quinta-feira, dezembro 23
Funchal
Deixar o frio e ir para o ameno clima do Funchal é bastante interessante. Adeus frio, até ao próximo ano…
Se poder volto por lá a escrever.
Boas Festa!
segunda-feira, dezembro 20
Paradigma Urbano
As cidades do novo milénio. Livro a não perder para quem, como eu, se interessa pelas problemáticas urbanas. Myron Magnet, quem seleccionou este conjunto de artigos, publicados na City Journal. Esta revista trimestral tem sido, nos últimos anos, a “caixa de ressonância” do debate sobre politicas urbanas, politicamente incorrectas. Questões como a «segurança social», a «criminalidade», a «educação», os «sem abrigo», são abordados de uma outra perspectiva. Pouco dada ao tradicional discurso da “complexidade” que nos torna a todos inoperantes, estas análises, baseadas em questões concretas, com soluções aplicadas, abre-nos novos horizontes sobre velhos problemas das cidades. É obviamente sobre a realidade Americana, mas não deixa de reflectir os problemas que sentimos. A forma como se poderão resolver é que é distinta. Desta vaga de novas politicas urbanas Nova Iorque, foi a sua expressão mais visível. O seu Mayor, Rudy Giuliani – que se tornou mundialmente conhecido com a tragédia de 11 de Setembro e a forma enérgica como reagiu à catástrofe – foi um dos principais protagonistas desta “regeneração urbana”. O Compstat – departamento policial com uma abordagem activa e preventiva – foi o instrumento que esta cidade necessitava para fazer descer a criminalidade. Facto apontado como a principal causa da decadência de Nova Iorque. Em seis anos de implementação, a criminalidade geral caiu 50% e o assassínio para 1/3. Atacar a criminalidade permitiu o ressurgimento da actividade económica e o voltar de população para as zonas centrais da cidade. È obra.
A ideia de “cidades ingovernáveis”, que se espalhou durante as décadas de 70 e 80, tem vindo a ser abandonada graças a uma nova metodologia assente numa hierarquia de valores diferente. A actividade económica pode não florescer se o crime for impeditivo, por exemplo, por muito dinheiro que se gaste em recuperação urbana.
A não perder.
Da Quetzal Editores.
A ideia de “cidades ingovernáveis”, que se espalhou durante as décadas de 70 e 80, tem vindo a ser abandonada graças a uma nova metodologia assente numa hierarquia de valores diferente. A actividade económica pode não florescer se o crime for impeditivo, por exemplo, por muito dinheiro que se gaste em recuperação urbana.
A não perder.
Da Quetzal Editores.
Esperança
Este é um belo quadro de Gustav Klimt, pintado em 1903.
Chama-se Esperança I.
Nesta imagem o pintor mostra-nos a nudez alva de uma jovem mulher perplexa mas confiante. O Simbolismo do fundo negro povoado de figuras grotescas, vencidas, mas presentes, sempre, em contraste com a branca e frágil figura. Eis a maternidade na sua essência. A força da vida versus o medo que ela provoca. A vontade de dar “à luz” transporta consigo o receio. No entanto, não é isso a esperança?
Nesta época, o valor por esta pintura transmitido traz-me algum conforto…
sábado, dezembro 18
Portalegre
Portalegre
Estive ontem em Portalegre. Portugal está incrivelmente mais acessível. Setúbal -Portalegre em menos de 2 horas estava lá. Sem acelerar e com nevoeiro.
Esta cidade a norte do Alentejo está fora de rota. Os grandes eixos do “desenvolvimento” não passam por ali. Sendo uma cidade do interior e estando fora dos caminhos de ligação a Espanha tem vindo a perder importância económica há décadas. A demografia confirma-o.
Esta cidade é atípica no panorama alentejano, pois situa-se no cimo de uma serra – S. Mamede. A fisionomia da cidade histórica é de alguma dignidade revelando uma certa opulência económica decorrente da sua vida rural. O crescimento da cidade durante o Estado Novo é seguro e integrado. A transição das colinas para a planície cresceu pior. Ainda não está consolidada, mas, pela morosidade e crescimento lento a que foi sujeita, por contingências históricas, ainda poderá recompor-se.
