O Papa surpreende na visita oficial à Turquia apoiando a sua entrada na Comunidade Europeia. É a prova que um Papa é diferente de um Cardeal, apesar de existirem na mesma pessoa. A mudança de visão sobre este problema operada de Joseph Ratzinger para Bento XVI é também reflexo que, para novas realidades, são necessárias novas respostas. Os tempos são outros. E a "função" da religião não pode reduzir-se à "espada". Pode, e deve, ser o anúncio da "pomba".
Optar pela Turquia para falar a todo mundo árabe moderado - não esquecer que este país é um Estado de maioria muçulmana laico - e defender a sua integração na “Europa Cristã”, é um sinal certo dado para a construção de uma paz duradoira na Europa. Podendo ajudar a distender a relação entre o ocidente e o médio oriente.
Não esquecer que o propósito primeiro da Comunidade Europeia foi o de “construir a paz”. A dimensão económica surge como instrumento desse objectivo. Um facto histórico um pouco esquecido no meio deste “economês” vigente e de vistas curtas que hoje impera.
Não sabemos se esta alteração de Bento VI em relação ao Cardeal se operou por providência divina, mas que vai no sentido certo da história é, para nós claro.
Bem-haja.
Não sabemos se esta alteração de Bento VI em relação ao Cardeal se operou por providência divina, mas que vai no sentido certo da história é, para nós claro.
Bem-haja.
6 comentários:
Paulo,
Uma pequena nota: a frase ficaria mais correcta se dissesses falar para um mundo muçulmano moderado e não "árabe", como escreves. É que os turcos não são árabes nem estes últimos constituem a maioria entre os seguidores de Maomé.
Sobre a adesão da Turquia, eu tenho as minhas reservas; neste assunto tem primado o politica/ correcto.
Se estivermos numa comunidade pós-moderna, fundada apenas no primado do Lei e da Democracia, podem entrar todos, independe/ da geografia, desde que cumpram esses critérios. Mas a noção de Europa dilui-se numa outra coisa (e porque não Marrocos ou a Rússia?).
E a notícia ainda está por confirmar. Ainda não ouvimos da boca do Bispo de Roma ou de uma qq figura eclesiástica investida dessa autoridade.
Eu deixaria assentar a poeira para então ver melhor.
Continuamos, Paulo Pisco a querer construir uma "Europa" sem referendos!
Eu não sou contra uma «comunidade europeia», mas já tenho grandíssimas reservas a uma "União Europeia"! E se falarmos da Turquia ainda muito mais. Aliás esse é um problema que a própria Europa terá de reflectir. A maior parte do território turco é asiático e se a UE quiser estender as suas "fronteiras" terá de criar outros estatutos para esses países. Então e Israel? Ou alguns países do magrebe? Já agora!!!
Luís, relativamente ao primeiro comentário tens toda a razão. De facto a Turquia, apesar de ser um Estado multi-étnico (onde também existem árabes, curdo, etc,) é mais correcto falar em Muçulmanos. Mas a relação mais problemática, parece-me, ser mais direccionada ao médio oriente. E nesse sentido ao mundo árabe.
Relativamente ao que penso sobre a adesão Turca poderás ver o que escrevi em….
No que diz respeito à posição do Papa, parece o tempo já a ter clarificado.
No que diz respeito às dúvidas enunciadas pelos meus dois interlocutores relativamente aos “limites” geográficos e culturais, penso que a Turquia não é igual a nenhum dos casos apontados como possíveis exemplos de alargamento. Quer por razões históricas, quer por razões político estratégicas. A Turquia tem sido um aliado da Europa num passado recente (membro da NATO) tem vontade de pertencer ao mundo “ocidental” e foi, por oposição histórica ao “Império Persa” o responsável pela não hegemonização do mundo Islâmico (do médio oriente) que poderia ter sido trágico para a Europa “cristã” tal como a conhecemos hoje.
