres del Paine, Patagonia, Chile

by © Pablo Yañez

domingo, outubro 26

CNB



Fomos ver este bailado, aliás, dois bailados numa única sessão, no Sábado passado, no Teatro Camões, promovido pela Companhia Nacional de Bailado.

FOUR REASONS de Edward Clug & COME TOGETHER de Rui Horta.

Quer um quer outro são extremamente interessantes. O primeiro resulta de um diálogo entre os músicos em palco, piano violino (de Milko Lazar), e os bailarinos. Com uma cenografia a preto e branco, onde a luz esculpe o movimento dos corpos dos bailarinos, entre pedaços de cenário, que se vão desvendando ao longo do tempo.

O segundo é quase interactivo. Os bailarinos para além de dançarem, falam e cantam. A cenografia é toda construída a partir da luz. Com cor. O resultado das suas composições no palco ao desenhar diversas texturas torna o espectáculo quase dividido entre a dança e a pintura.

Estes dois bailados rompem as fronteiras entre as diversas formas de arte. Aliás, a tendência é cada vez mais essa, em todas as áreas de expressão. Nesse sentido estamos a caminhar para algo, salvo as devidas diferenças, mais próximo da abordagem medieval do que da modernidade. No sentido histórico do termo.
Parece estarmos caminhar para uma fusão das artes onde os seus limites estão a ficar esbatidos. A catedral reunia em si, e no seu interior, todas as formas e expressão artística do seu tempo. A modernidade veio separá-las. Especializá-las. Parece que estamos a fazer o caminho contrário.

Fomos ver em família (3 gerações), nas “Tardes de Família” (ao Sábado) promovida pela CNB, a preços especiais. Uma boa forma de promover o gosto pela dança e a convivência familiar. Fica mais barato que ir almoçar fora.

Nós



S/T

JCST

2008

quarta-feira, outubro 22

Mais um passo



A Índia, tal como a China no passado recente (já pós astronautas no espaço), quer marcar a nova corrida espacial ao pôr a sua bandeira na lua. Em princípio a 11 de Novembro. Mas esta nova corrida quer ir muito para além da afirmação política no seu espaço geopolítico. A sonda, agora enviada, parece ter dois grandes objectivos estratégicos:


Ser um primeiro passo para colocar na lua um ser humano (indiano) em 2020, considerando “o cenário daqui a cem anos, quando as colónias na Lua puderem ser uma realidade “;


Procurar hélio-3, um isótopo raro que é importante para a fusão nuclear. Apesar de ainda não se dominar esta tecnologia, esta” poderá ser uma resposta às necessidades energéticas do mundo de uma forma barata e com menos custos ambientais”;


Como já escrevi antes, esta aventura espacial, será a forma de podermos resolver o problema do crescimento demográfico e da crescente falta de recursos, particularmente os energéticos para podermos continuar a aumentar a qualidade de vida de todos.


Apesar de muitos dizerem que há outros sítios melhores para investir o dinheiro, particularmente em países como a Índia, onde tantos têm fome, continuamos a pensar que a prazo este investimento vai contribuir para o aumento da qualidade de vida.

Não deixa de ser interessante ver países que estão apostados em vencer no futuro, a China ea India, uma ditadura e uma democracia, estarem a investir nesta aventura espacial.

A Europa continua, também aqui, aparentemente mais voltada para o passado.

quinta-feira, outubro 16



Só ao acordar...

Maria José Amorim


2007



É, por vezes, este tipo de visão bucólica que nos faz ter saudades do campo. E nela não podemos “ver” dois outros aspectos essenciais para compor o “quadro”: o silêncio e os cheiros.


Apesar de sermos aficionados da cidade, o campo é mais propício à tranquilidade, à reflexão, à introspecção. O regresso à terra. Ás coisas simples, mas essenciais. Mais condizente com os estados de alma introspectivos, que nos chegam sempre no Outono.

segunda-feira, outubro 13

Divulgação


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O Livro


__A soma de um dilema humanO__

bruno silva

2008

A “Oferta” Errada




O Estado resolveu, no início deste ano lectivo, rever a Acção Social Escolar (ASE). Aumentou o número de pessoas abrangidas e as verbas para aquisição de livros e material escolar. A verba mais significativa vai para a aquisição dos manuais (entre 100 e 140 euros no escalão A e metade para o B). De acordo com informações do Ministério da Educação (ME), as famílias mais necessitadas (escalão A), com filhos entre o 5º e o 7º ano, vão conseguir, com este apoio, comprar a totalidade dos livros, com excepção dos referentes às disciplinas de: Educação Física, Educação Visual e Tecnológica e Educação.