Cá está mais uma cidade do interior – já antes aqui me referi a Évora - em que a instalação do Ensino Superior não chegou como vector de desenvolvimento e simultaneamente para fixar população. Outros caminhos vão ter de seguir para se afirmarem como pólo regional.
Em termos gastronómicos o prato típico é bem razoável e a comida tem sabor “caseiro”. O sentido é literal. O restaurante onde comi, perto da Câmara Municipal, tinha cerca de cinco pessoas sentadas enquanto almocei. Quase em família. Em todas as situações podemos encontrar vantagens, é saber aproveita-las.
Esta cidade a norte do Alentejo está fora de rota. Os grandes eixos do “desenvolvimento” não passam por ali. Sendo uma cidade do interior e estando fora dos caminhos de ligação a Espanha tem vindo a perder importância económica há décadas. A demografia confirma-o.
Esta cidade é atípica no panorama alentejano, pois situa-se no cimo de uma serra – S. Mamede. A fisionomia da cidade histórica é de alguma dignidade revelando uma certa opulência económica decorrente da sua vida rural. O crescimento da cidade durante o Estado Novo é seguro e integrado. A transição das colinas para a planície cresceu pior. Ainda não está consolidada, mas, pela morosidade e crescimento lento a que foi sujeita, por contingências históricas, ainda poderá recompor-se.
Cá está mais uma cidade do interior – já antes aqui me referi a Évora - em que a instalação do Ensino Superior não chegou como vector de desenvolvimento e simultaneamente para fixar população. Outros caminhos vão ter de seguir para se afirmarem como pólo regional.
Em termos gastronómicos o prato típico é bem razoável e a comida tem sabor “caseiro”. O sentido é literal. O restaurante onde comi, perto da Câmara Municipal, tinha cerca de cinco pessoas sentadas enquanto almocei. Quase em família. Em todas as situações podemos encontrar vantagens, é saber aproveita-las.
quarta-feira, dezembro 15
Previsibilidade e bom senso
A época que estamos a viver é estranha, nada do que é suposto acontecer, acontece. O presidente, em Junho, faz o que ninguém esperava, não dissolve o Parlamento. A meu ver bem. Reconduz um novo primeiro-ministro, mas dá a entender que este deveria manter a linha de rumo do anterior governo.
Este primeiro a primeira coisa que faz é mudar estruturalmente a orgânica do governo. Com todos os custos que isso tem na administração. Um atraso de meses entre a posse de um novo ministro e a nova aprovação da nova lei orgânica. De seguida, o primeiro-ministro fica instável com o problema da “legitimidade” pedida pela oposição. Tornando-se ele próprio no maior sintoma de instabilidade governativa, vendo-se na incubadora e mal tratado por todos, inclusive pelos seus, os tais “irmãos mais velhos” e restante família. Entretanto anuncia um “tempo novo” de que o orçamento do estado é o principal arauto.
O presidente resolve - a propósito de Chaves - então dissolver a assembleia, o que parecia inevitável, apesar do calendário não ser a melhor. O que o primeiro parece sentir como um alívio. Pelo menos passou a andar melhor encarado, menos acossado. Sorridente até. No entanto o presidente, pasme-se, quer ver aprovado este orçamento do estado. O principal instrumento político deste governo, aparentemente desgovernado. E por causa do aumento dos funcionários públicos. Despesa e não consolidação orçamental, como aparentemente defendia.
Não bastando o governo demite-se. A aliança não se faz, mas anuncia-se um acordo pós eleições no caso do PSD as ganhar.