Neste sentido recomendo a leitura de “ O Médio Oriente e o Ocidente – O que correu mal” de Bernard Lewis ( Gradiva, 2003)
Paulo,
De facto, a Turquia é multiétnica, mas enquanto Estado não se vê dessa forma. Por exemplo, não reconhece a identidade curda, o direito deste povo enquanto nação no seio do Estado Turco (não estou a falar em independência ou separatismo); quem se refira ao povo curdo nestes termos arrisca-se a uma pesada pena de prisão.
Importa ainda dizer que o laicismo implementado por Kemal Atatürk ainda hoje é uma espécie de despotismo iluminado. Foi criado a partir de cima, pelo Estado, e só é sentido por alguns sectores da sociedade. A instituição militar é a fiel depositária deste laicismo.
Também li “O que Correu Mal”, de Bernad Lewis, um bom livro sem dúvida, embora o prestígio deste orientalista tenha sofrido alguma erosão nos tempos mais próximos (considerações risíveis sobre as sociedades muçulmanas e a forma como os americanos iriam ser acolhidos no Iraque). Mas não percebo onde vais buscar essa ideia de que a Turquia constitui a última fronteira contra “o império persa (não me recordo dela no livro de lewis). Ó Paulo, há muito que não existe império persa, eu diria que desde a antiguidade clássica.
É bom recordar a História: o Império Otomano nunca conseguiu absorver a região que hoje tem, mais ou menos, os contornos geográficos do Irão. Neste sentido, eram os persas que constituíam “a última fronteira” contra a hegemonia otomana, e foram nisso apoiados por venezianos e austríacos.
E nos dias de hoje não me parece que possamos ver o Irão à imagem de um “império Persa”. O Irão não ambições territoriais, tem sim ambições políticas na região. E constituir-se como potência regional está, Paulo, muito longe de um rico império. O projecto nuclear dos persas é tb entendido como seguro de vida do regime, em particular contra um ataque preventivo dos EUA (tivesse o Iraque as célebres armas de destruição maciça, e provavelmente não seria invadido).
Agradeço a aula de história. Mas talvez não me tenha explicado bem. Vou tentar novamente.
Então, como agora, as alianças entre Estados eram feitas com quem oferecia mais garantias e protecção aos interesses de cada um. A “realpolitik” não é invensão recente. Tal como Portugal procurou aliança com a Inglaterra, por ambos estarem do, quase sempre do “outro lado” relativamente aos interesses de Espanha. É obvio que a “venezianos e austríacos” interessava manter os Turcos na ordem. Porque, então, eram eles a ameaça aos seus interesses. E lamento informar-te, Luís, mas foram os “interesses”, mesmo durante o século (XX) das ideologias, que comandaram as politicas entre os Estados.
Agora é justamente o contrário. A Turquia quer ser Europeia – pormenor relevante – e tem tido um comportamento de “proximidade” ao mundo ocidental ao longo das últimas décadas. E por muito que doa a alguns, ou o queiram esquecer, mesmo durante a “cortina de ferro”, eles estiveram ao lado do “Ocidente”. O lado certo, não?
Justamente por isso penso que deve ser dada uma oportunidade ao turcos, porque eles querem, de se ocidentalizarem (no melhor sentido da palavra) para provar que o mundo Muçulmano não tem de estar envolto na tirania e/ou na miséria. Servindo isso para nos proteger e tornar mais “plural” o espaço europeu. Existe a hipótese de não dar certo? É verdade. Mas não apenas por causa da Turquia. A Europa não pode é deixar de ser o lugar da paz. E para isso é fundamental, no meu ponto de vista a entrada da Turquia neste espaço.
Quanto ao resto são lérias, mais ou menos, intelectualizadas ou historicizadas.
O que Lewis nos permite perceber é, justamente, a importância que teve para a sobrevivência da Europa Cristã, existirem divisões no mundo Islâmico do Médio Oriente. Tão só.
Relativamente ao despotismo iluminado é verdade, mas existe hoje, muita gente na Turquia que vive como nós o seu dia a dia. Já tive duas colegas turcas que me demonstraram isso mesmo. “Ajudar” este Estado a vir para o “nosso lado” parece-me positivo e necessário.
Um abraço.
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