sexta-feira, setembro 9

Sondagens

No Margens de Erro analisam-se duas sondagens sobre as presidenciais onde se refere no último paragrafo:
" Para mim, perturbante: que a maioria dos eleitores (quer os que tencionam votar Cavaco, quer Soares, quer todos os outros) achem que o Presidente deva ter mais poderes ou que deva intervir na vida política do dia-a-dia para "ajudar a resolver os problemas do país" (72%). Quando se acha que os problemas do país se resolvem de Belém, isso significa que se acha que as instituições que de facto deviam governar e legislar estão bloqueadas. A importância inusitada que a comunicação social e os comentadores têm vindo a dar as presidenciais de há dois anos para cá é sintoma disto. Mas que isto fosse assim durante o consulado de Santana Lopes, ou mesmo antes, não me surpreende muito. Agora que se continue a achar isso quando um governo dispõe de uma maioria absoluta só posso ver como mau sinal. "
Na nossa modesta opinião a questão não é meramente conjuntural como sugere Pedro Magalhães. Não se trata de existir ou não estabilidade governativa. O problema coloca-se, ao nível do descrédito das instituições.

O regime democrático criou demasiadas expectativas em relação à possibilidade de mudança de alguns problemas estruturais da nação. A construção colectiva de um futuro comum, por contraposição ao mito do “timoneiro” que traçou o nosso caminho individualmente por mais de 4 décadas, esgotou-se rapidamente.

As instituições e as organizações continuam a funcionar muito mal. Apesar de todo o “desenvolvimento” das últimas décadas, esta dificuldade estrutural mantém-se. A mediocridade partidária não ajudou a modificar esta realidade, agravando mesmo o sentimento geral de incapacidade colectiva na resolução de problemas comuns.

Perante a incapacidade institucional e organizacional o sistema funciona mal e quando funciona bem deve-se na maioria das vezes a valores individuais ou mais restritos, normalmente debaixo de uma forte liderança. Por exemplo, quando se pensa distinguir um hospital, não se vêm grandes diferenças, mas dentro destes consegue-se distinguir um bom médico ou uma boa equipa.

O sentimento geral é de desconfiança em relação ao que é colectivo o que tem vindo a gerar uma nostálgica vontade de regressar à individualidade que nos poderá “salvar”, nem que seja só da nossa própria responsabilidade.

E essa nostalgia só nos poderá fazer regressar ao passado.

2 comentários:

Anónimo disse...

Resta saber se esse regresso será bom ou mau. No passado, esta espécie de sebastianismo político já nos trouxe alguns dissabores. De qualquer forma, estas eleições deviam ser aproveitadas para se discutir com seriedade a questão dos poderes presidenciais. Resta convencer os partidos a entrarem nessa discussão, pois, em última instância, é ao Parlamento que cumpre mudar a Constituição.

paulo pisco disse...

O que tememos com o retorno do mito “sebastianista” é ser apenas uma forma de desresponsabilização colectiva face à necessidade de mudar e melhorar em relação aos nossos principais problemas estruturais. Será sempre mais fácil apontar a nossa mediocridade a alguém e quanto mais concreto melhor.

Não sabemos se a mera discussão dos poderes presidenciais será fundamental para atacar esses problemas. Não será apenas mais uma maneira de fugir à colectiva responsabilidade de mudar o que tem que ser mudado. E mesmo do ponto de vista do sistema político existem outros aspectos – muitos deles há tantos anos falados mas não concretizados – que seriam prioritários. Não lhe parece?