Sinceramente, há alturas em que gostava de maior previsibilidade. Ou será apenas bom senso…
Este primeiro a primeira coisa que faz é mudar estruturalmente a orgânica do governo. Com todos os custos que isso tem na administração. Um atraso de meses entre a posse de um novo ministro e a nova aprovação da nova lei orgânica. De seguida, o primeiro-ministro fica instável com o problema da “legitimidade” pedida pela oposição. Tornando-se ele próprio no maior sintoma de instabilidade governativa, vendo-se na incubadora e mal tratado por todos, inclusive pelos seus, os tais “irmãos mais velhos” e restante família. Entretanto anuncia um “tempo novo” de que o orçamento do estado é o principal arauto.
O presidente resolve - a propósito de Chaves - então dissolver a assembleia, o que parecia inevitável, apesar do calendário não ser a melhor. O que o primeiro parece sentir como um alívio. Pelo menos passou a andar melhor encarado, menos acossado. Sorridente até. No entanto o presidente, pasme-se, quer ver aprovado este orçamento do estado. O principal instrumento político deste governo, aparentemente desgovernado. E por causa do aumento dos funcionários públicos. Despesa e não consolidação orçamental, como aparentemente defendia.
Não bastando o governo demite-se. A aliança não se faz, mas anuncia-se um acordo pós eleições no caso do PSD as ganhar.
Sinceramente, há alturas em que gostava de maior previsibilidade. Ou será apenas bom senso…
terça-feira, dezembro 14
Templo de Diana
Templo de Diana
Voltar a Évora é sempre um prazer. O “cheiro a Alentejo” é inebriante. Ter a possibilidade de comer uma verdadeira açorda, com bacalhau e ovo cozido retempera o dia, já de algum cansaço. Estando previsto mais, depois de almoço, soube a descanso merecido, a reencontro.
Atravessei a cidade a pé. Não só o centro histórico, mas para lá das muralhas. Évora cresceu bem. Cresceu devagar. Não foi sujeita ao crescimento avassalador das, actualmente denominadas, Áreas Metropolitanas. Dentro de muralhas é altamente compacta e densificada, como o são todas as grandes cidades históricas em Portugal. Mas fora destas cresce com espaço. Cheia de interstícios – deixados pelas propriedades ainda agrícolas, ou nem por isso mas apenas expectantes – entre os bairros. Todo o conjunto de casario é um bairro. Como toda a casa no campo é um “monte”. Estes bairros foram crescendo fora da “velha” urbe, mas vão-se adoçando ao longo de vias com dimensão contemporânea, continuando a construir a cidade. Renovando-a.
O que preocupa é a densidade, ou a falta dela. Os números não mentem e revelam uma diminuição constante da população escolar. Não estou a falar da universitária, mas do ensino básico e secundário. Começa a estar provado que não basta a universidade para puxar e manter população. São necessários outros “motores” de desenvolvimento para as cidades médias do interior. Estas, mesmo as patrimoniais, como é o caso, não vivem só de edifícios. Os seus habitantes são a sua maior riqueza. Sem eles fica só “ruína”.
Passar pelo templo de Diana deixa-me sempre uma perplexidade: é belo, mas os Romanos já não habitam lá…
Atravessei a cidade a pé. Não só o centro histórico, mas para lá das muralhas. Évora cresceu bem. Cresceu devagar. Não foi sujeita ao crescimento avassalador das, actualmente denominadas, Áreas Metropolitanas. Dentro de muralhas é altamente compacta e densificada, como o são todas as grandes cidades históricas em Portugal. Mas fora destas cresce com espaço. Cheia de interstícios – deixados pelas propriedades ainda agrícolas, ou nem por isso mas apenas expectantes – entre os bairros. Todo o conjunto de casario é um bairro. Como toda a casa no campo é um “monte”. Estes bairros foram crescendo fora da “velha” urbe, mas vão-se adoçando ao longo de vias com dimensão contemporânea, continuando a construir a cidade. Renovando-a.
O que preocupa é a densidade, ou a falta dela. Os números não mentem e revelam uma diminuição constante da população escolar. Não estou a falar da universitária, mas do ensino básico e secundário. Começa a estar provado que não basta a universidade para puxar e manter população. São necessários outros “motores” de desenvolvimento para as cidades médias do interior. Estas, mesmo as patrimoniais, como é o caso, não vivem só de edifícios. Os seus habitantes são a sua maior riqueza. Sem eles fica só “ruína”.