Tornar os livros acessíveis aos alunos das famílias carenciadas é um princípio que ninguém contesta. Mas tornar estes “gratuitos”, parece-nos que, sendo uma medida bem intencionada, não resolve o problema a que se propõe e mantém outros, gastando mais dinheiro. Passamos a explicar:

Com esta iniciativa nem todos os alunos de famílias carenciadas vão ter acesso aos livros escolares. Como sabemos muitas das famílias não recebem apoio, por estarem acima do rendimento considerado elegível, ou não o recebem na sua totalidade (escalão B). Mas mesmo recebendo escalão A, existe um conjunto de livros que não podem ser adquiridos, como o próprio ME reconhece. No entanto, se o dinheiro agora gasto pela ASE em livros, este ano e nos próximos, fosse transferido para as escolas (e não para os alunos “carenciados”) tudo poderia ser diferente. As escolas compravam os manuais adoptados para uso geral e, em poucos anos, com os mesmos recursos, conseguia-se por os livros acessíveis à totalidade dos alunos fossem, ou não, de famílias carenciadas. Ao associar a aquisição do livro ao aluno, esta medida, repete a despesa, ano após ano, pelo número de alunos abrangidos, enquanto se for gerida pela escola, não seria assim.

Em países mais “ricos” que o nosso, os alunos usam os livros da escola (e.g. Reino Unido). Em Portugal, País com pouco dinheiro, quer ao nível do Estado quer das Famílias, parece-nos este custo um desperdício de recursos inaceitável. Um aluno gasta, todos os anos, cerca de 150 euros (média) em livros escolares. Imaginem só o que poderiam fazer com este dinheiro, as famílias ou o Estado, se o pudessem canalizar para outras necessidades.




O modo displicente como se encara o livro escolar em Portugal é difícil de aceitar. É quase um imposto, mas do qual poucos reclamam. Os livros são em grande número e, na sua maioria, não são reutilizáveis, tendendo a aumentar, pois, quase todos, têm livros de “exercícios” complementares. Ao estarem feitos para neles se escrever, inviabilizam na prática, o seu uso por outros. Até entre irmãos se torna difícil reutilizá-los. Só as editoras parecem ganhar com este negócio. Todos os outros ficam a perder. Por muito que gostemos de livros e de ter editoras fortes, este sistema acaba por se tornar num subsidio encapotado a este sector, não só por parte do Estado mas de todos os cidadãos. Como se tratam de livros escolares as “elites” do País parecem não considerar tudo isto sem sentido e de duvidosa utilidade. Esta medida não contribui em nada para a correcção deste desperdício, antes pelo contrário, agrava-o. O Estado, deixa de ser apenas o regulador, para se tornar, com esta medida, no seu maior “cliente”.

Ao tornar o livro “gratuito” o Estado dá ainda outro mau sinal. Esta medida não ajuda a melhorar a relação dos alunos abrangidos com os livros escolares, antes pelo contrário. Suspeitamos que se vão encontrar mais livros perdidos nas escolas do que já é habitual. Todos sabemos, pela experiência, própria ou alheia que, hoje em dia, ao que é dado, infelizmente, não se dá grande valor. É natural que sendo os livros oferecidos aos alunos sem qualquer esforço (próprio ou das famílias) ou controle (por parte da escola, ou dos professores), estes não cheguem, na sua maioria, ao final do ano lectivo. Valia a pena fazer esta “avaliação” para aferir o efectivo alcance desta ideia.

Esta medida vai ainda prolongar outro problema que também tarda em ser resolvido. Fruto de um número verdadeiramente impressionante de disciplinas e áreas não disciplinares, existentes no ensino básico, os alunos têm de carregar, todos os dias, um peso desmedido nas suas costas, dentro das suas mochilas, prejudicando a saúde e a qualidade de vida dos alunos. Não passando a “tutela” dos livros para a escola esta situação vai-se prolongar no tempo. Dando à escola a verba para adquirir e “gerir” os livros, como propusemos atrás, este problema teria fim. Para casa só iam os cadernos. Só excepcionalmente, os alunos, levariam algum livro requisitado tornando o seu percurso bem mais agradável e saudável. Com acontece em outros países.