Passar pelo templo de Diana deixa-me sempre uma perplexidade: é belo, mas os Romanos já não habitam lá…
sexta-feira, dezembro 10
Desperdício
O desperdício é coisa que me aflige. O desperdício de dinheiros públicos mais ainda. Ainda mais de forma impune. Vem isto a propósito de uma entrevista dada pelo Dr. Eugénio da Fonseca, o Presidente da Cáritas Nacional e da Cáritas Diocesana de Setúbal, (no Jornal de Setúbal de 6 de Dezembro). Refere-se, este, ao impressionante esbanjamento de dinheiros públicos - no caso do Convento de São Francisco, em Setúbal – sem qualquer tipo de consequência. Lembro que este convento foi alvo de uma intervenção – ou antes, o terreno que lhe é contíguo, porque no edifício do convento, ainda nada foi feito para a sua recuperação – no sentido de retirar os seus ocupantes – realojados pelo programa PER – e de fazer um novo Colégio da Casa Pia. Ao tempo o primeiro-ministro era o Eng. António Guterres. No entanto, só recentemente foi, parcialmente realizado. Só nesta altura se percebeu que as instalações produzidas não servem para o propósito pretendido. Apesar de ser um projecto de raiz. No entretanto gastaram-se milhares de euros e, provavelmente, gastar muitos mais para o poder por a funcionar. Caso muito estranho. Mas apesar disto tudo, que eu tenha conhecimento, nenhum relatório da Segurança Social foi realizado para apurar o responsável, ou responsáveis, por tamanha irresponsabilidade. Agora está-se a tentar “encontrar” uma nova função para este novo elefante branco. Recordo que neste caso me parece ser a responsabilidade não só politica mas também técnico/administrativa. Mas nada disso importa. O que está feito, feito está, especialmente porque o dinheiro é de todos. Porque se fosse dos que tomaram esta decisão, provavelmente não acabaria assim.
Para corrigir estes procedimentos não é necessário aprovar nenhuma nova lei, basta vergonha e responsabilidade. E passar a entender os dinheiros públicos como nossos e não “deles”.
Para corrigir estes procedimentos não é necessário aprovar nenhuma nova lei, basta vergonha e responsabilidade. E passar a entender os dinheiros públicos como nossos e não “deles”.
quinta-feira, dezembro 9
Mudar de Vida
A vida é surpreendente. Sempre mais do que possamos pensar. Mesmo na mais rotineira das existências ela não deixa os seus créditos por mãos alheias. E uma vez por outra, lá prega uma partida, e o que pensávamos seguro, de repente deixa de o ser. Por esta razão – e por humildade metodológica – tenho sempre algum pudor em análises determinísticas. Tenho, por isso, alguma cautela com o excesso, próprio de tempos de viragem, mais condizentes, estes, com a lógica do seguidismo imediatista que com a reflexão. Necessariamente irmanada pela indispensável calma e ponderação individual.
Tal como no nosso percurso individual, esta intervenção exterior - a que chamei vida - apresenta-se também na dimensão colectiva.
Vivemos actualmente num tempo surpreendente - não é o mesmo que interessante - mas cheio de surpresas inquietantes. Julgávamo-nos plenamente “integrados” nesta Europa, já comodamente instalados. Eis senão quando, nos apercebemos que no essencial ainda muito está por mudar.
Penso que estamos – no nosso caminho enquanto nação – numa nova fase de crescimento. Sem o percebermos muito bem, procuramos decidir a que universo de referências queremos pertencer – ao Europeu ou ao Africano.
Talvez hoje, e após muito séculos, estejamos de novo confrontados connosco próprios. Sem álibi, nem lugar para onde fugir. Estamos obrigados a decidir o que pretendemos fazer.
Pertencer à Europa foi uma viragem histórica sem precedentes. Mas, enquanto inicialmente, se encarou como uma nova forma de enriquecimento fácil. Agora estamos a perceber que é um caminho mais duro. Definitivo, ou pelo menos longo e aparentemente sem retorno. Gostamos do conforto mas custa-nos organizá-lo. Queremos ser “civilizados” e cumpridores, mas sempre que isso não nos afecte. Porque quando nos toca a nós é sempre “injusto” e tendencioso, “então e eles”? E “eles” são sempre os outros: os que são poderosos; os políticos; os ricos; os famosos; etc.
O esforço produzido até agora não me parece estar em causa. Mas penso que estamos num caminho sem volta. Temos que mudar. E mudar colectivamente. Uns com os outros e dentro do nosso país. Não nos resta mais nada senão, melhorar as nossas fraquezas e os nossos defeitos. E isso dói. No entanto, quanto mais longa for a demora, para corrigir o que está mal, mais tempo temos que sofrer.
O Fado é uma das canções nacionais, mas sinceramente, não julgo que sejamos masoquistas.
Tal como no nosso percurso individual, esta intervenção exterior - a que chamei vida - apresenta-se também na dimensão colectiva.
Vivemos actualmente num tempo surpreendente - não é o mesmo que interessante - mas cheio de surpresas inquietantes. Julgávamo-nos plenamente “integrados” nesta Europa, já comodamente instalados. Eis senão quando, nos apercebemos que no essencial ainda muito está por mudar.
Penso que estamos – no nosso caminho enquanto nação – numa nova fase de crescimento. Sem o percebermos muito bem, procuramos decidir a que universo de referências queremos pertencer – ao Europeu ou ao Africano.
Talvez hoje, e após muito séculos, estejamos de novo confrontados connosco próprios. Sem álibi, nem lugar para onde fugir. Estamos obrigados a decidir o que pretendemos fazer.
Pertencer à Europa foi uma viragem histórica sem precedentes. Mas, enquanto inicialmente, se encarou como uma nova forma de enriquecimento fácil. Agora estamos a perceber que é um caminho mais duro. Definitivo, ou pelo menos longo e aparentemente sem retorno. Gostamos do conforto mas custa-nos organizá-lo. Queremos ser “civilizados” e cumpridores, mas sempre que isso não nos afecte. Porque quando nos toca a nós é sempre “injusto” e tendencioso, “então e eles”? E “eles” são sempre os outros: os que são poderosos; os políticos; os ricos; os famosos; etc.
O esforço produzido até agora não me parece estar em causa. Mas penso que estamos num caminho sem volta. Temos que mudar. E mudar colectivamente. Uns com os outros e dentro do nosso país. Não nos resta mais nada senão, melhorar as nossas fraquezas e os nossos defeitos. E isso dói. No entanto, quanto mais longa for a demora, para corrigir o que está mal, mais tempo temos que sofrer.
O Fado é uma das canções nacionais, mas sinceramente, não julgo que sejamos masoquistas.
quarta-feira, dezembro 8
A Costa dos Murmúrios
É um filme triste. Honesto. No olhar, de uma mulher de “magala”, em fim de festa, que transmite. Fez-me compreender um outro lado da fase final da nossa colonização africana. Menos romântico, sem dúvida mas importante para a história. O da mulher que espera, com esperança, ou sem ela, o regresso. De uma outra vida, ou da morte.
Consigo perceber, hoje, melhor o convívio e a entrega permanente entre todas as pessoas, que ouvi nas histórias de família. A abertura de espírito e de hábitos é, num meio hostil uma resposta quase inevitável. Sem ninguém conhecido por perto todos se tornam mais abertos e tolerantes. A convivência torna-se uma fuga ao desenraizamento forçado ou desejado. O filme toca tudo isto mas numa perspectiva de desencanto, de desalento. Os protagonistas – um casal jovem e universitário – que se encontra com a guerra. Ele soldado na frente de batalha, ela recém casada e sozinha num território que começava a não ser “nosso”. As adversidades da vida e da guerra, acabam por fazer o resto… e o enredo não acaba bem.