Por tudo o que atrás explicámos consideramos a “oferta” de livros escolares aos alunos errada. Provoca despesa, sem tornar o livro escolar acessível a todos (nem aos mais necessitados) e ajuda a manter ou prolongar maus hábitos. As medidas devem-se aferir pela sua eficácia e não pela sua bondade. Oferecer pode não ser o melhor caminho. O desejável é tornar o acesso aos livros escolares possível a todos. O acesso não implica uma aquisição individual mas a possibilidade do seu usufruto pelo maior número. Essa oferta é que está certa.

No entanto, esta parece ser só a primeira de muitas. Um novo computador já está a caminho. Irá, ao que se sabe, também ser oferecido a um grande número. O que atrás dissemos relativamente aos livros, aplica-se, também, neste caso. Esta tecnologia exige conhecimento específico para ser manuseada e acresce, relativamente aos livros, uma assistência especializada para se conservar. A ser verdade, corremos o risco de ver, nas ruas das nossas cidades, muito “Magalhães” a navegar sozinho.


quarta-feira, outubro 8

A "Geração 25"


Hoje o artigo de Rui Ramos (RR), no Público, merece 20 valores. Entre os vários aspectos a que refere destacamos um, que nos parece muito revelador do actual caldo político e social e até cultural. Passamos a citar:

«No entanto, durante a semana passada em Lisboa, o movimento na bolsa da indignação cívica oficial foi discreto. No Diário de Notícias, Fernanda Câncio reparou: "Se em vez da 'atribuição' de casas estivéssemos a falar de envelopes de papel pardo com notas lá dentro, estaria já tudo aos gritos, a começar por Sá Fernandes e Helena Roseta, esses indomáveis campeões antinegociatas". Com efeito, não ouvimos as habituais sirenes dos justiceiros de serviço. Terá sido apenas porque as casas não cabem em envelopes? Talvez haja outra razão: é que este era um caso que só envolvia boas consciências, daquelas onde nada pesa, como na Lua. Foram aliás estas consciências - reflectidas, como observou Pedro Norton (Visão), numa "ingenuidade argumentativa à prova de réplica" - que mais surpreenderam os comentadores. São de facto a chave do caso.»

RR refere que esta chave reside no “perfil moral apropriado” dos arrendatários e em “não criar regras ou regulamentos” pois sem estes, não existe ilegalidade sobre este procedimento.

Pois nós acrescentaríamos que esta situação de favor é muito geracional, apesar de não ser um exclusivo desta. Passamos a explicar:


Com a transição do regime as “chefias” do Estado Novo, foram saneadas. Quem ocupou o seu lugar foi a “Geração 25”, como a vamos chamar. Esta, ou estava na faculdade, ou estava ligada (ou ligou-se à pressa), de alguma forma, a sectores da esquerda, quando o 25 de Abril ocorreu e o PREC se instalou. Andava entre os vinte e os trinta e poucos anos de idade. Eram, na sua maioria filhos da classe média. Os mais enérgicos queriam mudar o mundo. Muitos não fizeram praticamente nada para se licenciarem, foram passados administrativamente. Outros viram-se catapultados para profissões ou lugares que nunca pensaram ter, mas que as novas necessidades produzidas pela “construção” do Estado Social, ainda incipiente, e as Nacionalizações, permitiram. Tudo foi fácil. Para quem tinha a postura certa, o “estômago” necessário e a ausência de espinha dorsal, foi ainda mais. Não mudaram o mundo mas mudaram de vida. É obvio que esta “Geração 25” não abrangeu o País todo, mas marcou bastante a classe média que vive na orbita do Estado.

Esta geração percebeu que através da “cunha” certa tudo se conseguia. O conhecimento e a competência para os cargos pouco interessavam. Bastava ser um amigalhaço. E para quem tinha ambições, capacidade de fingir que sabia mandar e mexer os “cordelinhos” certos, para a ocasião certa, estava safo. O importante era parecer. Parecer saber, parecer fazer, parecer …qualquer coisa. Mostrar estatuto. E assim se foram construindo carreiras que, noutras circunstâncias históricas e em espaços geográficos distintos, teriam sido impossíveis.

Primeiro patrocinada pela esquerda e depois pelo bloco central, (a partir dos anos 80), esta geração lá foi fazendo a vidinha. Os fundos estruturais da Comunidade Europeia ajudaram a manter a festa. Esta malta sendo fraterna, não gosta que os seus passem dificuldades, tal como não gosta de os ver demasiado bem. Por isso todos os que cortaram ou nunca participaram nesta “gamela” são gente olhada, por estes, de soslaio. Cavaco Silva, na política e Belmiro de Azevedo, nos negócios, são, talvez os mais destacados exemplos do tipo “outsider” a que nos referimos. A “Geração 25” não gosta deles. Actualmente toleram-nos, com dificuldade mas não gostam deles, são demasiado livres e pouco “comprometidos”. Imprevisíveis, portanto.