Africa não foi só isto. Significou para muitos um encontro com outros horizontes, mesmo para os que foram para a guerra. Uma lufada de ar fresco, na vida mesquinha e sem perspectivas, em que a generalidade da “metrópole” vivia. Outra claridade e também uma noite mais escura. Terra de contrastes, mas de fascinante. Para muitos significou uma perspectiva de vida melhor, apesar da guerra. Essa era no essencial a minha percepção aquilo que os meus me contaram. Regressado com dois anos e meio, a minha memória desses tempos é a memória dos outros. Sendo dos outros e contada a uma criança a narrativa dos factos tende a ser “dourada” e romanceada. Omitem-se os medos e as perplexidades.
Africa não foi só isto. Significou para muitos um encontro com outros horizontes, mesmo para os que foram para a guerra. Uma lufada de ar fresco, na vida mesquinha e sem perspectivas, em que a generalidade da “metrópole” vivia. Outra claridade e também uma noite mais escura. Terra de contrastes, mas de fascinante. Para muitos significou uma perspectiva de vida melhor, apesar da guerra. Essa era no essencial a minha percepção aquilo que os meus me contaram. Regressado com dois anos e meio, a minha memória desses tempos é a memória dos outros. Sendo dos outros e contada a uma criança a narrativa dos factos tende a ser “dourada” e romanceada. Omitem-se os medos e as perplexidades.
Este filme trouxe à nossa memória colectiva a tristeza daquela circunstância. E essa não se conta a uma criança. Depois de tantos anos, penso que já estamos maduros para a aceitar. Já sem nostalgia ou ódios - entre os que ficaram e os que retornaram - outros entendimentos sobre a nossa relação com África são agora possíveis e desejáveis. Penso que estamos mais crescidos para começar a ajustar contas com o passado. Este filme é disso prova.
A não perder.
A não perder.
domingo, dezembro 5
Já passaram 24 anos
O tempo começa a sentir-se. O estado do tempo e o tempo que já passou.
É verdade, já passaram vinte e quatro anos. Estava na Praça do Bocage, em Setúbal, fazia muito frio, tal como hoje. E como hoje sentia a perplexidade sobre o futuro. A força da vida interrompida, num momento tão determinante para o país, deixava-nos a todos com medo. Só tinha dez anos em 1980. O desespero da perda, ainda hoje guardado na minha memória, sentia-se com o avançar dos rumores do que minutos mais tarde se confirmaria. Centenas de rostos a chorar compulsivamente naquela praça, não são fáceis de esquecer, para uma criança que, pela mão do seu pai, se cruzava com a história naquele momento, sem o saber. A morte de Sá Carneiro veio confirmada pela voz de Soares Carneiro, então candidato presidencial. O primeiro-ministro era esperado em Setúbal, mas não foi assim que o destino determinou. O caminho foi bruscamente interrompido. As expectativas eram grandes sobre o futuro do país. E estas foram quebradas com a queda daquele avião. A tragédia marcou esse tempo.
O tempo, hoje, para além de frio, no resto, a comparação é …cómica.
É verdade, já passaram vinte e quatro anos. Estava na Praça do Bocage, em Setúbal, fazia muito frio, tal como hoje. E como hoje sentia a perplexidade sobre o futuro. A força da vida interrompida, num momento tão determinante para o país, deixava-nos a todos com medo. Só tinha dez anos em 1980. O desespero da perda, ainda hoje guardado na minha memória, sentia-se com o avançar dos rumores do que minutos mais tarde se confirmaria. Centenas de rostos a chorar compulsivamente naquela praça, não são fáceis de esquecer, para uma criança que, pela mão do seu pai, se cruzava com a história naquele momento, sem o saber. A morte de Sá Carneiro veio confirmada pela voz de Soares Carneiro, então candidato presidencial. O primeiro-ministro era esperado em Setúbal, mas não foi assim que o destino determinou. O caminho foi bruscamente interrompido. As expectativas eram grandes sobre o futuro do país. E estas foram quebradas com a queda daquele avião. A tragédia marcou esse tempo.
O tempo, hoje, para além de frio, no resto, a comparação é …cómica.
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