Actualmente é esta geração que ainda se mantém no poder. Alguma dela “evolui” para a direita, mesmo se esta evolução, só se reflectiu na passagem para o mundo dos “negócios”. O que em Portugal quer dizer negócios a partir do Estado ou com o Estado. De preferência nas empresas públicas. Mas outros ficaram na esquerda. E estes ganharam, uns pelos outros, o respeito pela coerência “moral”. Mas esta última, como sabemos, não enche o estômago a ninguém. Não custa nada, pois, dar uma “ajudinha” quando estes estão em dificuldades.

Portanto viver de favor, como é o caso das “casas da câmara” é absolutamente aceitável para os “justiceiros” do costume. Até porque muitos dos beneficiados são artistas ou jornalistas, pasme-se. E a este “artistas” tudo parece ser permitido. São, por definição, “necessitados” por não se terem “vendido” ao capitalismo, mantendo-se por isso, nesta condição eternamente. Mesmo quando, entretanto, se tornaram altos funcionários da Administração Pública, ou gente bem sucedida nas suas actividades. Mas como não se tornaram livres e descomprometidos, continuando na “gamela”, tudo lhes é perdoado. Fazem parte da malta e a malta não gosta de ver os seus a viver mal. Hoje por ti amanhã por mim, pensam.

Poderão dizer que tudo isto que imputamos à “Geração 25” já vinha detrás. É verdade. Mas nunca antes foi assumido como “normal”, ou mesmo, como modo de vida. Podem, também, dizer que muitas das práticas continuam nas gerações mais novas. É verdade, mas nenhuma outra geração viveu, ou viverá, tanto tempo, neste contexto de facilidade. Até porque com as transformações estruturais que estão a ocorrer, esse mundo está a mudar. O dinheiro que pagou isto está a acabar.

Crise? Avancemos...

Fantasmas de Pedra
Nelson Silva
2008


Estamos num período de transição. Falar em fim do Capitalismo parece-nos absurdo. Mas especula-se sobre essa possibilidade. Saudades da “guerra-fria”? Talvez, mas tal já só interessa a quem parou no tempo. Para quem tenta sentir os sinais do futuro essa grelha de análise está desadequada.

O mundo industrial continua a mudar. Uma outra sociedade emerge. O processo de transição continua. E este está a mudar quase tudo o que pensávamos adquirido. Da família ao modo de produzir e distribuir a riqueza. Tudo parece mexer.

O planeta está mais próximo e todos, ou quase, querem passar a viver melhor. Nada a opor. No entanto, esta realidade tem consequências principalmente para quem vivia melhor. Os europeus por exemplo. Para um asiático, que melhorou ligeiramente o seu nível de vida, continuando mesmo assim a viver mal para o padrão europeu, a vida actualmente não está a correr mal. Já para um europeu as coisas não são bem assim, pois estão, globalmente, a viver pior. Quer relativamente ao seu passado recente quer comparativamente com regiões emergentes deste novo mundo globalizado.

As instituições que marcaram a vida das últimas décadas mudam todos os dias. As financeiras estão a trilhar novos rumos e por essa razão têm andado em roda livre. Os mercados ao serem cada vez mais transnacionais colocam novos problemas. A “desregulação” é, por vezes, a dificuldade em controla-los. Num período em que a política e, por consequência, os Estados, vivem com má consciência por descrédito junto dos representados, dificultou a tarefa de os por na ordem. O económico ao tornar-se muito mais credível que o politico facilitou esta valente queda. Com o aparente “fim da história” tudo parecia ser reduzir-se a dinheiro e à sua gestão. E esta era uma questão técnica. Não parece ser bem assim. Com esta catástrofe o politico vai voltar a ganhar espaço, não sabemos se credibilidade. Tudo depende da gestão da crise.

Mas desengane-se quem pense ser este mau estar da alta finança e, por força das circunstâncias da economia, transitório. Não. Este vai ser um de muitos outros. Económicas ou sociais as crises de transição para outro paradigma societal ou civilizacional estão ai para nos surpreender. Todos perderão algo nesta mudança mas muitos poderão ganhar. Isso pode não ser mau.
Mas quem se atreve agora a dizer que o mundo, tal como o conhecíamos, era perfeito? Portanto avancemos.